NOTA DE GRATIDÃO
Podia-se enumerar
aqui, tudo quanto os partidos políticos portugueses com assento na Assembleia
da República fizeram em benefício da nossa gente, da nossa terra, da nossa
cultura, porém acontece que aquilo que “eles” não fizeram nos prejudicou muito
mais do que aquilo que “acham” ter feito, para nos ajudar todos e todas nós,
nos últimos 32 anos de democracia que os 40 após abril propiciaram a Portugal,
para superar com êxito as dificuldades anexas ao desenvolvimento, modernidade e
globalização que obrigatoriamente temos que atravessar.
Deviam ter prescindido
dos “comportamentos político-económicos de elevado risco para a
sustentabilidade e estabilidade nacional – e não o fizeram.
Deviam ter
aprofundado e reforçado a cidadania e a participação democrática, em vez de
perseguir e tentar calar/omitir quantos e quantos alertassem para a gravidade
das condutas partidárias e governamentais, que acrescentavam continuamente
novas fragilidades às fragilidades de que já enfermávamos, e às dificuldades de
convergência observáveis (até) à vista desarmada, sobejamente noticiadas e
debatidas pelos mass media desde a
década de 90, do século passado – e não o fizeram.
Deviam ter implantado
uma reforma do Estado e o equilíbrio das contas públicas recorrendo ao know how disponibilizado pelos nossos
ensinos superior e médio-superior, em vez do exportar como carne para canhão
para as economias emergentes, ou assegurar a estabilidade e emprego “amparado”
a clientela política com que rechearam o poder central e o poder local, quase
invariavelmente sem as mínimas habilitações para o desempenho dos “cargos”
atribuídos (por cunha e compadrio), como foi seu apanágio durante décadas e a
ninguém deixou de ser claro – e não o fizeram.
Deviam ter sido
democratas e foram partidocratas. Deviam ter gerido a nossa pouca riqueza para
criar mais riqueza, bem-estar e desenvolvimento, e menos assimetrias, mas em
vez disso aumentaram as diferenças sociais e a miséria, destroçando a classe média,
pondo-a ao nível dos que só podem contar com os rendimentos mínimos para
sobreviver.
A democracia
responsabiliza-nos. A democracia promove a nossa emancipação. A democracia
torna-nos mais conscientes de nós mesmos acerca de nós, acerca dos outros,
acerca do ambiente, acerca da natureza, acerca da história familiar e coletiva.
A democracia antecipa-nos e projeta-nos na peugada de um futuro consistente e
sustentável, plural e fraterno. Todavia, o que é que esses partidos que usufruíram
das vantagens e patrocínios que abril lhes outorgou fizeram com os milhões a
que tiveram direito para as suas campanhas eleitorais? Diminuíram-nos as hipóteses
de justiça, dificultaram o acesso à saúde, à educação, à habitação e ao
emprego; tornaram as nossas possibilidades de financiamento externo e interno
mais estreitas e onerosas; fragilizaram a nossa economia e entorpeceram o
dinamismo empresarial com subsídios para as não-produções. Embotaram-nos os
sentidos e discernimento com retóricas perversas, cultivaram o dogma e a
exclusividade, a cunha e o favorecimento de “eleitos e elegíveis”, corromperam os
necessitados e adulteraram os princípios constitucionais de acordo com os
interesses momentâneos e circunstanciais. Esbanjaram o dinheiro que veio da União
Europeia mais o que recolheram dos nossos impostos. Venderam as empresas públicas
que criavam mais-valias sociais. Instruíram os pequenos comércios e pequenas
empresas na falência proveitosa. Forjaram ilusões. Argumentaram com
corporativismos às lutas trabalhistas. Arregimentaram os intolerantes para a
indiferença.
E aumentaram-nos o
receio pelo amanhã, a insegurança no presente, descrédito pelo passado e a
incerteza como meio de vida e sustento. E isso já os homens e mulheres pré-históricos
tinham em abundância e de sobejo.
Joaquim Maria Nicau Castanho, candidato ao Parlamento Europeu, residente e natural de
Portalegre, na lista do POUS – Partido Operário de Unidade Socialista.