A TUA AUSÊNCIA
É como se a poesia nos tivesse morrido
De uma síncope qualquer,
E a palavra, o verbo assim suprimido
Caísse ao túmulo abatido
Sem conseguir chorar, sequer…
Como se o vento vergastasse seu choro
Pelo chão sujo de palha ressequida,
Para despir as árvores, sem decoro,
Das verdes folhas que lhe foram vida.
É como se nos doesse o doer, até
Não haver hoje, nem amanhã,
Noites, dias, imagens, nota, rodapé;
E os poemas sangrassem sem fé,
E numa esperança vã.
Como se a voz ácida corroesse
A alma no seu íntimo mais puro,
E o mundo todo inteiro tremesse
Nos picos de um gráfico (inseguro).
É como se perdêssemos o nosso ser
Minuto a minuto esvaído,
E nos doesse pelo próprio dizer
Até ver o não-ver por temer
Ser o perder-se esquecido.
Joaquim Maria Castanho
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