ASPEREZA DESPERTA
Estamos quase dispostos e intercalados
Como sujeitos sem verbo (conjugável),
E nesse chão, os silêncios amontoados,
No pleno diverso que eles próprios são
Escrevem o futuro que, ainda visitável,
Faz parte do roteiro doutra dimensão…
E se tivemos sorte, não o reconhecemos;
Se já pedimos para ser ouvidos, só o olhar
O testemunhou; mas temos e não temos
Todas as condições essenciais para o voo
Que nos traga de onde nunca fomos, sequer
Nem nos interesse de nada saber, nem ficar
Arriscando perder também tudo que houver
Pra perder, apenas pla esperança de ganhar.
Somos a abertura determinada, essa fresta
Ínfima que há entre o todo e qualquer nada,
Com que a aspereza desperta nos empresta
A beleza do que é rude, e passos à estrada.
Joaquim Maria Castanho
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