ANO
NOVO ESPERANÇA NOVA
Úrsula
von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (CE), que inicia hoje
o seu mandato, decretou como direção de trabalho, para si e demais
26 comissionários que a secundam nas funções, a de colocar a União
Europeia (UE) na liderança mundial do combate às alterações
climáticas, promovendo a transição geracional para a neutralização
carbónica, dentro de uma sociedade obrigatoriamente justa e
inclusiva, da qual a sociedade portuguesa é uma parcela
inequivocamente próxima para todos e todas que se expressam e
entendem em português, independentemente do grau açucarado de suas
pronúncias. E isto não tem volta, embora haja quem insista
(obtusamente) em contrariar a diretriz, reivindicando-se saudoso ou
saudosa disto ou daquilo, enfim, de tudo quanto, já nos tempos do
António Mourão, era mais velho que a Serra d'Ossa, intitulado Ó
Tempo Volta Pra Trás, porquanto não voltou naquela altura e muito
menos o fará agora. A brecha entre o passado e o futuro está cada
vez mais larga, não só porque a duração da vida é maior, mas
também porque a humanidade aumentou o seu grau de literacia e
consciência cívica, bem como o presente se solidificou e a
determinação racional é superiormente objetiva.
Portanto
a grande questão a que a atualidade nos convoca, já não é saber
se queremos ou não combater as alterações climáticas, mas sim se
ainda vamos a tempo para o fazer e como agir para minimizar os danos
que esse atraso está a provocar. A economia verde, o Green Deal
(Pacto Ecológico Verde) e a redução em 50% das emissões de
dióxido de carbono, por tardios, podem não chegar para atingir os
parâmetros do Acordo de Paris – manter o crescimento do
aquecimento global abaixo dos 2 graus celsius --, pelo que a maioria
das organizações e instituições científicas credíveis nesta
matéria aconselham uma redução mais significativa, na ordem dos
65%, por exemplo, até 2030.
A
UE prepara-se para dar um passo importante no combate às alterações
climáticas e pugnar pelo equilíbrio da ecosfera, mas se não for
acompanhada nesse movimento pela China, EUA e restante países da
América do Sul, de África e da Ásia, sujeita-se a marcar passo e
ficar sozinha nessa frente, o que é um desperdício de esforço,
capital e boa-vontade, uma vez que os resultados visíveis serão
nulos, pouco objetivos e ineficazes nesse combate que deveria ser
global, considerando que vai beneficiar o planeta e toda vida que
alberga. A neutralidade carbónica é essencial para alcançar
melhorias visíveis acerca das alterações climáticas mas, conforme
se verificará, mesmo que alguns países reduzam em 80% as suas
emissões de dióxido carbono, se os seus vizinhos e vizinhos de seus
vizinhos não colaborarem, não passará de mais uma pedrada no
charco, provocando algumas ondinhas à superfície, o que significa,
tal como na anedota do ébrio que tinha bebido vinho tinto e vinho
branco em igual abundância, ao cambalear para passar numa ponte,
tanto os países ricos como os países em vias de desenvolvimento, se
se não entenderem, nesta questão, o mais certo é irmos todos e
todas prò charco, enfim, entrarmos num viagem às catacumbas do
inferno sem regresso possível.
Úrsula
von der Leyen é uma batalhadora sensata e positiva, bem acompanhada
e esclarecida nas intenções, capaz e eficiente, com provas dadas e
com entrega total ao seu míster. Acredito que tudo fará para
conseguir superar estes desaguisados e imaturidades que nos entravam
ainda o progresso e sustentabilidade planetária. O Parlamento
Europeu já declarou a emergência climática para lhe facilitar a
tarefa, dando o pontapé de saída nesse combate, mas seria agora
tempo de os restantes parlamentos dos países europeus se lhe
manifestassem solidários, subscrevendo e outorgando nesse sentido a
sua cumplicidade plena, objetiva e prática, incluindo o nosso,
sobretudo porque está localizado em Lisboa, que foi escolhida como
Capital Verde Europeia para o ano 2020, ainda que outras razões
imperativas não tivesse... Será que vão demorar muito a fazê-lo
ou preferem antes dar-nos uma prenda de Natal concreta e valorosa?
Seria como recarregar a bateria da esperança para entrarmos no Ano
Novo.
Joaquim
Maria Castanho