Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
3.30.2010
3.24.2010
Entre gregos e troianos venha o maluco e escolha. Já não há realidade, mas apenas literatura anexa, quer dizer, posologia farmacológica que acompanha os prozacs desta vida.
Um em cada cinco portugueses não bate bem da bola e, deve ser a isso que se deve a forte concentração e elevado número de votos obtidos pelos partidos do centralão, nas últimas eleições legislativas como nas autárquicas: aqueles que já não querem saber da vida para nada, não optaram por projectos mas votaram contra aqueles que os têm e protagonizam, que preferem ser solução a mais uma forma de agravar os problemas, nomeadamente o da insustentabilidade sócio-económica, e não farão nunca parte das forças de reparação sistemática que estragam, incendeiam as hostes, semeiam o descrédito e o caos, para depois poderem daí retirar proventos financeiros e políticos. Todavia, de acordo com a minha constatação diária, a minha observação quotidiana e experiência de convívio com os conterrâneos patrióticos, que fazem batota em tudo, desde as estatísticas às contabilidades públicas ou autárquicas, desde eleições ao desporto, desde a manipulação da justiça ao tráfico de influências e à corrupção (generalizada), também estes números devem estar "fal$ificados" e amaneirados jesuiticamente, porquanto dos locais que frequento a proporção parece não condizer, uma vez que, sobretudo nas zonas mais burguesas, as pessoas que lá encontro, nos cafés, espaços públicos e lugares de afluência predominantemente adulta, é certo e garantido, que pelo menos metade não junta o gado todo, numa proporção de duas pessoas e meia em cada cinco, ou três em seis, que vem a dar sensivelmente a mesma coisa, e muitos daqueles em que não recai a mácula observável a olhos nus, o mais provável é andarem eficazmente medicados.
E ainda, se descontarmos aos que sobram dentro do prazo de validade (sanidade) mental, os fanáticos religiosos e do futebol, os exaustos e narcísicos sem fundamento ou suporte (autoconvencidos), então é que o caldo entorna mesmo, e constatamos, ao contrário, do relatório/estudo recentemente divulgado, que por cada cinco portugueses desaparafusados só haverá sem a rosca remoída, um a acertar o passo com a normalidade, reconhecendo finalmente que o Obélix e Astérix tinham razão, quando afirmavam, enquanto lhe untavam as molas que «estes romanos, estão loucos!», quiçá dirigindo-se especificamente a nós, embora usando um tropismo literário (sinédoque ou metonímia?), exaltando a sua natureza (hipérbole contrastante) dentro da liberdade poética da época (bárbara).
Sinceramente, acho que num país onde se mente para tudo, incluindo no termo mentir, a que chamam faltar à verdade para não ferir susceptibilidades dos mentirosos, onde nada é confiável, e onde o é tanto pode ser ou não ser, na sonegação da lógica, só podia realmente fazer-se poesia, mas daquela em que incontornavelmente o poeta é um fingidor que finge tão completamente que para não trabalhar até finge estar doente, os borra-botas são supra-sumos da cultura e da literatura, enfim, tudo é possível porquanto nada se é, incluindo gregos, embora os estejamos igualmente, e bem pior por sinal, porque os de Creta também estão e são gregos, mas eles têm toda a razão em evidenciá-lo, porque vivem na Grécia. Agora, nós?...
3.20.2010
"A primeira e pior de todas as fraudes é o sujeito enganar-se a si mesmo. Depois disto, todo o pecado é fácil [e está justificado]."
J. Bailey
A infantilidade adulta, no dizer de Natália Correia seria o criancismo, é apenas mais uma das estranhas formas de pretender ser sério pela pecuinhice da sisudez, do melindre e da ofensa gratuita, comum aos casos de narcisismo frustrado, em que se entrincheiram os políticos quando a iniciativa e a imaginação lhes faltam para fazer (ou dizer) algo de útil à nação e a quem os elegeu, escorando a insensatez na intenção de criar moda, porquanto uma coisa que é considerada uma nítida e despropositada birra, desde que seja praticada por muitos até pode parecer, embora nunca o seja realmente, uma espécie de recato e de estilo de afirmação entre os seus pares, quando timbrados pela honestidade e transparência que além de atitudes pessoais, são também valores intrínsecos à democracia, à pluralidade social e à renovação regimental que mantém "acesa e pertinente" a moralidade republicana, pois é à democracia e à República que a comunicação deve servir, não a este ou àquele partido, por mais republicano, democrata e laico que se (auto)proclame.
No recreio da minha escola (primária), onde frequentemente se fazia a aguerrida futebolada digestiva do almoço, houve igualmente alguns jogadores que eram donos da bola, e que mal o adversário infringisse, não as regras do futebol mas os ditames que o proprietário da pilota impusera, ou os membros da sua equipa não lhe passassem a dita cuja quando achava que o deveriam ter feito, então fechava o computador e acabava com a retouça a todos, perdão, pegava no esférico e levava-o para o seu universo caseiro, não por falta de carácter é certo, pois o quero, posso e mando é antes enunciativo de um carácter forte e possessivo – alguns chamar-lhe-ão paranóico, egocêntrico e maníaco-depressivo –, acabando invariavelmente com o jogo, a não ser que ambas as equipas o apaparicassem com louvaminhas circunstanciais que o levassem a ponderar e inverter o curso da reportagem, enfim, da estória e da história.
Ora, ultimamente tem-se assistido à metamorfose dos políticos em pudicas Dianas paparizadas, mais ou menos por todo o lado, uns fugindo das câmaras e objectivas que tanto buscavam e em frente das quais ostensivamente e amiúde passavam, outros não respondendo às perguntas dos jornalistas quando estas começam "por-ques e porquês", havendo até quem os acuse de maus profissionais se eles não carimbarem com de elevado interesse nacional esta ou aquela iniciativa, este ou aquele discurso, e amaneirar para esconder as manobras e gincanas de contornar a justiça desta ou daquela bancada, bem como das empresas que lhes superintendem na "logística fundamental". Quem não deve não teme, lembra a popular divisa, logo não precisa de esconder nada, nem reivindica o seu direito à privacidade, quando utiliza um bem público, que foi disponibilizado pelo órgão de soberania, não para conspirar, mas para melhor e mais eficazmente desempenhar as funções que lhe foram confiadas, como reza qualquer tomada de posse onde as figuras regimentais são muito além do que simples sons para as cacofonias dos poderosos, igualmente conteúdos e rituais de respeito pelas instituições do Estado que a Constituição da República consagra e consagrou, não permitirá ver dissolvidas nem alienadas, por superiores que se alevantem ou privatizações lhe advenham.
E idem para as prendas que resvalam no tradicional untar de mãos para agilizar processos, rendimento suplementar de funcionários e administradores, que a eito se vão revezando como receptadores de bens/montantes sem imposto nem registo, acerca dos quais há quem exija sensatez na análise adjectivante, dado ter-se – não sei porquê... – que distinguir-se entre prendas e prendas, saber se umas são para colher benefícios ou se pagar favores, se outras são por generosidade e simpatia, desde os repastos às comitivas da comunicação social até aos brindes para os representantes das corporações convidadas, uma vez que todos sabemos muito bem o que é ser-se imparcial e objectivo perante "actos e palavras proferidas" de alguém que nos encheu a pança, quer periódica como frequente ou momentaneamente. Qualquer prenda é sempre um suborno e uma possibilidade de corrupção em aberto, seja ela para consumar ou não.
Portanto, quer-me parecer, que se os poderosos andam a prender o burro e a fazer manguitos à comunicação social, esta também anda a vasculhar mais do que era costume por lhe andarem a mexer nos suplementos alimentares, pondo uns e outros em prática o amor com amor se paga, renunciando (mutuamente) aos pagamentos em género, como forma de limpar os queixos pelos manjares partilhados a expensas do erário público; isto é, quando a verba escasseia todos vão ralhando acerca do quinhão que coube, porque afinal "andamos todos ao mesmo", o que é uma aventura se já não temos mãos a medir para uma crise que se dilata e estende no tempo. Era fácil mas acabou-se... – diremos. O interesse nacional (esse disfarce), a pessoa de bem e o idóneo Estado (essa máscara), as leis e a ética (essas convenções), perante a necessidade de transparência e honestidade (essa tragédia), vão-se diluindo conforme as políticas e os políticos acertam o passo com a modernidade: porém, suborno é sempre corrupção, como esconder dados é sempre manipulação, independentemente do que lhe chamem, e lho chamem apenas quando aos mais poderosos convém. Que por mais que o pecado seja fácil, nenhum almoço é de borla.
3.16.2010
Deve haver, uma maneira simples de sermos realistas e continuarmos republicanos, pois não antevejo como se faça essa coisa de mudar de regime para alterar alguns procedimentos perniciosos à democracia, para inverter de seguida o estado de sítio, após estes terem sido removidos, mudar novamente para o regime anterior, reinstalar a República, fazer um outro 1910 com cheirinho acentuado à 1º de Dezembro de 1640. Sobretudo porque a República anda velhota e abengalada, vai num século de formaturas e paradas, e 100 anos acarreta muito reumático, atrofia as articulações, diminui a flexibilidade, averba muita esclerose nas vias de comunicação, obstrui os tímpanos institucionais, caleja de teimosia impertinente os arregimentados da confraria do traque e desossa os tutanos à paciência de qualquer um, mesmo que esse ande de ventas alçadas e bigodaças de vento em popa, à dito cujo dos retratos de família em praça de mercado ou recinto de efeméride e celebração. E se é certo que, ainda que igualmente aviagrada e secular, não anda caquética nem pedófila como a Igreja católica, que em dois ou três anos, se ficou a saber de inúmeras manifestações dessa seita dentro do seu mariano seio, primeiro nos Estados Unidos, depois no México e na Irlanda, e agora na Alemanha, embora se desconfie que as portas fechadas para não deixar escapar os segredos de sacristia, esconda muita moléstia latino-ibérico-americana de ensopar fronhas a dedilhar confissões às flores do verde pino, pelo que nunca será demais providenciar cautelas que a provecta idade é profícua em surpresas e desregrares para recuperações da líbido perdida.
A não ser que isso esteja de moda ou se faça num repente como se faz agora no PSD, que depois de ter tido honras de 1ª página em todos os telejornais, onde na generalidade as estações televisivas, durante o fim-de-semana passado, gastaram os primeiros 20 minutos a dar-lhe notícia do Congresso, coisa que só acontece com as grandes derrocadas, as grandes catástrofes e desastres, as enchentes, tsumanis, sismos, pestes e demais cataclismos, eis que deste congressismo mediático resultou nem mais do que a notícia de flagrante censura por 356 votos a favor, larga e compacta maioria, quase por unanimidade se descontarmos os votos contra dos candidatos ao "trono manuelino", instituindo a proibição de falar ou criticar as chefias nos 60 dias que precedem os actos eleitorais – o que manifestamente acho pouco e tardio, pois a bem da nação isso devia, no caso do PSD, ser não de 60 dias mas de três anos, porém alargando-se também a providência de acautelar dissabores internos ao PS, mas inversamente para dois anos após eleições, ficando nós, os portugueses, pelo menos com cinco anos de sossego por cada legislatura, o que já daria para combater o stress e restabelecer a resiliência, tão combalidos e nas lonas por mor de tanta f®icção democrática partidária –, acentuando definitivamente a tónica realista da República, centenária é certo, mas como nova se lavadinha de fresco com alguns arremedos de suspensão, semelhantes ao anteriormente anunciado por Sua Excelência Reverendíssima Manuela Ferreira Leite quando quis interromper a democracia por seis meses a fim de recolocar Portugal na rota do progresso e modernidade, numa ditadura de meio aninho a ver se afinava os pormenores de gestão às agulhas do poder, então bastante esfrangalhadas no croché da conjuntura.
«Força Manela» o cronista está contigo, «acerta-lhe no cravo, cachopa; chama a todos os Santanas deste mundo» que ainda havemos de desbravar outros mares de dar novas repúblicas a esta democracia, bem menos velhinha mas ainda superlativamente caquética, que nisso de andar no poder até à cova todos temos experiência acalentada entre caíres do cadeirame no arrasta-pé corporativista, e pouco falta para inventar moda de conquistar estátua por duração e record no topo das tabelas da governação, a ver se batemos o record estabelecido do nosso António de Oliveira Salazar, que durou 48 anos e, não fosse a frescura primaveril dos marcelos, ainda sobreviveria outros tantos são que nem um pêro.
«Não te deixes abater, amiga» que a gente tem esperança nos às armas, às armas contra os barões marchar-marchar que nos há-de levar à vitória, e pôr em ordem, finalmente, as quinas, que são cinco e não 60 dias, como as chagas de Cristo levadas pelos tormentos do ordenado mínimo e do desemprego que sobe-sobe como o balão da cantiguinha. «Força cachopa, arreia nesse pé-de-trempe que nos mascarra a democracia», seria o último favor que pediria se tivesse tempo de antena, coisa que, in-fe-liz-men-te não tenho, e é por isso pre-ci-sa-men-te que Portugal se vê grego para sair da crise que o Convento, de Mafra, nos agravou, desde o tempo da sua construção, com desregramentos e gastos soberbos, até hoje, de que ainda andamos a pagar a factura, com a ajuda de Saramago tão encarecida que nem sete-sóis e sete-luas nos dariam para abater os juros de mora. «Chega-lhe, amiga», que eu, militante de longa data, pese embora a nova gerência ainda não tenha assumido (funções) o poder, já ando mortinho de saudades dos bons e velhos tempos das amenas legislaturas com cavaqueira e biquinha morna…
3.12.2010
Envolveu milhões de pessoas em 148 países e foi coordenado por um português: o Ano Internacional da Astronomia vai despedir-se de Portugal com um dia de celebrações na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Foi o maior evento de divulgação científica de sempre, envolvendo a participação de milhões de pessoas em centena e meia de países. O Ano Internacional da Astronomia vai terminar em Portugal com um dia de comemorações na Fundação Calouste Gulbenkian. A sessão de encerramento terá lugar no dia 17 de Março, a partir das 18 horas. A entrada é livre.
"O Ano Internacional da Astronomia foi o maior evento de divulgação científica jamais realizado. Envolveu 148 de países e mobilizou milhões de pessoas. Esta mobilização foi um empreendimento organizacional de relevo e teve um extraordinário impacto educacional. Dar a conhecer, em primeira mão, a maravilhosa trama de fenómenos que têm lugar no Universo é a mais eficiente forma de combater a ignorância, os dogmas de natureza ideológica e religiosa, e a intolerância", reconhece Orfeu Bertolami, o astrónomo do Instituto Superior Técnico que vai conduzir a sessão de encerramento, dedicada ao presente e ao futuro da Astronomia em Portugal.
Ao todo, em território nacional, as celebrações do Ano Internacional da Astronomia (AIA2009) resultaram na realização de duas mil iniciativas ao longo de um ano, em mais de 300 cidades, vilas e aldeias, num evento em que colaboraram mais de 440 instituições e três mil pessoas, na sua maioria voluntários.
"E o que fica depois do Ano Internacional da Astronomia? Antes de mais notemos que se construíram no terreno centenas e centenas de parcerias entre diferentes instituições, com vista à celebração do AIA2009. Esta é uma excelente janela aberta sobre futuras colaborações. O AIA2009 foi um extraordinário exemplo de dinamismo da sociedade, já que muitas das actividades tiveram origem a nível local. A Comissão Nacional está já a trabalhar para manter este legado", garante o presidente da Comissão Nacional do Ano Internacional da Astronomia, João Fernandes.
E o que podemos esperar da Astronomia portuguesa? "A comunidade dos astrónomos em Portugal é altamente qualificada e a sua contribuição para o corpo do conhecimento nas várias áreas da investigação astronómica é muito relevante. Poderíamos destacar as seguintes: física solar, dinâmica estelar, dinâmica galáctica e de enxames galácticos, núcleos activos de galáxias. Portugal é particularmente forte na recente ciência de detecção de planetas extra-solares e em cosmologia. Um estudo recente ( http://arxiv.org/abs/physics/0612066 ) revela que, nesta última área, a investigação realizada em Portugal, na Europa só fica atrás, em magnitude e impacto médio, à desenvolvida nos quatro grandes países (Alemanha, França, Itália e Reino Unido) ", revela Orfeu Bertolami.
De resto, segundo o investigador do Instituto Superior Técnico, o trabalho desenvolvido em Portugal sobre problemas envolvendo a energia escura e a matéria escura tem tido também um "impacto assinalável" a nível global.
"Portugal está também a dar os primeiros passos, podendo assim destacar-se, na radioastronomia, com a participação no Polarized Galactic Emission Mapping Project, um projecto global liderado pelo Prémio Nobel de Física George Smoot, que consiste em 'ouvir' a nossa galáxia através duma antena localizada na Pampilhosa da Serra", explica.
Quanto ao impacto do Ano Internacional da Astronomia, Orfeu Bertolami elogia a adesão da comunidade científica, das instituições e do público português. "Em Portugal, o Ano Internacional da Astronomia permitiu a um público alargado conhecer a ciência que estuda o Universo. Com base nesta extraordinária experiência, é expectável que haverá um maior interesse dos jovens (e não só) pela astronomia, mas também pelas ciências em geral", reconhece.
"Contudo, há que se salientar que despertar o interesse das pessoas tem a si associado uma grande responsabilidade. Cidadãos com níveis de literacia científica mais elevada, exigem melhores universidades, instituições mais eficientes, uma sociedade mais dinâmica e criativa, cientistas, políticos, jornalistas e profissionais mais qualificados e capazes. Sob este ponto de vista o Ano Internacional da Astronomia foi também um meio de intervenção social, e devemos estar prontos para os novos desafios que se abrem. Temos que garantir a continuação dos projectos que foram iniciados com e pelo AIA 2009", defende Orfeu Bertolami.
O Ano Internacional de Astronomia ( http://www.astronomia2009.org/ ) é organizado em Portugal pela Sociedade Portuguesa de Astronomia, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, da Agência Ciência Viva e da European Astronomical Society (EAS).
"A Astronomia no Portugal de Hoje"
No dia em que se celebra o encerramento do Ano Internacional da Astronomia em Portugal, a Gulbenkian vai inaugurar uma exposição que pretende cativar os mais novos para a investigação em Astronomia.
Comissariada por António Pedrosa, director do Planetário de Espinho, a exposição "A Astronomia no Portugal de Hoje" pretende informar o público sobre os mais recentes desenvolvimentos em Portugal da ciência que estuda os astros, tanto a nível da investigação, como da divulgação científica. A visita à exposição, que integra material cedido pelo Observatório Europeu do Sul, é gratuita.
"Por outro lado, aborda-se o tema do ensino e investigação em Astronomia, onde se pode aprender astronomia, onde se pode seguir uma carreira em Astronomia, onde se faz investigação científica e com que ferramentas os astrónomos portugueses tem contado para fazer essa investigação", avança António Pedrosa. "Esta iniciativa dirige-se ao público em geral, não especialista em astronomia. Está sobretudo pensada para os mais novos que muitas vezes sonham com os astros e estão numa fase de maturação e pretendem escolher uma carreira para o seu futuro. A Astronomia por ser uma ciência aglutinadora de tantos saberes acaba por ser muito cativante", sublinha.
Para António Pedrosa, em Portugal, a Astronomia é uma ciência "com muita gente altamente competente," quer na investigação, quer no ensino ou na divulgação. "A nível da investigação, é uma das áreas onde os artigos (estudos) publicados tem mais impacto internacional. No ensino somos dos países do mundo onde mais Astronomia é ensinada nas escolas", frisa.
Segundo o cientista, doutorado em Astrofísica Estelar, o Ano Internacional da Astronomia mostrou, de resto, "uma comunidade organizada, que se começou a preparar com quase dois anos de antecedência um conjunto enorme de iniciativas tendo havido uma excelente adesão do público". Por outro lado, sublinha, "ter sido um português [Pedro Russo] o Coordenador Internacional do Ano Internacional da Astronomia não pode deixar de ser um motivo de orgulho para o país".
A exposição "A Astronomia no Portugal de Hoje" ficará patente na Gulbenkian durante oito dias.
400 anos depois, Portugal traduz primeira obra de Galileu
É uma das obras mais relevantes na história do pensamento ocidental: "Sidereus Nuncius. O Mensageiro das Estrelas", publicado em Março de 1610, é o primeiro livro de Galileu Galilei a ser traduzido integralmente em Portugal. Com tradução e anotações de Henrique Leitão, vai ser lançado na sessão de encerramento do Ano Internacional da Astronomia.
"É um livro único na história da ciência e uma das obras mais importantes em toda a história do pensamento ocidental. Nunca na história da ciência uma obra provocou tanta comoção e deu origem a debates tão acesos como este", avança o investigador e tradutor, Henrique Leitão."O título, 'Mensageiro das Estrelas' (ou 'Mensagem das Estrelas', porque o latim permite as duas formas) tem o sentido de "Gazeta das Estrelas" ou "Mercúrio das Estrelas", isto é, tem uma clara conotação jornalística: relatar, em tom vivo e rápido acontecimentos e observações sensacionais", explica Henrique Leitão. Segundo o investigador do Centro de História das Ciências da Universidade de Lisboa, Galileu refere-se muitas vezes ao livro como um 'Aviso Astronómico', exactamente com o mesmo sentido. "Ou seja, Galileu escreveu para causar sensação",reconhece.
Com nota de abertura do investigador belga Sven Dupré, um dos maiores especialistas mundiais no telescópio de Galileu, o livro integra um estudo e a tradução de Henrique Leitão, uma cronologia e ainda um facsimile integral da edição original do "Sidereus Nuncius", de 1610.
Investigador e professor na Universidade de Lisboa, Henrique Leitão é coordenador da comissão científica responsável pela publicação das "Obras de Pedro Nunes", pela Academia das Ciências de Lisboa e pela Fundação Calouste Gulbenkian. Colabora regularmente com a Biblioteca Nacional de Portugal, onde já comissariou quatro exposições e onde dirige o projecto de catalogação dos manuscritos científico. Henrique Leitão é membro de várias sociedades científicas portuguesas e estrangeiras, entre as quais a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia de Marinha, a Académie Internationale d’Histoire des Sciences, a European Society for the History of Science (membro do «Scientific Board») e a History of Science Society.
O Prémio “A melhor Pergunta sobre Astronomia” será entregue por João Caraça, Director do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian e coordenador do ciclo de conferências “Nas Fronteiras do Universo”. De acordo com as palavras de João Caraça “o concurso revelou o enorme entusiasmo mas também a maturidade dos jovens estudantes portugueses no questionamento das grandes ideias sobre o universo”.
Orfeu Bertolami
Nasceu em São Paulo, Brasil, em 1959. Licenciado em Física pela Universidade de São Paulo em 1980, obteve o mestrado no Instituto de Física Teórica em São Paulo em 1983, o Grau Avançado em Matemática na Universidade de Cambridge em 1984 e o doutoramento em física teórica na Universidade de Oxford em 1987. Desenvolveu actividades de investigação no Institut für Theoretische Physik em Heidelberg, na Alemanha, no Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) em Genebra, na secção de Turim do Istituto Nazionale de Fisica Nucleare e na Universidade de Nova Iorque. É Professor Associado no Departamento de Física do Instituto Superior Técnico, onde lecciona desde 1991. Obteve a Agregação pela Universidade Técnica de Lisboa em 1996. Publicou mais de 190 artigos científicos, em livros, jornais, actas de conferências, dos quais mais de 125 em revistas especializadas nas áreas da astrofísica, cosmologia, física e propulsão espacial, gravitação clássica e quântica, e em teorias de cordas. É autor do livro de divulgação sobre a história dos avanços na astronomia, cosmologia e teorias da gravidade, O Livro das Escolhas Cósmicas, Editora Gradiva 2006 e co-autor, com Martin Tajmar, de um livro técnico sobre aspectos da gravidade e da propulsão no espaço editado pela Agência Espacial Europeia Gravity Control and Possible Influence on Space Propulsion: A Scientific Study, European Space Agency 2002. É autor de artigos seminais em cosmologia, gravitação e sobre a possível violação de simetrias fundamentais tais como a simetria CPT, a invariânça de Lorentz e o Princípio de Equivalência. É co-autor da proposta que unifica os conceitos de energia escura e matéria escura, o modelo do gás de Chaplygin generalizado, e que deu origem ao artigo de física mais citado de sempre escrito em Portugal. Foi galardoado com o terceiro prémio da Gravity Research Foundation dos Estados Unidos em 1999, com o Prémio União Latina de Ciência em 2001, e o Prémio Universidade Técnica de Lisboa/Santander Totta de excelência científica nas áreas de Biofísica e Física em 2007. Colabora em projectos europeus no estudo da física da matéria escura, da energia escura e física fundamental no espaço, com a Agência Espacial Europeia e com o Jet Propulsion Laboratory da NASA na Califórnia.
3.11.2010
"Guardado e selado num crânio humano
Fechado em cela triste e sombria
Cansado pelo tédio dos anos passados
Jaz agora um espírito adormecido.
Embalado no seu sono de morte
Pela cena insulsa do professor,
O brilho dourado da televisão,
E o constante zumbido da propaganda de imprensa
Um fantoche execra encarar a luz.
Mas a tragédia fere e mostra a verdade:
Para a vida, neste mundo, há um caminho melhor
Assim o espírito acorde para a Aurora, na luz do dia."
L. Peter
Há quem ande num desatino por temer os blogs, vociferando que estes são uma ameaça constante ao bom trato da língua, contudo, quer queiram ou não, é neles que a verdadeira resistência da cultura portuguesa, de sucumbir ameaçada sob a pata europeizante da globalização, se vai fazendo, não tanto com a intensidade desejável (e aconselhada) para tamanha empresa, mas pelo menos com a agilidade e compromisso que esta merece, sobretudo nos quinhentos do reinadio, da paródia, da ironia, sem as pitadas de cinismo com que o desespero político-partidário, qual Mírdeas fadado, transforma em caca tudo o que toca. Todavia, isto não acontece por acaso. Sucede porque à abdicação constante dos órgãos e instituições competentes, advém a espécie de inveja que acompanha quem, ao assistir à concretização de algo que estava na sua alçada, não o fez, arriscando-se assim a vê-lo feito por quem não acatou o dolce fare niente decretado, e se insurgiu contra o status quo vigente, provocando a dor de corno usual e costumeira, típica do marialvismo da impotência perante as suas Severas, que insiste em fazer finca-pé no se não queres ser minha então também não serás de mais ninguém, que alimenta o sonho e choradinho de quem estragou o que tinha, mas é lesto em arranjar bodes expiatórios para o desleixo e maus tratos a que votou as consortes. Os jornais, as editoras, as rádios, as televisões, as associações de autores, os institutos, os grémios e ministérios, correram com os autores, os cronistas, os poetas, os prosadores, os fãs da lusofonia, em favor dos inglesados da cultura, férteis em todo o tipo de asneiras literárias, mas criativos no arrecadamento dos cobres, lampeiros no inglês, pese embora incapazes de discernir entre um texto e outro as diferenças de estilo ou linguajar. Trataram a língua como se fossem empreiteiros da construção e obras públicas, medidas pelo volume dos betões edificados ou pelos quilómetros de alcatrão estendidos entre desertos idiomáticos. Deram prémios a pessoas, e por amizades ou cumplicidades justificados, em de o fazerem a obras e criações, por júris isentos, imparciais, conscientes, responsáveis e tecnicamente sofríveis. Impregnaram os discursos oficiais com a humidade modelar do burro coça o burro, engrossando o caldo aos alquevas do politicamente correcto, no regadio das confrarias e corporativismos vários, com vista a encherem a atmosfera cultural portuguesa com os coloridos famosos balões de soro (subsídios) da mediocridade bem falante e dos salamaleques próprios da falsa portugalidade, fazendo apenas o bem quando esse feito propiciasse lesar outrem. Foram exímios no a favor desde que com isso pudessem ser, demonstrassem ser, e efectivamente fossem contra alguém, sobretudo se esse alguém se estivesse nas tintas para o culto personalista que comungavam, ou não aplaudisse com exorbitância e ostensivamente o chorrilho de baboseiras com que enfeitavam os seus quotidianos, enquanto personalidades de crédito nas praças da coscuvilhice, maledicência e destilarias de fel, onde passeavam frequentemente o glamour e pedantismo, irremediavelmente anexo e consequente.
Afugentaram quem lhes podia valer, e hoje, nas correntes de escrita em que ninguém escreve, nos encontros que ninguém frequenta, das edições que ninguém compra, lamentam-se como Nise do seu estado, no jeito de dizer do Elmano Sadino, pela indiferença votada, por andarem todos mais vidrados com os blogs do quem com as suas pindéricas borradelas no almaço e pardo dos enchidos e fumados, a que dão virtudes de enriquecimento, não por os venderem, não por os comprarem e lerem, mas sim por com eles conseguirem contributos e dádivas generosas das instituições que os patrocinam por compadrio político, normalmente arregimentadas nos regionalismos e bairrismos da competitividade provinciana, que nos assola desde o império do Botas até à Europa dos inglesinhos na cultura dos luteranos papistas, xenófobos e de cobres feudais trancados em masmorras de sete portas. Incapazes de reconhecer que estão queimados, abrasados, por um incêndio que eles próprios provocaram, e obrigados a pregar num deserto que a si mesmos devem, atribuem a causa da sua inactividade à actividade que a bloguistíca vai tendo, aos leitores que vai ganhando e lhe ficam fiéis, aos momentos de debate que geram, à partilha que facilitam e à troca de ideias, valores e conhecimentos que concretizam. Moribundos, quais mortos sem sepultura, apenas aguardam o golpe de misericórdia que o futuro lhes reserva; porém, ao invés de agir e usufruir o que de melhor o presente lhes propicia, seguindo até o exemplo dos países desenvolvidos, em que o direito a aceder à Internet é um direito fundamental, como o direito à educação, à saúde, à habitação, tudo fazem para impedir que mais portugueses lhe acedam, mais famílias a desfrutem, e mais cidadãos reforcem a dignidade através da sua utilização. Enfim, continuam vítimas do seu veneno e desdém, que só quando vêem que os demais estão mal, se sentem deveras bem.
Ah, pois!
3.08.2010
"Muitas vezes o destino entrega nas mãos do homem,
todos os materiais de felicidade, só para ver
até que ponto com esses materiais ele pode tornar-se
o ser mais infeliz que existe à face da terra."
D. Marquis
Há, na vida de quem se insurge contra a desfaçatez dos dias, alturas em que não basta dizer que queremos mudar, gritarmos que queremos melhorar as nossas existências, para que isso se revele como viável, possível ou, até, apetecível perante nós mesmos, senão credível ante os demais, com quem tivemos o desplante, o desaforo, o descaramento e ousadia de desabafar, conviver, relacionarmo-nos, quer pessoalmente como pelos ajustes e exigências de profissão, uma vez que teorizar nem sempre é assim tão praticável conforme desejaríamos que fosse. Colamo-nos aos ideais, achamos que entre eles e a realidade não pode haver assim uma diferença tão medonha, cruel, inaudita, todavia, conspiremos ou não contra esse complot, o que é certo, é que, pese embora deveras contrafeitos, mais tarde ou mais cedo, não nos resta outro caminho senão admitir que uma delas, teoria ou realidade, tem fortes probabilidades de estar errada. Então, recorremos a ajuda exterior, seja a de técnicos de afinação do ser e identidade, seja à de mecânicos de atmosferas e ambientes, pois se se reconhecem desencontros entre a nossa visão e o objecto percepcionado, isso tem necessariamente de ser causado por uma inegável avaria de um deles, ou nosso, de quem vê, ou da coisa em vista. Branco é, galinha o põe, que muito pode quem determina, e as causas, neste imbróglio, são quem mais ordena e potencia.
Porém, até pode acontecer estarem as duas partes (momentaneamente) desconsertadas, como ambas certas, devendo-se a arrelia do desacerto a outros impedimentos, menos evidentes, no plano das determinantes e (d)efeitos, contudo sobremaneira contundentes sob a perspectiva dos resultados. Se dirá, porventura, consequência de contratempos, circunstâncias e respectivas, porque inalienáveis, circunspecções (de método, de área, de universo como de terminologia) adjacentes. Ponderações inevitáveis, prudências observativas, cautelas de inclinação, tempo de incidência do olhar sobre o objecto, lente motivacional, características indissociáveis ao indivíduo percuciente: acuidade, agudeza de espírito, capacidade de abstracção, olhar penetrante, ou, pelo contrário, diferencial correlativo, subjectividade, moleza do sujeito observante e tantarantantice manifestadas. Que o mesmo é dizer como, já lá vai há muito tempo, referiu Victor Hugo: "os grandes erros são muitas vezes feitos como as cordas, de uma quantidade de fios."
Ora, o fio desta meada, encontra-se precisamente no vector mais afiado da nossa convergência social, onde política e corrupção, além de sinónimos e termos familiares, por terem contraído matrimónio com a trambiquice corporativista, desde os imemoráveis idos da História, tanto da real como da fabricada, tanto da autêntica como da teórica, da factual como da ideal, digamos assim, para acertar o passo com a charla do sermão, posto que se complementam reciprocamente e uma sem a outra morreriam, irremediavelmente, por falta de cuidados e assistência no percurso. Ou seja, a política é feita de modo a facilitar a corrupção e depois desta cometida vem o corporativismo e cala-a, sobretudo para não prejudicar a imagem e bom nome da instituição, do ministério, da fundação, da ordem profissional, da escola, da autarquia, do hospital, do banco, da empresa, dos serviços centrais ou periféricos, considerando que, como aos caminhos, todos vão dar a Roma, ao Vaticano, à Mafia, ao sindicato, à confraria ou à tasca do calote e manguito à acompanhar, com bordalos de escabeche. As "crianças" maiores zupam, zurzem, arreiam nas mais pequenas e frágeis, nas escolas, nos corredores, nas salas, nos balneários e ginásios, nos campos de recreio e desporto, incluindo levam-nas ao suicídio, mas vem o corporativista-mor da Associação de Pais, ou dos profs. com responsabilidades administrativas, até aos contínuos, afirmar aos quatro ventos que não, que não há bullyng na escola, nem violência, quanto muito umas desavenças próprias da idade, de vez em quando, e que mesmo fora dela, onde não podem fazer nada, acham isso muito difícil de acontecer. Aliás, rematam, professores, alunos, pais, auxiliares de acção educativa e comerciantes das redondezas dão-se todos muito bem, como uma família. E apetece lembrar/esclarecer que os mais cruéis e hediondos dos crimes acontecem sempre dentro dela, da família, incluindo daquela que até é sagrada, como a família dos padres católicos irlandeses onde ir ao cu à criançada não era uma tragédia, mas uma secular tradição, que a corporação dos seus bispos calou, descriminalizou, multiplicou, disseminou com medo de sujar a imagem da Igreja, emporcalhar as talhas douradas ou grafitar os brocados da opa... Coincidências!
Na polícia judiciária, polícia de segurança pública, empresa de segurança privada, associação motard, clube náutico, instância turística e administrações portuárias, ou de marina, guarda republicana, ONG's e IPSS's, santas casas e lares, traficam-se drogas, influências, fazem-se negociatas escusas, maltratam-se idosos e pares que não sabem ficar calados, todavia essas "confrarias" são inalteravelmente as mais idóneas e exemplares, baluartes da competência e cidadania, de invejáveis palmarés e prestígio, em Portugal, na Europa e no estrangeiro, a que não há que atribuir a mínima mácula num mundo tão perverso e perigoso, malévolo e pejado de convites vários ao descaminho de menores e adultos distraídos, tão distantes dos valores da família que essas nomeadas instituições preservam, protegem, propalam e (contrabandeiam) disseminam – incluindo a literatura, a filosofia e a ciência, que estão recheadas de exemplos e incitam à liberdade, à consciência cívica, à responsabilidade, à emancipação e ao conhecimento. Até à política!, como sabemos pelos (tele)jornais, a quem as parangonas do activismo radical dá audiência garantida.
Na saúde, digamos, nos hospitais, não raramente matam pessoas que, sem qualquer dúvida, a última coisa que querem é morrer, porquanto se o quisessem não recorreriam à ajuda médica e ao serviço nacional de saúde, a fim de se tratarem, todavia vítimas de erros, desleixes, negligência, passam para o outro lado, às vezes mesmo sem as famílias desconfiarem minimamente do que lhes aconteceu; contudo, a Ordem dos Médicos, sempre que se fala em eutanásia manifesta-se contra, toma-se de brios, defende a moral católica apostólica da classe, e argumenta que os seus membros foram formados para salvar vidas, não para as decepar, de onde, portanto, se adivinha que matar por erro é correcto e justo, mas para aliviar a dor e propiciar uma morte mais digna e humana a alguém, seria um gesto, uma prática, criminosa e superiormente condenável. Em que ficamos? Até no matar temos dois pesos e duas medidas corporativamente registadas? Quem tem o direito de em nome de Deus se achar acima dele para decidir da obrigatoriedade de alguém viver, ainda que queira o contrário?
As pessoas que recorreram a um hospital lisboeta para fazer uma pequena intervenção cirúrgica ocular, não só não melhoram, como saíram de lá totalmente cegos, ou seja bastante pior do que estavam quando entraram nessa unidade de saúde, ocorrência que se vai generalizando, havendo mesmo quem se negue a recorrer aos hospitais portugueses para cuidar da sua saúde, sob a "desculpa" de temer sair de lá morto, como sucedeu à maioria dos conhecidos que a esses estabelecimentos recorreu, onde normalmente só estão os profissionais médicos que ainda não conseguiram colocação nos serviços de saúde privados, precisamente, porque ainda não são profissionalmente maduros e responsáveis para serem desejados pelas instituições particulares.
Delgado Domingos – professor do Instituto Superior Técnico – garantiu, em entrevista na RDP1(08.02.2010), que o modelo de previsão aplicado pelo Instituo de Meteorologia português não contempla, nem se coaduna com a Madeira e os Açores, posto que tendo sido aplicado o modelo matemático já há anos referenciado, facto esse do indesmentível conhecimento governamental, principalmente do ministro Mariano Gago, terem podido evitar-se dezenas de mortes na Madeira, se a previsão possibilitada pela aplicação do dito modelo tivesse sido feita, uma vez que daria a antevisão do cenário com uma semana de antecedência.
Por conseguinte, não restam dúvidas que, se de todos os animais conhecidos, o homem é não só o mais complicado como o mais fabuloso, que até nas suas teorias cria o obstáculo que as inutiliza e inviabiliza, com o facto de serem muito lindas e sobejamente impraticáveis, de entre os homens, os portugueses, com ou sem PEC à porta, além dos mais parecidos com esses seres que envergonham qualquer animal supostamente irracional, são também aqueles que não satisfeitos por serem fabulosamente complicados, são inclusivé os que conseguem elevar tudo o que é complicado à potência de pantominice, tramóia, embuste, plano oculto e estratégia política, quer dizer, politiqueira. É bom para entreter o funcionalismo desocupado, atrapalha e atrofia a vida aos contribuintes, parece que traz progresso mas atrasa significativamente o nosso desenvolvimento, consome rios de dinheiro, mas não resolve coisíssima nenhuma nem serve absolutamente para nada, excepto para enriquecer quantos sejam mais lestos e expeditos que as leis, como impedimentos legais à corrupção, ou a aplicação dessas leis, supostamente credíveis, objectivas, imparciais, independentes, rigorosas e suficientes. Enfim, são uns sortudos, pelo menos desde que os deuses se reuniram n'Os Lusíadas e dois deles, os mais desenfadados, votaram a nosso favor: Baco e Vénus. Por outras palavras, determinaram que éramos um povo que o que queria essencialmente, e para o que tinha vocação, era meninas e vinho verde. O que eu apoio incondicionalmente, sem resquícios de hesitação ou menor sombra de remorso... E quem é que não quer, hãn?!
3.05.2010
"Numa várzea sobre que soluçava o mar, apascentava Europa a sua boiada branca. Ao sol eram de noite os seus cabelos, ao luar eram sóis os seus olhos."
Aquilino Ribeiro, in O Touro Através a Mitologia e a História, publicado na ILUSTRAÇÃOPORTUGUESA de 16.11.1908
Mal sabia eu que a diferença existente entre o às vezes ter uma coisa e o às vezes não ter essa mesma coisa, depende em absoluto da maneira como as pessoas nos vêem e da consideração que têm por nós, ou do rótulo que nos colaram (à revelia, e sem que nos conheçam suficientemente para o fazerem), porquanto afirmar que uma pessoa às vezes tem razão significa que, não obstante ser geralmente falha dessa razão, às vezes, quiçá de rara frequência, até evidencia alguma, o que, lógica e racionalmente, está inversamente proporcional ao às vezes não tem razão, considerando ser isso sinónimo de geralmente a ter, embora, pontualmente ou esporadicamente, a perca por isto ou por aquilo. Ora, como numa conversa recente descobri, o busílis reside precisamente em haver pessoas «capacitadas» para coisificar tudo, incluindo a razão, que põem numa balança e pesam como ao toucinho, matéria peganhenta de que Alá também não gostava, fazendo da razão uma fita de papel higiénico, com relevante picotado, a que assoam o seu monco intelectual sempre que querem emporcalhar a imagem de outrem, propondo como Arquimedes, que essa viscosidade derramada seja correspondente ao volume da inteligência mergulhada nos objectos do conhecimento, atribuindo à razão uma medida (alqueire) de propriedade, título honorário, diploma ou moeda, sujeita a flutuações cambiais consoante a excitação que as pessoas lhe provocam na pituitária dos corporativismos serôdios.
Metem a razão no cu... – perdão! –, no cocuruto das suas carreiras, e atribuem-lhe valor de bandeirola para limitar o quadradinho de cagança narcísica, qual campo de contenda e peleja onde esgrimirão o gosto deste e o não gosto daquele, como se isso fosse, da vida, o supra-sumo de suas excelsas e apaniguadas (e medíocres) existências, achando-se inclusive com sobejo mérito para avaliar os demais, essencialmente segundo a sua bitola, autoproclamando-se não só avaliadores, mestres e especialistas – na arte da má-fé e maledicência –, mas ainda, e igualmente (por habilitados e exímios), medida para a bondade alheia, para, lá do cume do seu império, açularem os cães da alma a quem não lhe teça loas dia sim, dia sim, lhe bata histéricas palminhas e apelide de pérolas preciosas as asneiras que proferem, quase sempre clichés velhos e gastos, ecos da outra senhora que experimentava o transe místico sob paixoneta assolapada pelo misógino Botas, sublimando a mais-valia dos provincianismos arcaicos e suburbanos, por cuja tacanhez, provincianismo e manifesta desconfiança (ou alienação) pela inteligência dos outros, nunca foram capazes de esconder a inveja (unhas) nos sapos que tiveram que engolir, sobretudo nos de mais recentes coaxares, em deriva das alterações climáticas, destruição da orla costeira nacional, cheias, intempéries e catástrofes, como a que aconteceu na Madeira, falecimento do modelo económico, subida galopante do défice e endividamento, insustentabilidade do sistema de segurança social, etc.
Pois bem, vamos então acertar isto, de uma vez por todas: jamais pretendi ter razão, fosse no que fosse, e apenas por tê-la, vendo nela um cavalo de batalha, da qual, em manifesta vantagem argumentativa poderia colher louros, prosperando com o inegável abespinhamento dos outros, lucrando privilégios com o empecilho moral e intelectual da razão, nem me ative a racionalizar quando podia aprofundar esta ou aquela temática mais polémica, portanto, era conveniente que os detentores da verdade e da sensatez, da imaculada ventura que é olhar os demais para se esconderem de si mesmos, se deixassem de escandalizar com o facto de haver alguém que me considere poeta, quando faço poesia, opinion maker quando gizo crónicas, crítico quando teço críticas, escritor quando desenrolo enredos, (e-)leitor quando me envolvo em comunidades/grupos de leitura, político quando me candidato a eleições, ecologista se me insurjo contra a insustentabilidade social, ambiental, económica, territorial e humana, democrata quando defendo a cidadania em vez do corporativismo, a participação em lugar da representatividade – porque se o faço, é porque sou humano, responsável e consciente, no usufruto das liberdades, direitos e garantias que a Constituição Portuguesa me confere, e não mais um touro branco do rebanho de bestas para quem a benção do almocreve-mor é quase uma dádiva divina. Que prefiro às vezes não ter razão, a permitir que me colem os rótulos que melhor convenham a quem ostraciza mas diz que tolera, diminui mas argumenta, que o não faz intencionalmente, mas apenas repete uma maneira de dizer. Porque o não é, mas uma maneira de difamar. De amolar o próximo, de apoucar a sua inteligência. Aliás, se são assim tão bons, tão competentes e tão dignos, porque é que Portugal está como está, se foram sempre quem superintendeu aos seus destinos?
Limpem a vossa razão à parede, que esse será o grafite rupestre da magnanimidade racional que tão bem executaram enquanto puderam. A herança que os vossos filhos e os filhos dos demais, vão ter carregar, e sofrer, vida fora. E parabéns! (Já agora...)
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