Acerca deste livro, como de seu autor, afirma (no Prefácio: Nostalgia do Futuro) Casimiro Santos, Professor de História, que “miscigenando a ficção e a etnografia comparada a cada passo, Gabriel Raimundo coloca as suas verosímeis personagens, num quadro utópico sonhado na base da vida real, apontando um futuro em que, parafraseando o Agostinho da Silva, a utopia deixará de o ser para se tornar realidade.
Estas personagens vão-se revelando ao leitor, movimentando-se numa tela de grande reportagem etno-jornalística em que o realismo fantástico assoma a cada passo, ancorado na vida. São personagens de grande riqueza humana, que de riqueza material, quase todos pertencem ao povo trabalhador e muitos comeram o pão que o diabo amassou nesses tempos da travessia náufraga de 48 anos e noutras travessias ainda mais recuadas no tempo.
Mas, para a festa também há espaço. Assume um tom pitoresco a roçar o humorístico numa linguagem descritiva aquiliniana, do século que vivemos, traçando pinceladas que nos fazem sentir no cenário portossantense ou beirão e derramando na nossa imaginação o tinto de Porto Santo de 18 graus que não deixa amargos de boca no dia seguinte, mas uma sensação de plenitude dionisíaca de paraíso. Nestes trechos quase poderíamos dizer que Gabriel Raimundo assume um hedonismo popular na sua escrita.
Repassa nesta escrita um frémito de nostalgia do futuro; este será construído com os melhores materiais do passado, os valores da solidariedade, a alegria da convivialidade, sem falsidades, com a garantia de um desenvolvimento, ecológica e humanamente equilibrado.
Casegas, julho de 2006”
Também creio que sim. Desde sempre que os futuros só tornaram presentes, e mais tarde passados, graças a essa reciclagem qualitativa dos valores e da sustentabilidade. Mas convenhamos que está difícil acreditar nisso às primeiras impressões… Uma das coisas que não foram previstas foi esta chaga pandémica atual. Nem Colombo que teve vistas largas, a ponto de ver índios no continente americano, o conseguiria prever. Todavia, algo importa salientar desse movimento caraterístico do tempo nos tempos: é que muitos dos registos utópicos que o passado conheceu, são agora documentos genuínos de como os homens e mulheres de épocas imediatamente anteriores à nossa se viram a si mesmos e a si mesmas, a demais gente, seus sonhos, labutas, lugares e tradições. O que indubitavelmente é uma mais-valia que à presente obra não se pode negar.
HERDEIRA DE COLOMBO NA ILHA DOURADA
Gabriel Raimundo
Arguim Editora Regionalista (Madeira)
1ª Edição, setembro de 2006