A PÉTALA DO GRITO
Da onda que se espraia
Àquela que a seguir vem,
A areia esvai-se e desmaia
Na espuma de que é refém
Pra coar o próprio grão,
Que o tempo também voa
Sem vento, como a ilusão:
Onda que vai da ré à proa
A varrer as tábuas do chão.
E a balançar discreto
O ser abraça a prancha,
Que por esp’rança aperto
Até se tornar na lancha
Que me devolva à terra,
Tal como faz a ondina
Que vence o coral e não erra
O desmaio na areia fina.
Na volúpia sedosa
De imaculado granito,
Com que o mar lava a rosa
Pla pétala do grito.
Joaquim Maria Castanho
13.08.2023