6.14.2020

#ALVALUZ #AMENOCLIMA






ALVA LUZ, AMENO CLIMA


Mergulho em recordações…
Abro a voz pra respirar-te.
Redesenho-te por secções
Onde as partes são ambiente
Unidas até serem arte,
Sentidas até serem gente.


Não há mar que te desconheça
Não há céu que te não cante,
Nem sentir que te desmereça
Mesmo se estás distante.


Esse ora assim destilado
Serenidade (e exatidão),
Quase afeto amassado
Com o cuidado de tua mão
Que assina por bem, no final
O teu olhar, meigo e plural,


Que traz o céu salpicado
De azul só entre as nuvens
Cinza e branco prateado
Entre as folhas e as vagens
Entre verde o casario
Quase suspenso dum fio...
Jardim pra que não há margens,
Nascente pra mais que um rio.

E que, por que assim, sendo
A vida aí não esgota
Ainda que ocasos tendo,
Vai subindo, vai descendo
Balanceado na rota.

Como por laivos de prata,
Como um céu de platina,
Onde, se ao azul tapa,
Também descanso ensina.
Porém se o azul destapa
É alva luz, ameno clima.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

6.12.2020

TER OU NÃO TER JUÍZO




  TER OU NÃO TER JUÍZO


Se vires chegar a gaivota com o bico aloirado de sol, não estranhes; ela me anuncia.
Se vires o pôr-do-sol raiado de violetas e uma brisa que vem do sul, não estranhes; eles me anunciam.
Se vires uma criança descalça e desnuda correndo pela relva do Jardim do Palácio, não estranhes; ela me anuncia.
Se vires algum velho sem-abrigo lambiscando a beata nos dedos amarelados, não estranhes; ele me anuncia.
Se vires o louco profeta de barbas despenteadas e sujas discursando contra o consumismo exagerado, a energia nuclear, os Trumps e Bolsonaros na nossa COVID 19, não estranhes; ele me anuncia.
Se vires o cão esquelético e faminto como pool de todos os abandonados do mundo, não estranhes; ele me anuncia.
Se vires um papiro esvoaçando sobre a multidão mecanizada, não estranhes; ele me anuncia.
Se vires cair da janela anónima uma fotografia rasgada, não estranhes; ela me anuncia.
Se vires os teus olhos brilharem numa noite de luar, não estranhes; eles me anunciam.
Se vires um sorriso urgente num rosto desconhecido, não estranhes; é a minha forma de estar contigo.
E depois de eu ter chegado
Muito depois do ainda não
E muito antes do já de volta
Finge que me desconheces
Faz gestos de negativa revolta
Faz negaças de comiseração
Faz traquinices e benesses
E dá o sonho por acabado.

Mas depois de eu implorar
De pedir um pouco de atenção
Inventa nomes que me trocam
Inventa partidas que te preguei
Inventa razões de negação
Inventa ditos que te adulam
Inventa actos que não pensei
E belisca-me para acordar.

E então, depois, se acordando
Ajoelhar a teus pés, indeciso
Apenas pra te pedir um sorriso
Diz-me, seca, fria, rezingando
«Ora, que é isso? Por favor... Tem juízo!»

E se então vires voltar ao nada uma fotografia, um papiro, um louco, um velho, uma criança, um pôr-do-sol, uma gaivota, um sem-abrigo, um cão, um sorriso, não entristeças, nem estranhes; é tudo o que fui, que está de partida. É a nova era que principia!

Joaquim Maria Castanho


6.10.2020

O AFETO TAMBÉM SE CELEBRA



  O AFETO TAMBÉM SE CELEBRA


Eu te celebro saber, família, flor
Gesto rubro, em botões libertado
Que se sonhos vivem, sonham, são amor
Logo sonho, que se vê espelhado.
A mim, um me disse, eco sem temor
Que o sonhar sem fim, é ter cuidado
Estar lá, onde o sul ganha outra cor
Só porque pela Serra foi gerado.

O seu feito é notável, e agora
Quando alguém sonha, apenas diz
Que é a sentir que a alma decora
Aquilo que o coração sabe e quis.
Sabe e não esquece, ama e não cala
Se é ramo na mesa, quarto, sala...

Joaquim Maria Castanho 
Com foto de Mia Teixeira 

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português