GRAFITE
Com
tanto de tão pouco nasce a fortuna que é sorte sina o ter nascido
Que
outro milagre não houvera igual em qualquer tempo futuro ou ido
Este
de levantar os olhos e reconhecer que o sonho é tão real-autêntico
Como
respirar, falar contigo, estar a par, porém saber o propedêutico
Instar
da luz no recanto da folha digital tangente ao desejo assumido.
Que
devagarmente se isola na rispidez o gesto assaz nulo, oco e vão
Pois
nisso de viver é coisa basta a resistência comezinha e até pueril
Dizer
«sim» quando ao «não» se pensa ou tido vice-versa por decisão
Como
qualquer fogo que arde sem combustível pode apenas ser ardil
Da
matéria, ao espírito alheia, simples fusão a frio do ninguém e
nada
Pondo
a parte tida em forma perdida já por demais em si tão achada.
Porém,
tempos houve outrora ainda do aqui-e-agora tão-só distantes
Que
lídimos dedos apontaram os céus infindos e disseram o espanto,
E
perante tua luz os olhos fulgiram como mil sóis candentes voantes
Explodindo
as vozes dos mais entendidos em desgarradas no descanto.
Foram
esses os primeiros dias de todos os dias daí seguintes adiante
Que
feitos à tua imagem na repetida procura, busca ansiosa e diária
Nenhuns
outros se assemelhando em intensidade, que se de férias
Ou
folga tida, me senti pária roubado por mim de minha própria vida.
Me
senti desnecessário do sentir que é viver e não saber até quando
Teus
olhos me segam o desespero sem qualquer intenção de fazê-lo,
Pois
que ao Sol do acaso todo o verbo é um gerúndio afecto andando
A(r)riscar
reflexos e ângulos silentes e lisos às esquinas do teu cabelo.
Joaquim
Maria Castanho
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