42.
OS
LIVROS SÃO TABUINHAS A MIRAR O UMBIGO
Entre
mim e ti eu sou o labirinto alheio
Meda
de palha numa eira falha de grão,
Baraços
de tojo, cânulas de aveia, centeio
Destes
braços que malham pra catar pão
Que
não medrou, cuja semente se perdeu
No
receio desta gente que também sou eu,
Se
fez decalque, pressão, zip, ecrã, visão…
Ponto,
interceção entre o que é material
E
o que é espírito, as tabuinhas são cultura
E
essência de vida em teoria e em ideal
Que
têm palavras, símbolos e estrutura
Pelo
que algumas são mesmo, e à parte
Autênticos
exemplos, vivas obras de arte.
Nascem
após gestação apurada, coletiva
Mas
que é inequívoca plo cunho pessoal,
Pra
que o sonho nelas s’aquiete, sobreviva
De
maneira ativa, prolífera, bela e racional.
São
almas qu’espelham e inventam almas
Integridade,
dignidade, respeito, galhardia
E
apreciam partilha, venda, citação, palmas
Passear
de mão em mão e boa companhia.
Não
raras, de clássicas, são agora eternas;
Outras,
de universais, viraram circunstância
Local,
etária, conjugam antiguidade e infância.
E
há as que trazem ao cimo e de forma vária
O
que noutras era fixo e uno, ou letra sumária.
São
livros que se cumpriram no seu suporte
Sinas
públicas ou clandestinas de consorte…
Fazem
zoom sobre esses ínfimos detalhes
Que,
tão pequenos, passam despercebidos
Embutidos,
floreados, filigranas, entalhes
Que
em sociedade se esvaem tipo e diluídos.
Joaquim
Maria Castanho
in
REDESENHAR A VOZ, página LXIX
Com
foto de Elie Andrade
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