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Viver é partilhar odeio a solidão
A grilheta da morte quer-me reter ainda
Já não beijo ninguém como beijava dantes
O pão era sinal de ser feliz
O bom pão que nos torna mais quente o nosso beijo
Como abrigo possível só há o mundo inteiro
Pra mim viver é hoje responder aos enigmas
É renegar a dor que é cega de nascença
E sempre em pura perda estrela sem qualquer brilho
Viver perde-se para reencontrar os homens
Que a palidez do rio encubra a do arroio
Que olhos de maravilha vejam tudo em seu lugar
A miséria acabada e os olhares lavados
Uma ordem crescendo do grão à flor à árvore
Andaimes vivos a sustentar o mundo
A criança a renascer em cada homem e rindo.
in PAUL ÉLUARD
Poemas Políticos
Prefácio de LOUIS ARAGON
Trad. Carlos Grifo
Col. Forma / Editorial Presença
(Pág. 41)