ALMA
NUA
Sou
o lago que a luz do céu reflete,
Sou
o voo das aves pelos ares;
Sou
o vento sutil, que se intromete
Na
folhagem dos bosques seculares.
Sou
o leão que no deserto ruge
Se
os tufões as areias movimentam;
Sou
a torrente férvida, que estruge
Quando
na praia as ondas arrebentam.
E…
sou o colibri que beija as flores,
E
no aroma das flores se embriaga;
Sou
a falena: atraem-me os fulgores
De
uma luz que vacila, e não se apaga.
Sendo
todas as coisas, sem que possa
Saber
o que é que sou, e o que são elas;
Eu,
na incerteza que de mim se apossa,
Confundo
a luz do olhar com a das estrelas.
É
dos meus olhos que essa luz se exala,
Ou
recolho os seus raios na retina?
E
no silêncio, em que minh’alma fala,
Vibra
uma interna música divina.
In MÚCIO
TEIXEIRA, Brasas e Cinzas, Imprensa Nacional. Rio de Janeiro, 1922, págs. 15-16
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