Abrasamentos por Arrastão
"Guardado e selado num crânio humano
Fechado em cela triste e sombria
Cansado pelo tédio dos anos passados
Jaz agora um espírito adormecido.
Embalado no seu sono de morte
Pela cena insulsa do professor,
O brilho dourado da televisão,
E o constante zumbido da propaganda de imprensa
Um fantoche execra encarar a luz.
Mas a tragédia fere e mostra a verdade:
Para a vida, neste mundo, há um caminho melhor
Assim o espírito acorde para a Aurora, na luz do dia."
L. Peter
Há quem ande num desatino por temer os blogs, vociferando que estes são uma ameaça constante ao bom trato da língua, contudo, quer queiram ou não, é neles que a verdadeira resistência da cultura portuguesa, de sucumbir ameaçada sob a pata europeizante da globalização, se vai fazendo, não tanto com a intensidade desejável (e aconselhada) para tamanha empresa, mas pelo menos com a agilidade e compromisso que esta merece, sobretudo nos quinhentos do reinadio, da paródia, da ironia, sem as pitadas de cinismo com que o desespero político-partidário, qual Mírdeas fadado, transforma em caca tudo o que toca. Todavia, isto não acontece por acaso. Sucede porque à abdicação constante dos órgãos e instituições competentes, advém a espécie de inveja que acompanha quem, ao assistir à concretização de algo que estava na sua alçada, não o fez, arriscando-se assim a vê-lo feito por quem não acatou o dolce fare niente decretado, e se insurgiu contra o status quo vigente, provocando a dor de corno usual e costumeira, típica do marialvismo da impotência perante as suas Severas, que insiste em fazer finca-pé no se não queres ser minha então também não serás de mais ninguém, que alimenta o sonho e choradinho de quem estragou o que tinha, mas é lesto em arranjar bodes expiatórios para o desleixo e maus tratos a que votou as consortes. Os jornais, as editoras, as rádios, as televisões, as associações de autores, os institutos, os grémios e ministérios, correram com os autores, os cronistas, os poetas, os prosadores, os fãs da lusofonia, em favor dos inglesados da cultura, férteis em todo o tipo de asneiras literárias, mas criativos no arrecadamento dos cobres, lampeiros no inglês, pese embora incapazes de discernir entre um texto e outro as diferenças de estilo ou linguajar. Trataram a língua como se fossem empreiteiros da construção e obras públicas, medidas pelo volume dos betões edificados ou pelos quilómetros de alcatrão estendidos entre desertos idiomáticos. Deram prémios a pessoas, e por amizades ou cumplicidades justificados, em de o fazerem a obras e criações, por júris isentos, imparciais, conscientes, responsáveis e tecnicamente sofríveis. Impregnaram os discursos oficiais com a humidade modelar do burro coça o burro, engrossando o caldo aos alquevas do politicamente correcto, no regadio das confrarias e corporativismos vários, com vista a encherem a atmosfera cultural portuguesa com os coloridos famosos balões de soro (subsídios) da mediocridade bem falante e dos salamaleques próprios da falsa portugalidade, fazendo apenas o bem quando esse feito propiciasse lesar outrem. Foram exímios no a favor desde que com isso pudessem ser, demonstrassem ser, e efectivamente fossem contra alguém, sobretudo se esse alguém se estivesse nas tintas para o culto personalista que comungavam, ou não aplaudisse com exorbitância e ostensivamente o chorrilho de baboseiras com que enfeitavam os seus quotidianos, enquanto personalidades de crédito nas praças da coscuvilhice, maledicência e destilarias de fel, onde passeavam frequentemente o glamour e pedantismo, irremediavelmente anexo e consequente.
Afugentaram quem lhes podia valer, e hoje, nas correntes de escrita em que ninguém escreve, nos encontros que ninguém frequenta, das edições que ninguém compra, lamentam-se como Nise do seu estado, no jeito de dizer do Elmano Sadino, pela indiferença votada, por andarem todos mais vidrados com os blogs do quem com as suas pindéricas borradelas no almaço e pardo dos enchidos e fumados, a que dão virtudes de enriquecimento, não por os venderem, não por os comprarem e lerem, mas sim por com eles conseguirem contributos e dádivas generosas das instituições que os patrocinam por compadrio político, normalmente arregimentadas nos regionalismos e bairrismos da competitividade provinciana, que nos assola desde o império do Botas até à Europa dos inglesinhos na cultura dos luteranos papistas, xenófobos e de cobres feudais trancados em masmorras de sete portas. Incapazes de reconhecer que estão queimados, abrasados, por um incêndio que eles próprios provocaram, e obrigados a pregar num deserto que a si mesmos devem, atribuem a causa da sua inactividade à actividade que a bloguistíca vai tendo, aos leitores que vai ganhando e lhe ficam fiéis, aos momentos de debate que geram, à partilha que facilitam e à troca de ideias, valores e conhecimentos que concretizam. Moribundos, quais mortos sem sepultura, apenas aguardam o golpe de misericórdia que o futuro lhes reserva; porém, ao invés de agir e usufruir o que de melhor o presente lhes propicia, seguindo até o exemplo dos países desenvolvidos, em que o direito a aceder à Internet é um direito fundamental, como o direito à educação, à saúde, à habitação, tudo fazem para impedir que mais portugueses lhe acedam, mais famílias a desfrutem, e mais cidadãos reforcem a dignidade através da sua utilização. Enfim, continuam vítimas do seu veneno e desdém, que só quando vêem que os demais estão mal, se sentem deveras bem.
Ah, pois!
Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Onde a liquidez da água livre
Arquivo do blogue
- ► 2019 (152)
- ► 2017 (160)
Links
- A Aliança
- A Cidade e as serras
- A Dobra do Grito
- A Espuma dos Dias
- A Sul
- A Vida Não É Um Sonho
- AMI
- Abrupto
- Ad-Extra
- Aldeia T
- Alentejanos de Todo o Mundo Uni-vos
- Alexandria à Gomes de cá
- Algarve Renovável
- Alguém Me Ouve
- Almocreve das Petas
- AmBio
- Amazónia
- Amigos do Botânico
- An Ordinary Girl
- Ante-Cinema
- Ao Sabor do Toque
- Astronomia 2009
- Aves de Portugal
- Azinheira Gate
- BEDE
- BIBLIOTECÁRIO DE BABEL
- Barros Bar
- Bea
- Bede
- Biblio
- BiblioWiki
- Bibliofeira
- Bibliofeira
- Biblioteca António Botto
- Biblioteca Digital
- Biblioteca Nacional
- Biblioteca Nacional Digital
- Biblioteca Nómada
- Biblioteca do IC
- Bibliotecas Portuguesas
- Bibliotecas Públicas Espanholas
- Bibliotecas-
- Bibliotecário de Babel
- Bibliotecários Sem Fronteiras
- Biodiversidade
- Biosfera
- Blog dos Profs
- Blogs em Bibliotecas
- Blogue de Letras
- Boneca de Porcelana
- Burricadas
- CEAI
- CFMC
- CIBERESCRITAS
- Cachimbo de Magritte
- Caderno de Paris
- Campo de Ideias
- Canil do daniel
- Cantinho das Aromáticas
- Canto do Leitor
- Capas
- Casa da Leitura
- Centenário da República
- Centro Nacional de Cultura
- Centro de Estudos Socialistas
- Cercal da Eira
- Ciberdúvidas
- Circos
- Citador
- Ciência Viva
- Clima 2008
- Clube de Jornalistas
- Coisas Simples e Pequenas
- Coisas da Cristina
- Coisitas do Vitorino
- Comer Peixe
- Cometas e estrelas
- Comissão Europeia Portuguesa
- Companha
- Conjugador de Verbos
- Crescer Com Saúde
- Crítica Literária
- Crónicas do Planalto
- Câmara Clara
- DAR
- Da Literatura
- Da Poesia
- Deixa Arder
- Depois do Desenvolvimento
- Devaneios
- Diagonal do Olhar
- Dias com Árvores
- Dicionário de termos Literários
- Diário da República
- Doce Mistério
- Dona Gata
- Dreams
- Ecologia Urbana
- Ecosfera
- Edit On Web
- Educação Ambiental na Net
- Ellenismos
- Ensayo Pessoa
- Escola Pública
- Escolhas de Sofia
- Escribalistas
- Espiritismo
- Estação Liberdade
- Estudio Raposa
- Eurocid
- Evolução da Espécie
- Extratexto
- Farol de Ideias
- Fauna do Cerrado
- Ferrus
- Ficção
- Floresta do Interior
- Folhas de Poesia
- Fongsoi
- Fonte de Letras
- Fotos da Natureza
- Fotos do Nick Brandt
- Fratal 67
- Frenesi
- Fundo Português do Carbono
- GOSGO
- Google News
- Governo
- Gulbenkian
- HSI
- Habitat Ecológico
- História universal
- IDP Democracia Portuguesa
- Ideotário
- Impressões Literárias
- Incrivelmente Perto
- Infografando
- Instituto Camões
- Jacques Brel
- Jornal das Freguesias
- José Saramago
- Justiça e Cidadania
- Justiça e Democracia
- Kampus de Ideias
- LER
- Leite de Pato
- Leitora Crítica
- Leoa Verde
- Linha de Pesca
- Literatura e-
- Livre Expressão
- Livros e Críticas
- Lumiarte
- Lusa
- Lusitânica
- Luso Borboletas
- Madeja de Palabras
- Malaposta
- Maldita Honey
- Manuela
- Maria Clara
- Missixty
- Movimento Perpétuo
- Movimento Rio Tinto
- Mundo Ecológico
- Mundo de Pessoa
- Mundo dos Golfinhos
- Mutações
- NICK BRANDT
- Nada Niente
- National Geographic
- Natura
- Nick Brandt
- Nobel Prize
- Notas e Apostillas
- Notícias de Castelo de Vide
- Nova Economia
- Nova Floresta
- O Bocas
- O Boomerang
- O Coiso
- O Currupião
- O Escribalista
- O Fingidor
- O Indigente
- O Janesista
- O Parcial
- O Silêncio dos Livros
- OIT
- OREE
- Objectiva Campo Maior
- Oficina de Poesia
- Olho Neles
- Omj
- Ondas 3
- Opinião Socialista
- Os Ribeirinhos
- Os Verdes
- Othersky
- POUS
- POUS Portalegre
- Palavra Criativa
- Pandora e Adrian
- Parlamento
- Parlamento Global
- Partido Pelos Animais
- Pedro Marques
- Per-Tempus
- Photo-a-Trois
- Photos e Scriptos
- Pimenta Negra
- Planeta Azul
- Planeta Azul
- Plano Nacional de Leitura
- Podolatria
- Poemas Diários
- Poesia Ilimitada
- Poesia Saiu à Rua
- Poesia de Gabriela Mistral
- Poesias e Prosas
- Ponto
- Ponto Cinza
- Por Mão Própria
- Por Um Mundo Melhor
- Porbase
- Porosidade Etérea
- Portal da Literatura
- Portal da Língua
- Portalegre On Line
- Português Exacto
- Presidência da República
- Projecto Gutenberg
- Projector do Sótão
- Putas Resolutas
- Pés de Gata
- Qualidade do Ar
- Queridas Bibliotecas
- Quintas Com Livros
- RELEITURAS
- Raquel
- Raízes
- Receitas da Lígia
- Reconstruir a Esperança
- Rede Cultural
- Releituras
- República Laica
- Reservas Naturais
- Retalhos de Leitura
- Revista Diplomática
- Revista Portuguesa
- Rio das Maçãs
- Robot Intergaláctico
- Rouge de Garance
- Rua Nove
- SEVE
- SOS Praia Azul
- SOS Vida
- Sais de Prata
- Sara
- Sara P
- Saumon
- Schmoo-Schmoo
- Schopenhauer
- Selvagens
- Seve
- Sinusite Crónica
- Sob Pressão Não Consigo
- Sociedade Civil
- Sombra Verde
- SonoPoesia
- Stand-Up
- Tempo das Cerejas
- Terra de Encanto
- Todas as Letras
- Tu Indecisa
- UALG
- UNESCO
- Umbigo
- Ursula
- Usina de Letras
- Utopia
- Verduras Factuais
- Verão Verde
- Viagens no Meu Sofá
- Viajarte
- Vida Involuntária
- Vida das Coisas
- Viver Literatura
- Walkyria
- Wild Wonders
- Wildlife
- Y2Y
- Zeariel
- e-cultura
- kARINA
- À Margem
- Árvores do Norte
Acerca de mim
- Joaquim Maria Castanho
- Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português
Sem comentários:
Enviar um comentário