Envolveu milhões de pessoas em 148 países e foi coordenado por um português: o Ano Internacional da Astronomia vai despedir-se de Portugal com um dia de celebrações na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Foi o maior evento de divulgação científica de sempre, envolvendo a participação de milhões de pessoas em centena e meia de países. O Ano Internacional da Astronomia vai terminar em Portugal com um dia de comemorações na Fundação Calouste Gulbenkian. A sessão de encerramento terá lugar no dia 17 de Março, a partir das 18 horas. A entrada é livre.
"O Ano Internacional da Astronomia foi o maior evento de divulgação científica jamais realizado. Envolveu 148 de países e mobilizou milhões de pessoas. Esta mobilização foi um empreendimento organizacional de relevo e teve um extraordinário impacto educacional. Dar a conhecer, em primeira mão, a maravilhosa trama de fenómenos que têm lugar no Universo é a mais eficiente forma de combater a ignorância, os dogmas de natureza ideológica e religiosa, e a intolerância", reconhece Orfeu Bertolami, o astrónomo do Instituto Superior Técnico que vai conduzir a sessão de encerramento, dedicada ao presente e ao futuro da Astronomia em Portugal.
Ao todo, em território nacional, as celebrações do Ano Internacional da Astronomia (AIA2009) resultaram na realização de duas mil iniciativas ao longo de um ano, em mais de 300 cidades, vilas e aldeias, num evento em que colaboraram mais de 440 instituições e três mil pessoas, na sua maioria voluntários.
"E o que fica depois do Ano Internacional da Astronomia? Antes de mais notemos que se construíram no terreno centenas e centenas de parcerias entre diferentes instituições, com vista à celebração do AIA2009. Esta é uma excelente janela aberta sobre futuras colaborações. O AIA2009 foi um extraordinário exemplo de dinamismo da sociedade, já que muitas das actividades tiveram origem a nível local. A Comissão Nacional está já a trabalhar para manter este legado", garante o presidente da Comissão Nacional do Ano Internacional da Astronomia, João Fernandes.
E o que podemos esperar da Astronomia portuguesa? "A comunidade dos astrónomos em Portugal é altamente qualificada e a sua contribuição para o corpo do conhecimento nas várias áreas da investigação astronómica é muito relevante. Poderíamos destacar as seguintes: física solar, dinâmica estelar, dinâmica galáctica e de enxames galácticos, núcleos activos de galáxias. Portugal é particularmente forte na recente ciência de detecção de planetas extra-solares e em cosmologia. Um estudo recente ( http://arxiv.org/abs/physics/0612066 ) revela que, nesta última área, a investigação realizada em Portugal, na Europa só fica atrás, em magnitude e impacto médio, à desenvolvida nos quatro grandes países (Alemanha, França, Itália e Reino Unido) ", revela Orfeu Bertolami.
De resto, segundo o investigador do Instituto Superior Técnico, o trabalho desenvolvido em Portugal sobre problemas envolvendo a energia escura e a matéria escura tem tido também um "impacto assinalável" a nível global.
"Portugal está também a dar os primeiros passos, podendo assim destacar-se, na radioastronomia, com a participação no Polarized Galactic Emission Mapping Project, um projecto global liderado pelo Prémio Nobel de Física George Smoot, que consiste em 'ouvir' a nossa galáxia através duma antena localizada na Pampilhosa da Serra", explica.
Quanto ao impacto do Ano Internacional da Astronomia, Orfeu Bertolami elogia a adesão da comunidade científica, das instituições e do público português. "Em Portugal, o Ano Internacional da Astronomia permitiu a um público alargado conhecer a ciência que estuda o Universo. Com base nesta extraordinária experiência, é expectável que haverá um maior interesse dos jovens (e não só) pela astronomia, mas também pelas ciências em geral", reconhece.
"Contudo, há que se salientar que despertar o interesse das pessoas tem a si associado uma grande responsabilidade. Cidadãos com níveis de literacia científica mais elevada, exigem melhores universidades, instituições mais eficientes, uma sociedade mais dinâmica e criativa, cientistas, políticos, jornalistas e profissionais mais qualificados e capazes. Sob este ponto de vista o Ano Internacional da Astronomia foi também um meio de intervenção social, e devemos estar prontos para os novos desafios que se abrem. Temos que garantir a continuação dos projectos que foram iniciados com e pelo AIA 2009", defende Orfeu Bertolami.
O Ano Internacional de Astronomia ( http://www.astronomia2009.org/ ) é organizado em Portugal pela Sociedade Portuguesa de Astronomia, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, da Agência Ciência Viva e da European Astronomical Society (EAS).
"A Astronomia no Portugal de Hoje"
No dia em que se celebra o encerramento do Ano Internacional da Astronomia em Portugal, a Gulbenkian vai inaugurar uma exposição que pretende cativar os mais novos para a investigação em Astronomia.
Comissariada por António Pedrosa, director do Planetário de Espinho, a exposição "A Astronomia no Portugal de Hoje" pretende informar o público sobre os mais recentes desenvolvimentos em Portugal da ciência que estuda os astros, tanto a nível da investigação, como da divulgação científica. A visita à exposição, que integra material cedido pelo Observatório Europeu do Sul, é gratuita.
"Por outro lado, aborda-se o tema do ensino e investigação em Astronomia, onde se pode aprender astronomia, onde se pode seguir uma carreira em Astronomia, onde se faz investigação científica e com que ferramentas os astrónomos portugueses tem contado para fazer essa investigação", avança António Pedrosa. "Esta iniciativa dirige-se ao público em geral, não especialista em astronomia. Está sobretudo pensada para os mais novos que muitas vezes sonham com os astros e estão numa fase de maturação e pretendem escolher uma carreira para o seu futuro. A Astronomia por ser uma ciência aglutinadora de tantos saberes acaba por ser muito cativante", sublinha.
Para António Pedrosa, em Portugal, a Astronomia é uma ciência "com muita gente altamente competente," quer na investigação, quer no ensino ou na divulgação. "A nível da investigação, é uma das áreas onde os artigos (estudos) publicados tem mais impacto internacional. No ensino somos dos países do mundo onde mais Astronomia é ensinada nas escolas", frisa.
Segundo o cientista, doutorado em Astrofísica Estelar, o Ano Internacional da Astronomia mostrou, de resto, "uma comunidade organizada, que se começou a preparar com quase dois anos de antecedência um conjunto enorme de iniciativas tendo havido uma excelente adesão do público". Por outro lado, sublinha, "ter sido um português [Pedro Russo] o Coordenador Internacional do Ano Internacional da Astronomia não pode deixar de ser um motivo de orgulho para o país".
A exposição "A Astronomia no Portugal de Hoje" ficará patente na Gulbenkian durante oito dias.
400 anos depois, Portugal traduz primeira obra de Galileu
É uma das obras mais relevantes na história do pensamento ocidental: "Sidereus Nuncius. O Mensageiro das Estrelas", publicado em Março de 1610, é o primeiro livro de Galileu Galilei a ser traduzido integralmente em Portugal. Com tradução e anotações de Henrique Leitão, vai ser lançado na sessão de encerramento do Ano Internacional da Astronomia.
"É um livro único na história da ciência e uma das obras mais importantes em toda a história do pensamento ocidental. Nunca na história da ciência uma obra provocou tanta comoção e deu origem a debates tão acesos como este", avança o investigador e tradutor, Henrique Leitão."O título, 'Mensageiro das Estrelas' (ou 'Mensagem das Estrelas', porque o latim permite as duas formas) tem o sentido de "Gazeta das Estrelas" ou "Mercúrio das Estrelas", isto é, tem uma clara conotação jornalística: relatar, em tom vivo e rápido acontecimentos e observações sensacionais", explica Henrique Leitão. Segundo o investigador do Centro de História das Ciências da Universidade de Lisboa, Galileu refere-se muitas vezes ao livro como um 'Aviso Astronómico', exactamente com o mesmo sentido. "Ou seja, Galileu escreveu para causar sensação",reconhece.
Com nota de abertura do investigador belga Sven Dupré, um dos maiores especialistas mundiais no telescópio de Galileu, o livro integra um estudo e a tradução de Henrique Leitão, uma cronologia e ainda um facsimile integral da edição original do "Sidereus Nuncius", de 1610.
Investigador e professor na Universidade de Lisboa, Henrique Leitão é coordenador da comissão científica responsável pela publicação das "Obras de Pedro Nunes", pela Academia das Ciências de Lisboa e pela Fundação Calouste Gulbenkian. Colabora regularmente com a Biblioteca Nacional de Portugal, onde já comissariou quatro exposições e onde dirige o projecto de catalogação dos manuscritos científico. Henrique Leitão é membro de várias sociedades científicas portuguesas e estrangeiras, entre as quais a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia de Marinha, a Académie Internationale d’Histoire des Sciences, a European Society for the History of Science (membro do «Scientific Board») e a History of Science Society.
O Prémio “A melhor Pergunta sobre Astronomia” será entregue por João Caraça, Director do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian e coordenador do ciclo de conferências “Nas Fronteiras do Universo”. De acordo com as palavras de João Caraça “o concurso revelou o enorme entusiasmo mas também a maturidade dos jovens estudantes portugueses no questionamento das grandes ideias sobre o universo”.
Orfeu Bertolami
Nasceu em São Paulo, Brasil, em 1959. Licenciado em Física pela Universidade de São Paulo em 1980, obteve o mestrado no Instituto de Física Teórica em São Paulo em 1983, o Grau Avançado em Matemática na Universidade de Cambridge em 1984 e o doutoramento em física teórica na Universidade de Oxford em 1987. Desenvolveu actividades de investigação no Institut für Theoretische Physik em Heidelberg, na Alemanha, no Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) em Genebra, na secção de Turim do Istituto Nazionale de Fisica Nucleare e na Universidade de Nova Iorque. É Professor Associado no Departamento de Física do Instituto Superior Técnico, onde lecciona desde 1991. Obteve a Agregação pela Universidade Técnica de Lisboa em 1996. Publicou mais de 190 artigos científicos, em livros, jornais, actas de conferências, dos quais mais de 125 em revistas especializadas nas áreas da astrofísica, cosmologia, física e propulsão espacial, gravitação clássica e quântica, e em teorias de cordas. É autor do livro de divulgação sobre a história dos avanços na astronomia, cosmologia e teorias da gravidade, O Livro das Escolhas Cósmicas, Editora Gradiva 2006 e co-autor, com Martin Tajmar, de um livro técnico sobre aspectos da gravidade e da propulsão no espaço editado pela Agência Espacial Europeia Gravity Control and Possible Influence on Space Propulsion: A Scientific Study, European Space Agency 2002. É autor de artigos seminais em cosmologia, gravitação e sobre a possível violação de simetrias fundamentais tais como a simetria CPT, a invariânça de Lorentz e o Princípio de Equivalência. É co-autor da proposta que unifica os conceitos de energia escura e matéria escura, o modelo do gás de Chaplygin generalizado, e que deu origem ao artigo de física mais citado de sempre escrito em Portugal. Foi galardoado com o terceiro prémio da Gravity Research Foundation dos Estados Unidos em 1999, com o Prémio União Latina de Ciência em 2001, e o Prémio Universidade Técnica de Lisboa/Santander Totta de excelência científica nas áreas de Biofísica e Física em 2007. Colabora em projectos europeus no estudo da física da matéria escura, da energia escura e física fundamental no espaço, com a Agência Espacial Europeia e com o Jet Propulsion Laboratory da NASA na Califórnia.