OMBRO A OMBRO
Quando a sombra desliza perturbante
Ombro a ombro vem sem ferir, magoar
Entre as frestas da penumbra secular,
É a fantasia de um sonho distante
Esboçando promessa de lesto chegar.
É a magia do desejo traçando secante
Ao interno novelo que enleia as preces,
Transformando o longe num instante
Em que te fazes autêntica... E apareces.
É o fulgor dum flashback desejado
A enobrecer a realidade, pondo amor
Inesperado no acaso tornando torpor...
Mas também é o semáforo apagado
Frente à zebra que queres transpor
E que à ousadia sempre aplica temor,
Empresta a cada jeito ensimesmado.
Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade