ALCANÇAR AS ESTRELAS
Às portas do céu, a cavaleira
Celeste, tão celta como moura,
Interrogou a luz vindoura
E, após curveta, foi certeira
Flecha, raio divino, maneira
Que Olimpo tem de falar às gentes
Humanas, soberanas, que do sonho
Guardam cetro, cálice e lanho
Entre auroras e ocasos fulgentes,
Tendo-lhe respondido (sem voz):
«És a glória sagrada que há em nós,
Que nascemos da chama primordial
Múltiplas, aspersões sobre bem e mal.»
Seus cabelos escorreitos e lisos
De seda quase chumbo nacarado
Em camadas descaídos, precisos
Oscilam plo voo ao azul estrelado,
E aí brilham feéricos inocentes.
Osculo-os de pronto, mentalmente
– Fiel devoção às fadas supremas… –,
E tão inebriado e obediente
O faço, que brotam flores serenas
A dançar a compasso, e balanço,
Que também eu às estrelas alcanço!
Joaquim Maria Castanho
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