12.27.2019

EXATIDÃO DA DISTÂNCIA






A EXATIDÃO DA DISTÂNCIA

Se na equidistância entre estrelas o afastamento a uma é aproximação
A outra entre dois pólos navega como pêndulo à procura da unidade
Esse ritmo binário digital com que nos sustentamos irrequieta condição
A bater as horas entre ser e não e não-ser, sintetiza-nos átomo paridade
Ao construir-nos duplos no género mas iguais perante a generalidade. 

Olho devagar a concisão de teu sorriso aflorando o recanto da alegria
E nesse olhar em que me vou tornando está o manto rosáceo, puro, liso
Que não descuro nem quanto dele preciso para seguir em frente no dia-
A-dia, sobre a mesa da ocasião, apenas à solidão calada as letras aviso
Arriscarem-se a perecer se ao cometer a traição temerem doce ousadia
De tecer teus ombros na fina e branca seda dos astros reflexos os areais
Bronzeados mestiços metais nada são se os comparar a alvos celestiais
Das velas navegantes que mundos viram e trouxeram uma página mais.

Duas folhas unidas pela medianiz como dos troncos nasce só uma raiz
A veia feita das duas metades que já foram quartos doutras tantas luas
Ao querer como se crê e tanto quis que as pétalas saídas do cálice tuas
Fossem únicas verdades essas lidas assim tatuadas na pele tão-só a giz
De gizar o caminho ao amaciar o linho da repousada água na líquida fé
De se apagar a mágoa no mansinho ser somente quem, ao querer-te, é.

Joaquim Maria Castanho

DIZER-TE ENTRE AS FOLHAS






DIZER-TE ENTRE AS FOLHAS

Pela cadência da batida do tear se dispõe
Enquanto vestes o tempo de flores coroadas
A marca do ritmo se a consciência propõe
A sopesar, a transferir as cores bordadas
Para o horizonte que se quer distanciar…


Cresceste-me como um ventre inaugural
A redoma do destino na imensidão da planície
A lente de alvorar à estrela incondicional
Afinal a heurística desse sempre que nos inicie
Como se cada passo fosse o derradeiro primeiro passo
Cada voz a incontornável revelação de sermos sós
Cada laço lasso a única maneira de darmos nós
Cada nó a distância feita atreita à curva do compasso
No desembaraço do balanço redondo na redoma do plural.



Havia de dizer-te entre as folhas
Como luz esgarçada saltitante
A bailar na sofreguidão da tarde
Que conforme ao verbo, me recolhas
E assim perecerá a sombra distante
Deste Sol que por nós em nós arde!


Joaquim Maria Castanho

GRAFITE





GRAFITE

Com tanto de tão pouco nasce a fortuna que é sorte sina o ter nascido
Que outro milagre não houvera igual em qualquer tempo futuro ou ido
Este de levantar os olhos e reconhecer que o sonho é tão real-autêntico
Como respirar, falar contigo, estar a par, porém saber o propedêutico
Instar da luz no recanto da folha digital tangente ao desejo assumido.

Que devagarmente se isola na rispidez o gesto assaz nulo, oco e vão 
Pois nisso de viver é coisa basta a resistência comezinha e até pueril 
Dizer «sim» quando ao «não» se pensa ou tido vice-versa por decisão
Como qualquer fogo que arde sem combustível pode apenas ser ardil
Da matéria, ao espírito alheia, simples fusão a frio do ninguém e nada
Pondo a parte tida em forma perdida já por demais em si tão achada.

Porém, tempos houve outrora ainda do aqui-e-agora tão-só distantes
Que lídimos dedos apontaram os céus infindos e disseram o espanto, 
E perante tua luz os olhos fulgiram como mil sóis candentes voantes
Explodindo as vozes dos mais entendidos em desgarradas no descanto. 

Foram esses os primeiros dias de todos os dias daí seguintes adiante
Que feitos à tua imagem na repetida procura, busca ansiosa e diária
Nenhuns outros se assemelhando em intensidade, que se de férias
Ou folga tida, me senti pária roubado por mim de minha própria vida.  

Me senti desnecessário do sentir que é viver e não saber até quando
Teus olhos me segam o desespero sem qualquer intenção de fazê-lo, 
Pois que ao Sol do acaso todo o verbo é um gerúndio afecto andando
A(r)riscar reflexos e ângulos silentes e lisos às esquinas do teu cabelo. 

Joaquim Maria Castanho

12.24.2019

AS AZEVIAS DELICIOSAS





FELIZ NATAL


Celebrar com carinho, com paladar
E no coração visão deliciosa,
O Natal, cá, ou em qualquer lugar
Só tem mesmo sentido, só tem sabor
Com iguarias feitas pelo amor
E confeção de mestria, da Tia... ROSA!


Joaquim Maria Castanho

12.22.2019

The Police - Every Little Thing She Does Is Magic Legendado Tradução

A ARTE ETERNA





A ARTE ETERNA


A literatura é lixada...
Quando lemos, partimos
E tudo o mais vale nada.
Plo chão ficam destroços, limos
Vestígios da enxurrada,
Do são tsunami em que vimos
Tanta vez a alma espelhada;
Viagem com bilhete de ida
Donde nunca volta quem fomos,
Retalha a polpa da vida
Dá-lhe estrutura por gomos.


E se acaso nos socorre
Com brisa de prosperidade,
Mata-nos, contudo não morre
Que só ela é eternidade.


Joaquim Maria Castanho

12.16.2019

ADIVINHA





ADIVINHA


Anexo à alma universal
Nota de dívida ou extrato
Remendado a linhas de bem e mal,
Com pespontos na bainha do fato
(Que perdeu o C numa demanda),
Anda agora a parecer que anda
Mas só sabe mesmo marcar passo
Jogar bombas, poluir, terçar aço.


Se acaso não adivinhou quem é
É só por ter acertado em cheio,
Dando ora outro tiro no mesmo pé
Da pegada com que sujou o meio...


Joaquim Maria Castanho

12.15.2019

O HORTELÃO DA LIXOSA





O HORTELÃO DA LIXOSA


Daqui, de onde te vejo
Meu amor é só mistério,
Aberta gruta num beijo
Lenda passada a sério...
Mas em três libras vertida
Desse ouro paupérrimo
Que é ilusão bem sentida,
Visão em brocado vestida
Linda moura encantada.


Foste élan vital e vida
Cada vez qu'ergui enxada,
Tantas vezes nesta lida
Noutras tantas imaginada.


Joaquim Maria Castanho


SUBLINHADAS RIMAS





SUBLINHADAS RIMAS


Se sublinhas os meus versos
Com identidade perfumada,
Agrupas sentires dispersos
Onde a vida será amada.
Libertas os sonhos submersos
Pela sisudez estagnada,
Mostrando, se são perversos,
Como torná-los só uns versos
Que entoam paixão calada...


Então esculpes um cuidado
Feito pelos cheiros sem flor,
Num odor subtil, perfumado,
E escrevo poema cruzado
Apenas com rimas de amor.


Joaquim Maria Castanho

12.13.2019

CADÊNCIA EXISTENCIAL


  


CADÊNCIA EXISTENCIAL


Concludente ou nervosa
Toda a prática indica
Qu'onde poesia faz prosa
A existência tremelica,
Trepida onda aquosa
Que a moda multiplica...
Se, por bem, vira glosa
Mas por mal nem se explica.
Assim, é vera opinião
Lógico efeito e causa
Qu'o amor nunca faz pausa
Bate conforme o coração.


Se grande, então acelera.
Porém, se maior... espera.


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

12.09.2019

Metallica - The Unforgiven II Legendado Traduçãp

CHEIAS NATALÍCIAS





CHEIAS NATALÍCIAS



Meu Deus, por que há gente assim...
Por que me castigas deste jeito?
Gente que amo, mas me não ama a mim
Embora acenda rubra lava em meu peito!
E nesse desencontro d'encontros feito
Marginal à ânsia, e ao desespero
Meu rio bravo, revolto, corre a eito
Lavand'as margens do sonho com esmero.
Arquiteto de belezas existenciais
Como Senhor das profundezas rotundas
Exige qu'o amor ame cada vez mais,
Cave certezas nas dúvidas profundas.



E então penhora, cobra bens marginais
Silentes ao afeto com que me inundas.



Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade



12.04.2019

A BANDEIRA UNIVERSAL





BANDEIRA UNIVERSAL


Era como se um móvel, porém assim
Com prà'i mil gavetas e gavetinhas...
Umas bem trancadas e pequeninas;
Outras, de tão amplas pareciam sem fim.
Aqueloutras só abriam com segredo
E ninguém saberia como as fechar;
E podia acontecer que só plo medo
As fechaduras viessem a emperrar.
Nessas, perdíamo-nos no interior
Embora noutras mal pudéssemos entrar;
Mas a mais acolhedora era a do amor
Ond'éramos desejados antes de chegar.


Um móvel quase redondo, achatado
Aqui e ali, nalguns pontos enrugado
Noutros lasso, plano, tal como um pano
Bem passado de seda, lona ou caqui.


Joaquim Maria Castanho

12.01.2019

ANO NOVO ESPERANÇA NOVA





ANO NOVO ESPERANÇA NOVA

Úrsula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (CE), que inicia hoje o seu mandato, decretou como direção de trabalho, para si e demais 26 comissionários que a secundam nas funções, a de colocar a União Europeia (UE) na liderança mundial do combate às alterações climáticas, promovendo a transição geracional para a neutralização carbónica, dentro de uma sociedade obrigatoriamente justa e inclusiva, da qual a sociedade portuguesa é uma parcela inequivocamente próxima para todos e todas que se expressam e entendem em português, independentemente do grau açucarado de suas pronúncias. E isto não tem volta, embora haja quem insista (obtusamente) em contrariar a diretriz, reivindicando-se saudoso ou saudosa disto ou daquilo, enfim, de tudo quanto, já nos tempos do António Mourão, era mais velho que a Serra d'Ossa, intitulado Ó Tempo Volta Pra Trás, porquanto não voltou naquela altura e muito menos o fará agora. A brecha entre o passado e o futuro está cada vez mais larga, não só porque a duração da vida é maior, mas também porque a humanidade aumentou o seu grau de literacia e consciência cívica, bem como o presente se solidificou e a determinação racional é superiormente objetiva.

Portanto a grande questão a que a atualidade nos convoca, já não é saber se queremos ou não combater as alterações climáticas, mas sim se ainda vamos a tempo para o fazer e como agir para minimizar os danos que esse atraso está a provocar. A economia verde, o Green Deal (Pacto Ecológico Verde) e a redução em 50% das emissões de dióxido de carbono, por tardios, podem não chegar para atingir os parâmetros do Acordo de Paris – manter o crescimento do aquecimento global abaixo dos 2 graus celsius --, pelo que a maioria das organizações e instituições científicas credíveis nesta matéria aconselham uma redução mais significativa, na ordem dos 65%, por exemplo, até 2030.

A UE prepara-se para dar um passo importante no combate às alterações climáticas e pugnar pelo equilíbrio da ecosfera, mas se não for acompanhada nesse movimento pela China, EUA e restante países da América do Sul, de África e da Ásia, sujeita-se a marcar passo e ficar sozinha nessa frente, o que é um desperdício de esforço, capital e boa-vontade, uma vez que os resultados visíveis serão nulos, pouco objetivos e ineficazes nesse combate que deveria ser global, considerando que vai beneficiar o planeta e toda vida que alberga. A neutralidade carbónica é essencial para alcançar melhorias visíveis acerca das alterações climáticas mas, conforme se verificará, mesmo que alguns países reduzam em 80% as suas emissões de dióxido carbono, se os seus vizinhos e vizinhos de seus vizinhos não colaborarem, não passará de mais uma pedrada no charco, provocando algumas ondinhas à superfície, o que significa, tal como na anedota do ébrio que tinha bebido vinho tinto e vinho branco em igual abundância, ao cambalear para passar numa ponte, tanto os países ricos como os países em vias de desenvolvimento, se se não entenderem, nesta questão, o mais certo é irmos todos e todas prò charco, enfim, entrarmos num viagem às catacumbas do inferno sem regresso possível.

Úrsula von der Leyen é uma batalhadora sensata e positiva, bem acompanhada e esclarecida nas intenções, capaz e eficiente, com provas dadas e com entrega total ao seu míster. Acredito que tudo fará para conseguir superar estes desaguisados e imaturidades que nos entravam ainda o progresso e sustentabilidade planetária. O Parlamento Europeu já declarou a emergência climática para lhe facilitar a tarefa, dando o pontapé de saída nesse combate, mas seria agora tempo de os restantes parlamentos dos países europeus se lhe manifestassem solidários, subscrevendo e outorgando nesse sentido a sua cumplicidade plena, objetiva e prática, incluindo o nosso, sobretudo porque está localizado em Lisboa, que foi escolhida como Capital Verde Europeia para o ano 2020, ainda que outras razões imperativas não tivesse... Será que vão demorar muito a fazê-lo ou preferem antes dar-nos uma prenda de Natal concreta e valorosa? Seria como recarregar a bateria da esperança para entrarmos no Ano Novo.

                               Joaquim Maria Castanho




La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português