O FADO DO LAR
Por amor duma caixeira
Sou um homem destroçado,
Pois ela foi a primeira
Por quem vivo em cuidado.
«Puxo coisa, meto o dedo,
Passo código digital;
Faço-o com tanto segredo
Que até ele acha normal.»
Ajudo prà reciclagem
Ando de sacola na mão,
Facilito na contagem
Pagando sempre em cartão.
«Abro o saco, meto-o dentro,
Dou desconto e destaco;
Ponho a barra no centro
Peso fruta apalpo o naco.»
Sou um bom homem já se vê
Passeio o cão, leio o jornal,
E não me meto em sarilhos;
Com o preço certo na TV
Eu dou a papa nos filhos.
«Dou-lhe instrução e carta,
Deixo-o empurrar carrinhos
Desse modelo virginal
Com qu’este povo acarta
Nossa alma plos caminhos.»
Quand’há bicha na caixa
Olho com viés profundo,
Pio a ver se se despacha
A mais linda do mundo.
«Peço prò laço em baixa
Aperto o nó num segundo,
E ind’assim ele me acha
A mais linda do mundo.»
A mais linda do mundo
A mais linda do mundo
A mais linda do mundo
A mais linda do mundo
Joaquim Maria Castanho
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