HÁ ENTRADAS QUE SÃO SAÍDAS
Na ínclita inclinação, verbo nobre
Que se declina perante a plebe lusa,
O épico desassossego de quem é pobre
Trambica, argumenta, pede escusa.
Em questão ‘tá a receita que não cobre
O orçado fiscal, coisa assaz obtusa
De quem conta com ovo por pôr, e descobre
Que tal galinha, a pô-lo, se recusa.
Ó opíparos no divino alheio,
Então, vós, que gastais além do tido
Desconheceis quanto é rude e feio
Contar com o que não será recebido,
Para pagar dívidas já contraídas…?
– Orçar entradas assim, anseia saídas!
Joaquim Maria Castanho
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