CRER É REALIZAR
Se tanto Eneias como Harmonia
(Descendentes de Vénus e Adónis)
Souberam os prazeres d'alegria
Gerados por palavras e gestos gentis,
Então, porque fico eu com teu «Bom dia!»
Assim suspenso do que tua voz não diz
Mas só anseio ouvir, em sintonia
Entre as idílicas frondes e a raiz
Desse sonho que nem em si repara
Quando lhe passo rés o ar me falta
O chão me foge, a vida pára…
Será porque todo o tanto é tampouco
Que o espanto o atrai e impele
'Té ver o mundo virar insano e louco
E a luz brotar do sol em fios de mel?
Pois, se tal for, e verdade houver
Se saiba aqui e galáxias em redor
Que nada se cria nem faz sem amor
– Do chiar da roca ao voo do Condor;
Desd'a magia macia que a seda tiver
À magia do malmequer e qualquer flor –,
E qu'esse sentimento nunca é vão
Mesmo quando parece ser paixão
Tão arrebatada que nos ata e requer
Mais que a humana força permite
A morte julga, e o fogo omite,
Azar esvaneça, o pulso governe,
Melhor ou pior qu'ao poder concerne,
Só terá uma dona e nome: o teu… – Mulher!
Joaquim Maria Castanho
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