NEGAÇÃO DA SANIDADE
Já não temo a solidão
Nem receio morrer sequer,
Pois meu medo é teu não
E não outro não qualquer…
Supus, por deixar de te ver
Ser capaz d'esquecer também
O teu sorriso, a tua voz
Sem igual a mais ninguém,
Mas ora fiquei a saber
Que não há forma de perder
Quem está vincado em nós,
Quem ouvimos no caminho
(Micro-eco sem entrave
Nas ondas do vento suave)
Que fazemos para fugir
(Mas saudade agrave…),
Estrela em que m'aninho
Insiste ser a casa cinco
Sublinhado sulco, vinco
Por favor não digas não
Outra vez, que de morrido
Ficarei vivo, mas ficção
Personagem sem coração,
Tão rendido, tão sofrido
Que prà vida 'tou perdido…
– Da sanidade negação!
Não temo ser descoberto
Nem me saberem cativo,
Mas tão-só não ter-te perto
Cada segundo que vivo.
Joaquim Maria Castanho