CHÃO AGRESTE
1. MANEIRA DE SER
Calcetada de compungido silêncio
Eis uma rua que nada diz do que penso
Sob os frios passos magoados do caminho…
Seu semblante comum às idas abandonadas
Regressa ao estio dos cães em vadiagem
Ladra a preto e branco o bicudo escarninho
Por quem atravessa chão que é escadas
E leva às costas a sisudez da bagagem.
Dias escarram nelas a sombra dos plátanos.
Noites cobrem-nas de geadas deslizantes.
Mas ímpios e insensíveis são só pântanos
Onde coaxam as solidões ofegantes
De quem já esperou uma vida inteira
Que lhe reconhecessem normal o andar
Os gestos, a lida, a voz… a sua maneira!
2. OUTRA CHUVA NOS CONFORTA
É subterrânea a sombra
Que a luz dilacera,
Como se faz a uma cobra
Que sonhou ser Quimera.
Que travo trago a trago
Dos olhos que ora me norteiam,
E iludem o seco vago
Para em vez dele porem
O porém
Do amor, e carinho que semeiam.
Então, viradas para cima
As raízes da incerteza,
Eis que muda agora o clima
Chovendo-me na alma… Mas só beleza!
Joaquim Maria Castanho
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