Bom dia!
O princípio é o verbo
Depois o dia corre sereno
Murmura, conversa, é acervo
Enleio, esse labirinto
Tão grande e tão pequeno
Que nele cabes e me conservo
Desde o detalhe ao infinito…
Joaquim Maria Castanho
Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
Bom dia!
O princípio é o verbo
Depois o dia corre sereno
Murmura, conversa, é acervo
Enleio, esse labirinto
Tão grande e tão pequeno
Que nele cabes e me conservo
Desde o detalhe ao infinito…
Joaquim Maria Castanho
COMPROMISSO VERBAL
Meto o verbo devagar
Que o lugar da fala
Quando falo por falar
Digo, e a voz exala
O mesmo falar exíguo
De quem ama ama (e cala).
Então nesse declarar
Que não diz mas declara
– Raiz de amarar no lodo –
Eis que por tanto amar
Até o verbo o calara
Sabendo-o o mundo todo.
Joaquim Maria Castanho
TODO O POETA
É
UM HUMILDE
PINTOR
Há sempre poemas escritos
Entre cada folha que cai.
Atiro os olhos ao chão e leio-os
Ante o assombro do vento
Que lhe segura a luz até ao fim
De encontro ao caule e veios
Peito aberto, ramos a oscilar.
Sei cad’uma de suas cores de cor
Mas não me atrevo a pintá-lo,
Que se o outono está usá-lo
É por pensar num poeta maior…
Joaquim Maria Castanho
VERDE ARDENTE
Eu recordo o teu olhar, a tua trança
Com’esta paisagem se lembra do verão…
É um ver de há pouco que já não alcança
– E uma folha a arder quase tição!
Joaquim Maria Castanho
LUSITANIDADE
Corremos riscos, se amamos,
Entrançados plo destino.
Que a vida chama… Nós vamos.
Viver é ser peregrino!
Joaquim Maria Castanho
PALAVRA ATUANTE
Enquanto ato, atuo
Sabe-se lá por quê,
Em que distância…
E se digo, logo fluo
Em palavra que se vê
Nascer da própria infância.
Joaquim Maria Castanho
C I S M A
Há um ENIGMA na minha vida
E creio que veio pra se demorar
Tanto, que receio, mal ela cumprida
Continue eu na outra o mesmo cismar…
Joaquim Maria Castanho
A LEITURA NÃO É UM HÁBITO
Que a leitura não é um hábito
Ou sequer semente que se semeia,
É necessidade d’homem prático
– Radicalidade que também medeia…
Disso ninguém tem dúvidas sérias
Que não tenham propaganda à mistura,
Nem faça do trabalho umas férias
Passadas à custa da literatura!
Joaquim Maria Castanho
DO SILVAR DO VENTO OUTONIÇO
De vez em quando, uma folha cai…
Então, o caminho aloirece.
Mas este rio continua, e vai
Pra lá da sombra que o escurece.
Afluente de outros maiores
Senhor dos vales e das escarpas,
E das silvas que já foram flores
Agora (h)ouve silvos
Entre margens cativos,
Sem violas e sem capas
Altivos, mesmo sem hinos nem harpas.
Joaquim Maria Castanho
AH, ESTRELINHA LINDA!
Seja a voz serena eco murmurado
Algo descido à noite aparecida,
Para que o dia ao ver-se recordado
Não esqueça no breu a sombra diluída.
A sombra do que foi e podia ter sido
Se não tivesse claudicado finalmente
E ao fim de tantas horas adormecido,
Talvez julgando que a nossa gente
Se calara só por supo-lo já cumprido.
Mas é falso, disse-lhe uma estrela
Depois outra, e outra, e mais outra enfim,
Até qu’o firmamento acabou por vê-la
Com’olhar daquela que só me lembra a mim.
Joaquim Maria Castanho
Sonho-me como se fora ainda quem fui
E nesse instante tão simples, duradouro
Eis que o presente escreve e já conflui
Pra um futuro onde me penso e demoro…
Que a vida é isso, exatamente assim
Um saltitar breve sobre o ancoradouro
Ond’estão amaradas as caravelas de mim!
Joaquim Maria Castanho