Reminiscências do mundo celta no mundo de todos nós
"A Trindade em Toda a Parte
A Trindade que está sobre a minha cabeça,
A Trindade que está sob o meu passo,
A Trindade que está sobre mim aqui,
A Trindade que está sobre mim ali,
A Trindade que está em pleno ar,
A Trindade que está no céu,
A Trindade que está no grande oceano,
A Trindade dominante, permanecei em mim."
De Poems of the Western Higlanders
Desde tempos imemoriais que as regiões interiores portuguesas, numa larga faixa a que hoje se convencionou chamar (trans)fronteiriça, possuem a acentuada marca da presença e cultura célticas, redundando esse facto aos idos do apogeu da sua expansão intercontinental, nos séculos VI e V a.C., em que os celtiberos (celtas mais lusitanos) instalados na Península Ibérica "governavam" um vasto território em forma de Y, cuja base subia pelas margens do Guadiana, e os braços se estendiam desde a Galiza atlântica até para lá da Serra de Albarracin, onde nasce o nosso rio das Tágides camonianas. Terão sido Eras de afortunada felicidade e enlevo, sobretudo para quantos, os arregimentados pelo sistema de sociedade matriarcal, professavam fé na Mãe-Divina, anterior ao grande dilúvio, que os hititas "transmitiram" ao Egipto, por exemplo, depois de a terem "recolhido" dos povos pré-babilónicos do Éden (ou Paraíso) entre o Tigre e o Eufrates, a terra dos seguidores da estrela, dos quais alguns ganharam fama entre nós e ficaram conhecidos por Reis Magos, curiosa coincidência histórica com as revelações do inconsciente colectivo, cujo produto nos povoa o imaginário com a presença fantástica e maravilhosa dos druidas e sacerdotisas silvestres, a que, aliás, a portalegrense Maia das cachopas– corruptela do védico Marya, que significa jovem – não pode negar originária ancestralidade, nem as principais festas (e romarias) populares das aldeias e vilas vizinhas um justo fundamento, ou as diversas artes muita da sua motivação criadora, nomeadamente na ficção narrativa de Prosper Mérrimée, que lhe deve a sua femme fatal, de que Bizet em boa hora se serviu exaustivamente para criar a sua ópera Carmen.
Ou seja, como tudo aquilo que fomos se reflecte no quanto agora somos, e a nós, os alentejanos plantados nas faldas serranas entre a foz do Xévora (Djebora), ali ao Guadiana, e as Portas de Ródão, eis-nos prova de todas as culturas que por aqui passaram e nos assistiram à formação por via da ancestralidade, também nos não será estranha e indiferente a saga das Sacerdotisas das Águas, que ainda devem murmurar as suas preces à Lua nas correntes das cinco ribeiras que nascem das entranhas de São Mamede, espelhando a prata de cada uma das três fases por que passa: Crescente, Cheia e Nova – conforme o entendimento dos antigos, que melhor acreditavam no que viam do que no que supunham, depositando fé e adoração na Deusa-Lua celebrando-a sempre que os seus treze ciclos lho propunham.
E esse é tão-só um filão explorável do nosso imaginário colectivo em que pode eclodir a ficção romanesca, deste como de outros tempos, à semelhança do que sucede
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