ALUCINADO DIZER
Se saiba, pois, que de toda poesia
Apenas um verso me chega:
É estender o braço e tocar-te
Meu sonho, meu grito de arte,
Memória que ao presente se confia
– Presente que ao futuro se entrega.
Porque amar-te é também porfia
Insistência que à rima prega
Musa contínua, inspiração constante,
Renovada luz que a sorrir existes
Flor que nenhum verão, porém, secará
Quando na palavra a beleza permites
Onde quer que esteja, onde quer que vá.
E se digo agora o teu nome durante
Os amanhãs que nasceram já ontem,
É por sentir que serei sempre infante
Pajem fiel da suserana estrela, rainha
Alucinação que ilumina e nunca cega
Real encarnação terreste de Arina
Por cujos cabelos a poesia me chega.
Por cujos raios o dizer se alucina!
Joaquim Maria Castanho
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