NUM SÓ, TODOS OS TEMPOS
Há gestos preciosos, lestos, precisos
Imediatos à voz, cuja doçura
Espelha a brancura dos narcisos;
Os sonhos das açucenas, dos jasmins
Cativados pela serena brandura
Com que os meios se transformam em fins.
Que nos agarram por dentro e por fora.
Que nos espanejam a alma alcantilada
Nos promontórios com que o ser se escora
Pra imaginar-te do outro lado da estrada.
E quando a sorte se aproxima
Quase um precipício prà sina,
Eis que estranho braço a empurra
A vertigem do grito a fustiga
E banindo-a a zurze e a surra
Até lhe extorquir toda a fadiga…
Então ante ti, meu olhar fica nu.
Tudo quanto ele omitiu, eu omiti.
E se alguém mais viu, eu também não vi
– Que, de repente, no meu presente
Somente uma pessoa existiu… – Tu!
Joaquim Maria Castanho
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