9.17.2015

ARMADILHA EM ZARKASS



Capítulo I

Pelo que sabemos, existe somente uma raça capaz de rivalizar com o Homem. Todos o compreenderam já: trata-se dos Triângulos. 
Para dizer a verdade, pouco se sabe destes seres. Nunca foram vistos em carne e osso (se é que eles têm mesmo carne revestindo ossos). Chamam-lhes Triângulos em virtude da forma das suas naves, essas grandes asas deltoides que vagueiam na constelação de Centauro e por vezes fazem incursões para os lados de Plutão, nos confins do nosso sistema. 
Não sei quais são as bases em que apoiam os sábios para afirmarem que os Triângulos vêm de Arcturus. Será bem esperto aquele que conseguir provar o contrário. 
Tentou-se outrora comunicar com eles por meio dos sinais clássicos e simples do Código Preliminar, o abecedário das relações com as raças desconhecidas. Nunca se dignaram dar resposta. 
Quatro ou cinco vezes tentaram os nossos foguetões alcançar os aparelhos. Mas não conseguiu apanhá-los, mantendo-se sempre a uma distância de 217 km. E porquê duzentos e dezassete quilómetros? Este número corresponde talvez a uma medida fixa do seu sistema, medida adotada como limite de prudência em relação a nós, Homens. A esta distância, desaparecem muito simplesmente com a brevidade de uma bolha de sabão que rebenta.
Supõe-se que eles passam pelo subespaço. Nisso parecem muito mais fortes do que nós. 
A partir de então cruzámos com eles sem os saudar. Penso que não dão qualquer importância a isso: mas há já quarenta anos que dura o arrufo. 
Pensa-se que esta situação não se pode prolongar. Há pouco tempo os habitantes de Zarkass tomaram uns ares fanfarrões e puseram-se a falar de uns aliados potentes e misteriosos. 
Não conhecem Zarkass? É o planeta número sete de Alfa-Centauro, com uma atmosfera parecida com a nossa, sendo a espécie dominante vagamente humanoide. Teoricamente livres, os zarkassianos estão, praticamente, sob o nosso protetorado. É por isso que as suas fanfarronices e os seus ares misteriosos nos não agradam nada. E nós sabemos pelos nossos agentes que os Triângulos aterram com regularidade em Zarkass desde há três meses. Nestas condições não é difícil adivinhar quais são os aliados dos zarkassianos.  
Que os Triângulos nos ignorem, enfim! Que se passeiem à vontade nos nossos dois sistemas, é demais! Embora isso seja muito desagradável...  mas que nos comam as papas na cabeça para concluírem acordos com Zarkass, isso é que não. 

Mas vejo agora que ainda não me apresentei: 
Chamo-me Laurent; nasci em Fobos há vinte e oito anos. Neste momento, estou em missão geológica em plena selva zarkassiana. Ora os meus conhecimentos de geologia chegam só para distinguir um tijolo duma pedra-pomes! 
Na realidade a minha missão é muito especial. A geologia serve somente de pretexto. Há quinze dias que patinho no lodo, correndo risco de apanhar febres. Finjo que coleciono pequenos calhaus, mas estou à espera. 
Mas à espera de quê? Do Triângulo que deve daqui a pouco despenhar nas colinas de Chatang, com toda a aparência dum acidente estúpido. Mas eu sei muito bem que os raios emitidos pelos nossos satélites desempenharão um papel muito importante nesse acidente. Que raios? Não me perguntem nada sobre isso. Não sou mais forte em eletrónica do que em geologia. Não me confiaram esta missão devido aos meus conhecimentos científicos, mas em razão do meu caráter enérgico e decidido, das minhas qualidades físicas de excelente animal de combate, por ser um duro... 
Obrigado! 
Quanto à eletrónica, forçoso vos será dirigirem-se ao ruivo grandalhão, que está além em baixo. É aquele que tem as botas mergulhadas no ribeiro e anda a apanhar seixos redondos. Dá-se a esse trabalho para enganar os carregadores indígenas.  

in STEFAN WUL
ARMADILHA EM ZARKASS
(Págs. 7, 8 e 9)

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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