9.16.2010

As Sacerdotisas da Eternidade e da Vida, ou guerreiras por sacerdócio

O Alcance do Fogo

Trindade santa

Salvai,

Protegei,

Rodeai,

O lar,

A casa,

A família,

Esta vigília,

Esta noite,

Oh, esta vigília,

Esta noite,

E todas as noites,

Cada uma das noites,

Amem.

De Carmina Gadelica


E três vezes seus igualmente são os prodígios da palavra – nomeação/convocação, disposição/composição e realização/visionamento – druida que se há-de diluir na brisa das florestas, soutos e montados, cidades das árvores e do sonho vegetal, cuja raiz está na terra, ramos, folhas e flores estão no ar, são cor e energia do fogo, sobretudo nos equinócios, e destes no de Outono a que estamos prestes, e têm por seiva a água cristalina e pura das levadas profundas, sob a tutela da Tripla Deusa-Mãe, celebrada nos vales e montes deste nordeste alentejano, estabelecendo enfim quanto da existência só tem lugar no seu reino, material se matéria, espiritual se espírito ou cultural se cultura, que são iguais àqueles estádios em que a alma também se manifesta quer como corpo, quer como mente ou como ideia, por assim dizer, em tese, antítese e síntese, ou ser, não-ser e devir conforme a nomenclatura dos gregos antigos, dialéctica comum aos instrutores de sacerdotisas, neste caso do romance com o nome de Adamur, aquele que "aprendeu a arte de entrar e sair desta realidade, quando tal se torna necessário"(p. 32), capaz de abstracção, pois "viaja pelas dimensões e materializa-se quando e onde quer"(p.72), porquanto nunca desdenhou nem esqueceu que só se pode compreender o Criador procurando compreender as criaturas, como afiançou S. Columbano.

Os druidas combinavam as funções de sacerdotes com as de magistrados, sábios e médicos, colocando-se em relação aos povos das tribos celtiberas, de maneira bem semelhante à que os brâmanes da Índia, os magos da Pérsia e os sacerdotes do Egipto se colocavam diante de seus respectivos povos, delegando porém os seus poderes e funções em diversas estirpes de sacerdotisas que formavam e iniciavam dentro dos preceitos convenientes à governação dos castros e dos reinos. Lylwine, como também a tia-avó Gardwina, foram instruídas por Adamur para terem absoluta confiança em si mesmas, aceitar o ser humano que em si há e descomplicar todos os assuntos que dissessem respeito ao corpo, à alma e à cultura de Pinhel, a citânia em que habitavam. É uma tarefa hercúlea, como se deve calcular, sobretudo para a sobrinha, filha de Aurora e Galatar, que não pode esquecer que "uma rainha, é mais que uma vulgar mulher. Uma sacerdotisa é mais que uma simples rainha. Mas uma Sacerdotisa-Rainha está muito para além das leis dos homens e das leis da magia e do rituais – ela é uma deusa na terra"(p.105), qual "caminho de perfeição e sacrifício"(p.106) abrindo-se "em urgências de êxtase, como terra seca e ardente, para receber a água da vida"(p.121).

Qualquer planeta em que não exista vida é porque lhe falta água líquida que a gere e sustente, multiplique e purifique, e ela só acontece com a rebentação delas, tal e qual como as que antecedem o nascimento dos bebés de todos os mamíferos, entre os quais, o humano. Portanto, porque lhe é essencial, tem que ser cuidada, respeitada e celebrada com o "sigilo secreto" daquelas que foram eleitas para lhe ministrar culto e rituais, porque só elas estão aptas à tradução dos sinais e dos símbolos imprescindíveis à governação das citânias, as Sacerdotisas das Águas, porque são dominadoras do cálice e da espada, da taça e do ceptro, da concha e da pérola, da boca e da língua, do ventre e do falo, em cuja síntese imediata reside a urgência (fogo) da eternidade.

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