CINZAS FULGENTES
Como a madrugada joanina,
Sei duma estrela estival
Que até ao sonho ensina
A ser o que é, unicamente,
E não outra coisa qualquer;
Para quem olho como gente
Mas vejo somente por mulher.
Tem o jeito mágico duma fada
E guarda no olhar esse elixir,
Com que a eternidade é nada
Pelo instante de um devir;
Dum estar que o viver transforma
Tirando-lhe tédio e ilusão,
Pondo o caos com essa forma
Que consideramos ter a paixão.
Pois por ela já de mim não sou
E daquilo que fui nada me sobra,
Que quem ama o ser à luz deitou
Até lh’arderem as cinzas…
– e obra!
Joaquim Maria Castanho
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