O
RELÓGIO DE AREIA
Está
bem que se meça com a dura
sombra
que uma coluna pelo estio
arroja
ou com a água desse rio
em
que Heráclito viu nossa loucura.
O
tempo, já que ao tempo e que ao destino
se
assemelham os dois: a imponderável
sombra
diurna e o curso irrevogável
da
água que prossegue o seu caminho.
Está
bem, mas o tempo nos desertos
outra
substância achou, branda e pesada,
ou
parece ter sido imaginada
para
medir o tempo dos defuntos.
Surge
assim o alegórico instrumento
das
gravuras de muitos dicionários,
a
peça que os pardos antiquários
relegarão
ao mundo pardacento.
JORGE
LUIS BORGES