AS
COISAS QUE NÃO LEMBRAVAM NEM AO DIABO
Quando
escrevia para os órgãos de comunicação social locais e regionais,
bem como para os periódicos portalegrenses, que é quase a mesma
coisa mas dita sem salamaleques, uma das críticas que me faziam era
a de que eu costumava dizer coisas que não lembravam ao diabo. De
entre elas, era a de que a fatia territorial que primeiro iria sofrer
os efeitos das alterações climáticas seria o interior algarvio.
Afinal, onde estava a estranheza? Hoje, exatamente hoje, o stress
hídrico é um facto indesmentível no nordeste algarvio e sudeste
alentejano, debatendo-se com os efeitos diretos de uma seca extrema,
e o resto do Alentejo já se encontra em seca severa – conforme os
dados divulgados pelo IPMA, Instituto Português do Mar e Atmosfera.
BEJA,
a tal terra que não vai ter o aeroporto internacional porque ele faz
falta a um território saturado pela ocupação humana e amenizar os
prejuízos tidos e contraídos em favor do do Montijo – extensão
do de Lisboa –, e que quando ficar sem agricultura nem
olivicultura, pouco mais do que com mel coado há de ficar para fazer
frente à desertificação crescente, é, conforme as tais coisas que
não lembram ao diabo mais uma dificuldade que não cabe a Deus
resolver, uma vez que nós desperdiçamos a oportunidade de a
menorizar, também outra faixa do território português que irá
sofrer os efeitos diretos das alterações climáticas.
Todavia,
para as instituições político-administrativas deste torrão à
beirarraia plantado, ao que parece, pelo comodismo e silêncio
compungido evidentes, vivemos todos e todas no melhor e mais
promissor dos mundos candidamente conhecidos, tão cândidos quanto o
eram para o Cândido de Voltaire, que ainda em 1755 e perante a
derrocada de Lisboa, insistia em viver no melhor dos mundos, pois
Deus havia de acorrer a tempo e resolver tudo por nós, e a nosso
contento. O que era preciso era ter fé... Isso mesmo, outra das
coisas que não lembram nem ao diabo!
JOAQUIM
MARIA CASTANHO
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