12.25.2021

Ladyhawke • I'll Stand By You • The Pretenders

A BOCA DO TEMPO

 

A BOCA DO TEMPO



A grande solidão do mundo

Abateu-se sobre mim, ser ínfimo e moribundo

Que habita paredes-meias com o tempo frio

E o silêncio verde-escuro das agulhas dos pinheiros,

Para perguntar de vez «Quem mais pode: o rio

Que leva as águas dos choros derradeiros

Ou a certeza matemática do calendário

Quando solta mais uma folha ao vento

E exige que o consultes ao contrário

Da última prà primeira, até perderes o alento

Das páginas a que te amparaste a vida inteira?»


E eu respondi: «Nem um, nem a outra;

Que quem mais pode, cá como no Além,

Molda as solidões com ligeireza pronta,

E faz com elas castelos de cristal diamantino

Onde nunca entrará mais nada nem ninguém

Que não tenha construído também o seu destino.»


Então, a grande solidão do mundo

Três vezes rugiu como um mostrengo três vezes

Lançou seu bafo ácido, grosso e imundo

Sobre quanto havia e não havia entre nós, e disse

Resfolgando em cada folha virada, mês a mês:

«Aqui, já nada sou, já nada faço.»

E o tempo sem fim, enfim de vez, abriu-se

Engolindo-a para assim fechar-se, de novo,

E retomar a sua própria forma na forma dum ovo

Onde os vestígios de boca não passam dum traço.


Joaquim Maria Castanho


12.04.2021

Dulce Pontes-Canção do Mar (videoclip oficial)

É JÁ (TÃO) QUASE NOITE

 


É JÁ TÃO QUASE NOITE


O valor dos dias e das gentes

Está em serem diferentes.


É tão meio-dia quase noite

Quase pouca luz a findar,

Mas que o verbo nos acoite

Enquant’a nossa voz soar.

Que os dias como as gentes

É por serem iguais que serão

O fulcro da luz e da razão...

– E mais sãos se diferentes!


Joaquim Maria Castanho

11.29.2021

BOM DIA!

 

Bom dia!


O princípio é o verbo

Depois o dia corre sereno

Murmura, conversa, é acervo

Enleio, esse labirinto

Tão grande e tão pequeno

Que nele cabes e me conservo

Desde o detalhe ao infinito…


Joaquim Maria Castanho

11.24.2021

COMPROMISSO VERBAL

 


COMPROMISSO VERBAL


Meto o verbo devagar

Que o lugar da fala

Quando falo por falar

Digo, e a voz exala

O mesmo falar exíguo

De quem ama ama (e cala).


Então nesse declarar

Que não diz mas declara

– Raiz de amarar no lodo –

Eis que por tanto amar

Até o verbo o calara

Sabendo-o o mundo todo.


Joaquim Maria Castanho

11.22.2021

HUMILDE PINTOR


 

TODO O POETA

                               É 

                                   UM HUMILDE 

 

                         PINTOR



Há sempre poemas escritos

Entre cada folha que cai.

Atiro os olhos ao chão e leio-os

Ante o assombro do vento

Que lhe segura a luz até ao fim

De encontro ao caule e veios

Peito aberto, ramos a oscilar.


Sei cad’uma de suas cores de cor

Mas não me atrevo a pintá-lo,

Que se o outono está usá-lo

É por pensar num poeta maior…


Joaquim Maria Castanho



11.21.2021

VERDE ARDENTE

 


VERDE ARDENTE


Eu recordo o teu olhar, a tua trança

Com’esta paisagem se lembra do verão…

É um ver de há pouco que já não alcança

– E uma folha a arder quase tição!


Joaquim Maria Castanho

 


 

11.20.2021

LUSITANIDADE

 

LUSITANIDADE


Corremos riscos, se amamos,

Entrançados plo destino.

Que a vida chama… Nós vamos.

Viver é ser peregrino!


Joaquim Maria Castanho

11.19.2021

PALAVRA ATUANTE


 

PALAVRA ATUANTE


Enquanto ato, atuo

Sabe-se lá por quê,

Em que distância…


E se digo, logo fluo

Em palavra que se vê

Nascer da própria infância.


Joaquim Maria Castanho


11.16.2021

CISMA

 

 

C I S M A


Há um ENIGMA na minha vida

E creio que veio pra se demorar

Tanto, que receio, mal ela cumprida

Continue eu na outra o mesmo cismar…


Joaquim Maria Castanho

A LEITURA É NÃO


 

A LEITURA NÃO É UM HÁBITO


Que a leitura não é um hábito

Ou sequer semente que se semeia,

É necessidade d’homem prático

– Radicalidade que também medeia…


Disso ninguém tem dúvidas sérias

Que não tenham propaganda à mistura,

Nem faça do trabalho umas férias

Passadas à custa da literatura!


Joaquim Maria Castanho

11.15.2021

DO SILVAR DO VENTO

 

DO SILVAR DO VENTO OUTONIÇO


De vez em quando, uma folha cai…

Então, o caminho aloirece.

Mas este rio continua, e vai

Pra lá da sombra que o escurece.


Afluente de outros maiores

Senhor dos vales e das escarpas,

E das silvas que já foram flores

Agora (h)ouve silvos

Entre margens cativos,

Sem violas e sem capas

Altivos, mesmo sem hinos nem harpas.


Joaquim Maria Castanho

11.08.2021

ESTRELINHA LINDA

 

AH, ESTRELINHA LINDA!


Seja a voz serena eco murmurado

Algo descido à noite aparecida,

Para que o dia ao ver-se recordado

Não esqueça no breu a sombra diluída.


A sombra do que foi e podia ter sido

Se não tivesse claudicado finalmente

E ao fim de tantas horas adormecido,

Talvez julgando que a nossa gente

Se calara só por supo-lo já cumprido.


Mas é falso, disse-lhe uma estrela

Depois outra, e outra, e mais outra enfim,

Até qu’o firmamento acabou por vê-la

Com’olhar daquela que só me lembra a mim.


Joaquim Maria Castanho

CARAVELAS DE MIM

 

Sonho-me como se fora ainda quem fui

E nesse instante tão simples, duradouro

Eis que o presente escreve e já conflui

Pra um futuro onde me penso e demoro…


Que a vida é isso, exatamente assim

Um saltitar breve sobre o ancoradouro

Ond’estão amaradas as caravelas de mim!


Joaquim Maria Castanho

10.29.2021

EXATAMENTE AMANHÃ


 

Amanhã, exatamente amanhã
Estará presente no Intermarché
De Portalegre, durante a manhã
Sem nem mais, nem menos, nem porquê
Pra autografar os livros recentes
Joaquim Maria Castanho, autor
Que é um adepto das nossas gentes
E suas criações de bom gosto... e valor!

 

10.28.2021

GALERIA DE S. SEBASTIÃO, em PORTALEGRE


 

Amigos e Amigas: 
 
Está confirmado… Os livros de Joaquim Maria Castanho, DADINHA DÁ UMA LIÇÃO AO LÁPIS VLUP-VLUP, o Valentão das Dúzias, REDESENHAR A VOZ, NA MINHA CASA MORA UM GATO e A BOLSA DAS MARMITAS, também estão à venda no Departamento de Turismo e Cultura da CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE, mais precisamente no POSTO DE TURISMO de Portalegre, junto à Galeria de S. Sebastião, situada no CONVENTO DE SÃO SEBASTIÃO, onde atualmente funciona a autarquia da nossa cidade e do Distrito de Portalegre. Portanto, há mais uma boa razão para que as visitas a esta cidade sejam recheadas de aprazíveis conteúdos. 
 

SONETO MATINAL

 


MOSTO MATINAL


Esta noite atravessou-se-me a madrugada

A meio do caminho, vinha vestida de breu

Com cada constelação d’estrelas estampada

Num imenso sorriso que não era só seu…


Quis-me parecer c’apertava numa das mãos

Um diamante por lapidar, duro e preciso

A brilhar por entre os dedos justos irmãos

Que edificam o mundo, pela mó do juízo.


As franjas do xaile, onde os fados dançam

Eram promessas de chuva a pingar plas costas,

Se o suor dos que tentam é o dos que alcançam.


O chão de neblina se afasta pròs deixar passar

E sobre as dúvidas frias, infiéis e expostas

Pisam o fruto e os engaços do dia a chegar!


Joaquim Maria Castanho

10.26.2021

A LITERATURA CELEBRA A VIDA E A CULTURA

 

A LITERATURA CELEBRA A VIDA,

 A CULTURA, O QUOTIDIANO 

E A MANEIRA DE ESTAR PRESENTE

 ONDE QUER QUE SEJA 

 

E dias 30 e 31 deste mês, estará no INTERMARCHÉ – PORTALEGRE, onde o autor Joaquim Maria Castanho, também vai estar para autografar os seus livros DADINHA DÁ UMA LIÇÃO LÁPIS VLUP-VLUP, o Valentão das Dúzias, NA MINHA CASA MORA UM GATO, REDESENHAR A VOZ e A BOLSA DAS MARMITAS. Dia 30 (só) na parte da manhã; e dia 31, (só) na parte da tarde. Até lá serão divulgados mais pormenores acerca da iniciativa.



Saudações literárias

10.16.2021

LITERATURA NO DIA A DIA


 

A LITERATURA É UM PRODUTO

 CULTURAL DO DIA A DIA 

                                              ... E NA ATUALIDADE


De acordo com informações de última hora, os livros de Joaquim Maria Castanho, devem ficar à venda no Intermarché de Portalegre, por volta do dia 30 deste mês, sábado, em cuja manhã, neste dia, o autor de Dadinha Dá Uma Lição ao Lápis Vlup-Vlup – o Valentão das Dúzias, Na Minha Casa Mora Um Gato, Redesenhar a Voz e A Bolsa das Marmitas, estará presente para autografar os livros a quem manifestar interesse nisso.


Saudações literárias e ótimo fim de semana.


Foto by Maria João Fontes


10.14.2021

LITERATURA E AMBIENTE

 

LITERATURA E AMBIENTE 

UMA FORMA DE ESTAR E DE ENTENDER A VIDA

Tudo indica que os livros de Joaquim Maria Castanho, publicados durante os períodos de confinamento e estado de emergência em consequência da Covid 19, Dadinha Dá Uma Lição ao Lápis Vlup-Vlup – o Valentão das Dúzias, Na Minha Casa Mora Um Gato, Redesenhar a Voz e A Bolsa das Marmitas, venham a estar à venda no INTERMARCHÉ de Portalegre. Por agora nada mais nos é possível adiantar, mas desde já fica a promessa de, assim que algo mais se venha a saber, será dado a conhecer a todos e todas vós.

Saudações literárias

Foto by Maria João Fontes


10.02.2021

III REINO

 

O TERCEIRO REINO


Disse a meus olhos que parassem

Mas eles não ouviram, sequer;

Foram a avelã madura dos teus

Antes que deuses os chamassem,

Para lhes proibir ver na mulher

Deusa da terra, rainha dos céus.


E eles, como todos os olhos são,

Que só mentem, se bem treinados,

Deram-lhe também meu coração

Qu’é outro reino, pròs seus reinados!


Joaquim Maria Castanho


10.01.2021

CAIR EM REALIDADE...

 

CAIR NA REALIDADE



Voz noturna (desmagoada)

Solta estrelas ao redor,

Pintando manhãs, calada,

Em telas d’anilada cor.

Compenetrada, e distante

Com gestos precisos, imediatos

Voltou, para ser quem antes

Era, dos meus dias

Motivo, poesias

Sentires mais concordatos.


Que de vê-la me não canso

Mesmo que à espera fique,

E sufi sonho oro danço

Caindo do céu… e a pique!


Joaquim Maria Castanho

9.28.2021

TODOS OS TEMPOS NUM SÓ

 

NUM SÓ, TODOS OS TEMPOS



Há gestos preciosos, lestos, precisos

Imediatos à voz, cuja doçura

Espelha a brancura dos narcisos;

Os sonhos das açucenas, dos jasmins

Cativados pela serena brandura

Com que os meios se transformam em fins.

Que nos agarram por dentro e por fora.

Que nos espanejam a alma alcantilada

Nos promontórios com que o ser se escora

Pra imaginar-te do outro lado da estrada.


E quando a sorte se aproxima

Quase um precipício prà sina,

Eis que estranho braço a empurra

A vertigem do grito a fustiga

E banindo-a a zurze e a surra

Até lhe extorquir toda a fadiga…


Então ante ti, meu olhar fica nu.

Tudo quanto ele omitiu, eu omiti.

E se alguém mais viu, eu também não vi

Que, de repente, no meu presente

Somente uma pessoa existiu… – Tu!


Joaquim Maria Castanho

9.24.2021

NA DEGUSTAÇÃO DAS SÍLABAS


 

NA DEGUSTAÇÃO DAS RIMAS



Pela crosta estaladiça dos dias

Em que pleno o palato se me dilui

Sôfrego colho eu duns olhos poesias

Onde, por serena, a beleza flui

Quase avelã madura, desmedida,

Inteira entrega de mim, total cerne,

Se nesse quase ponho toda a vida

Desde o mais íntimo à flor da derme.

Do miolo nuclear à textura pura

Aí, sólido imbricado o ser assenta,

Com que a tez empresta a sã frescura

Que atesta a formosura que aparenta…


E assim nascido dum quase perfeito

Mastigo rimas, degusto-as uma a uma,

Até que farta a alma m’enche o peito

Onde só as tuas cabem… Mais nenhuma!


Joaquim Maria Castanho

9.23.2021

O OUTONO VEM AÍ

 

O OUTONO VEM AÍ COM AS FOLHAS 

QUE INSISTEM EM MUDAR DE COR


Conta-se que outrora

Que contar

Era explicar...

                         … uma história.


Mas agora

Em que em nada há memória

Nem tem explicação,

É só mostrar o resultado

Numa foto de mel coado

De que se pode gostar... ou não!


Joaquim Maria Castanho


La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português