SEGAR (CONSEQUENTE) E SEGURO
Atraso-me nas circunstâncias
Como um advérbio à deriva
E trago na mochila infâncias
Crestadas na teimosa porfia
Como de propósito cultivadas,
Sem subterfúgios nem esquiva
Voz que das nuvens fez estradas
Tornadas ínfimas pelo meio-dia
– Entre o cativado e a cativa.
Não dou ao nó o que o aperto pede
Pois não há soluções apressadas,
Que o que é feito à pressa cede
Mostra as costuras, sucumbe aos nadas;
Agrava por alívio (precoce),
Adultera qualquer objetividade,
Apodrece antes de ganhar doçura,
E tanto quebra como torce.
Que sentir é tal e qual o sorriso
Esse mesmo, o teu, de que preciso
Se espontâneo, exato, natural
A escrever na alma o plural
Com tinta mágica e pura.
Tinta que é tinta branca na brancura.
Tinta que é tinta negra na negrura.
Mas própria prà grafia de quem sente,
De quem habita sonho consequente –
E até seca a própria secura.
E até sega quanto procura.
Joaquim Maria Castanho