LADEIRAS INTERIORES
Já solta e suave coroa ardente
Onda encrespada tubular, arco
Sístole do verbo que diz a parte
Como todo, silente te abarco
E, suspenso, em ti me reparto
Ósculo após ósculo se acarto
Dos olhos o magma intencional…
És o meu segredo que toda gente
Conhece; todos sabem que existes.
Do ar circundante a flor ambiente
(Corola e cálice em que consistes)
Por cujo aroma a pétala insiste
Segar dos sonhos o que seja triste
– Como o ímpar das estrelas do plural.
Tenho-te presa dentro do meu grito
A viajar entre o ocaso e infinito
Pelas ladeiras da luz interior;
Tão intensa, genuína, que acredito
Que és da sílaba a pérola em flor.
E mais que voz de «Bom dia» ocasional
És ainda o sol veloz, se me permito
Senti-lo puro, bendito, e normal.
Joaquim Maria Castanho
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