11.29.2021

BOM DIA!

 

Bom dia!


O princípio é o verbo

Depois o dia corre sereno

Murmura, conversa, é acervo

Enleio, esse labirinto

Tão grande e tão pequeno

Que nele cabes e me conservo

Desde o detalhe ao infinito…


Joaquim Maria Castanho

11.24.2021

COMPROMISSO VERBAL

 


COMPROMISSO VERBAL


Meto o verbo devagar

Que o lugar da fala

Quando falo por falar

Digo, e a voz exala

O mesmo falar exíguo

De quem ama ama (e cala).


Então nesse declarar

Que não diz mas declara

– Raiz de amarar no lodo –

Eis que por tanto amar

Até o verbo o calara

Sabendo-o o mundo todo.


Joaquim Maria Castanho

11.22.2021

HUMILDE PINTOR


 

TODO O POETA

                               É 

                                   UM HUMILDE 

 

                         PINTOR



Há sempre poemas escritos

Entre cada folha que cai.

Atiro os olhos ao chão e leio-os

Ante o assombro do vento

Que lhe segura a luz até ao fim

De encontro ao caule e veios

Peito aberto, ramos a oscilar.


Sei cad’uma de suas cores de cor

Mas não me atrevo a pintá-lo,

Que se o outono está usá-lo

É por pensar num poeta maior…


Joaquim Maria Castanho



11.21.2021

VERDE ARDENTE

 


VERDE ARDENTE


Eu recordo o teu olhar, a tua trança

Com’esta paisagem se lembra do verão…

É um ver de há pouco que já não alcança

– E uma folha a arder quase tição!


Joaquim Maria Castanho

 


 

11.20.2021

LUSITANIDADE

 

LUSITANIDADE


Corremos riscos, se amamos,

Entrançados plo destino.

Que a vida chama… Nós vamos.

Viver é ser peregrino!


Joaquim Maria Castanho

11.19.2021

PALAVRA ATUANTE


 

PALAVRA ATUANTE


Enquanto ato, atuo

Sabe-se lá por quê,

Em que distância…


E se digo, logo fluo

Em palavra que se vê

Nascer da própria infância.


Joaquim Maria Castanho


11.16.2021

CISMA

 

 

C I S M A


Há um ENIGMA na minha vida

E creio que veio pra se demorar

Tanto, que receio, mal ela cumprida

Continue eu na outra o mesmo cismar…


Joaquim Maria Castanho

A LEITURA É NÃO


 

A LEITURA NÃO É UM HÁBITO


Que a leitura não é um hábito

Ou sequer semente que se semeia,

É necessidade d’homem prático

– Radicalidade que também medeia…


Disso ninguém tem dúvidas sérias

Que não tenham propaganda à mistura,

Nem faça do trabalho umas férias

Passadas à custa da literatura!


Joaquim Maria Castanho

11.15.2021

DO SILVAR DO VENTO

 

DO SILVAR DO VENTO OUTONIÇO


De vez em quando, uma folha cai…

Então, o caminho aloirece.

Mas este rio continua, e vai

Pra lá da sombra que o escurece.


Afluente de outros maiores

Senhor dos vales e das escarpas,

E das silvas que já foram flores

Agora (h)ouve silvos

Entre margens cativos,

Sem violas e sem capas

Altivos, mesmo sem hinos nem harpas.


Joaquim Maria Castanho

11.08.2021

ESTRELINHA LINDA

 

AH, ESTRELINHA LINDA!


Seja a voz serena eco murmurado

Algo descido à noite aparecida,

Para que o dia ao ver-se recordado

Não esqueça no breu a sombra diluída.


A sombra do que foi e podia ter sido

Se não tivesse claudicado finalmente

E ao fim de tantas horas adormecido,

Talvez julgando que a nossa gente

Se calara só por supo-lo já cumprido.


Mas é falso, disse-lhe uma estrela

Depois outra, e outra, e mais outra enfim,

Até qu’o firmamento acabou por vê-la

Com’olhar daquela que só me lembra a mim.


Joaquim Maria Castanho

CARAVELAS DE MIM

 

Sonho-me como se fora ainda quem fui

E nesse instante tão simples, duradouro

Eis que o presente escreve e já conflui

Pra um futuro onde me penso e demoro…


Que a vida é isso, exatamente assim

Um saltitar breve sobre o ancoradouro

Ond’estão amaradas as caravelas de mim!


Joaquim Maria Castanho

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português