10.28.2017

UMA CONVERSA UNIVERSAL




UMA CONVERSA UNIVERSAL 

SINAL DE VIDA
José Rodrigues dos Santos
Gradiva

"Pela minha noiva, recusarei o que for preciso recusar." - Página 114

Um sinal é um indício. Um indício de (água, de vida, por exemplo). Viver é comunicar. E comunicar é emitir sinais. Mas o que é que isso significa? Que só reconhecemos a vida quando ela é suficiente para emitir o sinal passível de ser descodificável. Que possa ser compreensível para nós, entre nós, entre os demais, e entre nós e os demais. Num romance, se for de ficção emancipada, ou seja, cuja narrativa se alinha e subscreve nos pressupostos cientificamente fundamentados, é possível estender o conceito de comunicação ao de viagem, uma vez que a primeira pode ser um convite à compreensão, e a segunda, é o entendimento do conteúdo (enunciados) propriamente dito, através do qual nos abstraímos de nós mesmos para integrar (ou participar) outra dimensão, outro registo, onde a trama/enredo se verificam. 

Portanto, acerca deste romance podemos afirmar que se a literatura gera conhecimento à ciência o deve, assim como se o conhecimento ganha valor é arte que lho concede, uma vez que depois de traduzido e demonstrado matematicamente, importa reconhecê-lo (útil) no plano ético e humanista, o que seria de todo em todo pouco evidente se a literatura não lhe advogasse a serventia, e lhe emprestasse a validade intrínseca e social com que possa percorrer as veredas da subjetividade humana, sentimental, afetiva, em que se baseia o principal laço que nos une, a família, a língua materna, que consequentemente produzirá a semente do grupo, do clã, da sociedade a que pertencemos, pela sua multiplicação, expansão e partilha, na procura duma universalidade que a justifique. 

Porém, nem todas as viagens (demonstrações) são de ida, porquanto outras há que são (também) de volta. E esta aventura relatada, este romance de ficção científica, como é classificado na generalidade, é-o sem dúvida. É o regresso do significado ao seu signo, do sentido ao seu sinal, do entendimento à sua espécie, do afeto ao seu berço, do compromisso ao seu cumprimento – à inteligência, seja ela cibernética, biológica ou espiritual –, no respeito e pela dignidade entre dois seres, balizados entre dois limites inconfundíveis, o do verosímil e o do plausível, nessa linha equidistante a eles em que desenrola e evolui a ficção científica. Porque ela é o demonstrável. Ela não inventa, mas exemplifica, servindo-nos uma perspetiva viável, observável desse conhecimento, tese ou teoria, sem a qual ela nos seria muito dificilmente entendível. Não só nos conta o que podia ter sucedido, mas também nos elucida de como aconteceu para que o víssemos ao ponto de "nisso" acreditar, pondo-nos a par dos antecedentes que teve como no que veio a resultar. 

Explica-nos porque não estamos sós no universo. Dá notícia de que pode haver e "há filhos de Deus noutros planetas", como doutras galáxias, e que eles entraram em contato connosco, tornando possível manter e pôr em dia essa conversa que a vida é, ao revelar-se continuamente, não em termos unicamente competitivos, mas também cooperativos. Porque embora Darwin tenha dado "o primeiro passo para a compreensão do maquinismo que conduz à evolução das espécies", depois dele foram feitas muitas outras descobertas que completaram e, até, corrigiram a tese original, como a "cooperação. A evolução e a sobrevivência", como se afirma na página 96, "assentam muito na cooperação, uma realidade que tendemos a esquecer, mas que os estudos vão sucessivamente confirmando. Vemos isso não só nos seres humanos e nos mamíferos, mas também nas aves, nos répteis, nos insetos, nos peixes, nas plantas… até nas células e nos genomas! Há cooperação em tudo o que é biologia. Os seres vivos sobrevivem e evoluem graças à cooperação que são capazes de gerar a múltiplos níveis." Incluindo entre diversas formas de expressão inteligível, nomeadamente entre o discurso científico e o discurso literário. 

Foi assim que eu o vi. Que eu o li, e continuo a lê-lo… Experimentem também, e logo me dirão quão longe (ou perto) andarei da verdade… 

Joaquim Maria Castanho

10.19.2017

ESTAR E SER




SER E ESTAR 

Se persisto
Somos gente… 
Sonhamos mais que isto
E, às vezes, estás e és
De frente
Ou passas rés
Com o futuro já presente! 

Joaquim Maria Castanho

10.18.2017

SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS




SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS

Se estivermos atentos
Sempre que uma flor brilha, 
Logo veremos momentos
Em que mãe é também filha
Aspergindo esse deserto
Das vozes, se distantes
Com que o amor torna perto
Os corações dos amantes
Na recíproca medida: 
Beijo entre após e antes 
– Cálice de pura vida! 

Joaquim Maria Castanho

10.17.2017

Thomas Mann, Os Buddenbrook



"Deus salvara-o. Outra vez, ainda criança, durante os preparativos para um casamento, assistira ao fabrico de cerveja (era costume fazer-se em casa). Para o efeito fora colocado um enorme barril em frente da porta. Ora, sucedeu que esse barril tombou, apanhando a criança. O estrépito e a violência da queda foram tais que a vizinhança acorreu e foram necessários seis homens para voltar a erguer o barril. A cabeça do menino ficou esmagada debaixo da cuba e o sangue corria abundantemente por todo o corpo. Puseram-no numa padiola e, como ainda lhe restasse um sopro de vida, levaram-no ao médico e a um cirurgião. Ao pai consolaram-no, porém, dizendo-lhe que se devia conformar com os desígnios divinos, pois que era impossível que o filho se salvasse… Pois atentai então: Deus Todo-Poderoso abençoou os recursos médicos e restabeleceu-lhe a saúde por completo! Ao recordar-se desse terrível acidente, o cônsul voltou a pegar na pena e escreveu a seguir ao derradeiro «Ámen»: «Meu Deus, a Ti louvarei para todo o sempre!»"

In THOMAS MANN, OS BUDDENBROOK, página 64
Tradução de Gilda Lopes Encarnação
Coleção Essencial - Leya/Livros RTP




A SININHO

Ouço o teu ouvido
A escutar
O silêncio consumido
Na leitura do lugar. 

E sob esse dossel de sílabas
Umas mudas, outras estridentes
Sedosas, penteadas, 
Nascem meigas pétalas
Queridas, desejadas… 

– Sorrisos, afetos, gentes! 

Joaquim Maria Castanho

PENSAR PARA O VENTO...




PENSAMENTO AVENTADO

Alguém lê, 
E eu sinto algo… 
Como se pensar
Fosse um não-sei-quê
– Nascido farejar
No nariz dum galgo! 

Joaquim Maria Castanho

10.16.2017

VAGÕES DE SÍLABAS




TREM DE SÍLABAS 

Chovem-me na alma solfejos outonais
Pla clave desses sorrisos já quase ditos,
Com que os sonhos se investem vestais
Ninfas, deusas, musas, estrelas e mitos
À beira do comboio em metálicos cestos
Feitos da rede e trama dos meus textos… 

Joaquim Maria Castanho

10.02.2017

PRIMAVERA OUTUNAL





OUTUBRO PRIMAVERIL…

T'eclipsaste na dúbia tarde
Resguardo de Afrodite caído
O marmóreo ombro, destemido
Cruzando o tempo sem alarde
No espaço dum quando se solta

– E eu rogo-te… «Volta!»

Porém, ficaste tão-só de perfil
Que o sol em verbo s'espraiou, 
Ficou perdido, esquecido
E entre o anil celeste voou
Na peugada dum outro abril
Que, afinal, nunca chegou!

Joaquim Maria Castanho

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português