8.22.2015

NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE, NEM BEM QUE NUNCA ACABE




NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE, NEM BEM QUE NUNCA ACABE

"No século XV, quando os turcos invadiram Constantinopla e derrubaram o Império Romano do Oriente, os padres da Igreja estavam a discutir assuntos teológicos." – In "O Sexo dos Anjos" e a Política Externa Portuguesa, por Tiago Moreira de Sá e Emanuel Bernardes Joaquim, jornal PÚBLICO, 22.08.2015 

E de súbito, aquilo que algumas pessoas costumam dizer perde a gracinha toda... Faz «pooff!» na barreira da nossa indiferença, e escorrega por ela abaixo como um asco peganhento. O que antes parecia ser argúcia, acutilância, subtileza maquiavélica, passa a ser visto como ronha, ronceirice, manha, fuga prà frente, interesseira representação para agafanhar almejados e obscuros proventos. A simplicidade e clareza discursiva desvenda-se, afinal, como uma mancheia de lugares comuns. A sapiência e irrepreensível memória, uma simplificada mediocridade e evidente vocação para a cópia e palimpsesto. As pausas, como notórias confissões de culpa, de inaptidão, défice lexical ou compulsão semântica. E aquele jovialíssimo piscar de olho ao eleitorado, que tão bem lhe ficava por aparentar espontaneidade, apenas mais um tique de denúncia da misoginia voluntária, ou obrigatória, caraterístico de quem se sente entalado. Desmascarado. De careca à mostra. 

E não vale a pena nomear seja quem for, porque a todas as políticas e a todos os políticos acontece exatamente o mesmo. Uns numa altura, outros noutra. Aos nossos, é agora. Ora, se ninguém os vai querer ver ou ouvir em debates políticos, ainda que impingidos pelos canais de sinal aberto, porque é que eles se preocupam tanto em definir quem estará ou não estará neles? De quem se senta em frente ou lado de quem? Essas coisecas são combinadas pelos staffs, e não podem ser consideradas coreografias de opereta brejeira com pretensões a vedetismos de cartaz em programas de primeiro tempo. E depois, tudo quanto lá irão dizer já é por demais conhecido e de toda a gente, incluindo os que não querem saber disso para nada. São figuras de basta presença e figuração nas primeiras páginas dos jornais e telejornais, quer pelo que dizem e repetem, quer por onde vão e o que lá poderão estar a fazer. Sobretudo porque a política não é nenhum jogo de berlinde, com vitórias, derrotas e desforras, fértil em retórica para deslumbrar infantis que gostam de ver os adultos à sopapada, ou um desporto de rasteirar, derrubar e achincalhar os meninos e as meninas da outra ponta da sala. A política faz-se apresentando projetos, programas gerais ou setoriais, estratégias de execução, orçamentos viáveis, motivando e convidando gente para neles colaborar, fazer melhorias, reforçando positivamente a participação, a responsabilidade, a consciência cívica e a emancipação, quer dos indivíduos, como das comunidades; quer das regiões, como da nação. Portanto, seria de bom tom, não atirar poeira para os olhos do povo, nem dar-lhe a engolir futriquices típicas das clubites pacóvias e desaguisados entre a rua de baixo e rua de cima, usuais no jogo da malha e do pião. Sob pena de que se o não fizerem, o povo português lhes faça como fez o Zé-Povinho do Bordalo ao fiado: «Queres o voto, toma!» (Até porque as meninas anicas acompanham os joõesinhos que lhes apetece!) 

Enfim, digamos que o prazo e "estado de gracinha" desses tribunos expirou. Esgotou. Perdeu a validade.  Principalmente, porque a nossa paciência para lhes aturar a banha-da-cobra já não é o que era. Estamos cansados de ser condescendentes com quem nos quer dar a volta. Há 40 anos que vivemos (quase) em democracia. Já nos aconteceu quase tudo o que não devia ter acontecido. E nem sequer um oitavo do desenvolvimento, bem-estar, qualidade de vida, segurança e esperança no futuro de quanto merecíamos ter. Era tempo de começarem a pensar que se continuarem a tentar enganar-nos, isto ainda pode vir a dar prò torto... É que até os paz d'almas que todos e todas nós somos, têm um ponto de fervura. E, enquanto os paroquianos e sacristas desta confraria das bananas se empenha discutindo quem se senta nas cadeirinhas e cavalinhos de baloiço, bem podem chegar por aí os nossos otomanos e trocar os estandartes sem que lhes dê o cheiro!  

Joaquim Castanho          

8.20.2015

COMO, PORQUÊ E COM QUEM?




COMO, PORQUÊ E COM QUEM? 

"Não há igualdade ou justiça possíveis enquanto todas as vidas não valerem exatamente o mesmo." 

In CLÁUDIA SEMEDO (Embaixadora do Ano Europeu Para o Desenvolvimento), Direito à Vida, jornal PÚBLICO, de 17.08.2015 

Quando desconhecemos o que uma "coisa social" é, camuflamos a nossa ignorância acerca dela, afirmando o que ela já foi ou o que poderá vir a ser – SE. E a modinha pegou de estaca nas hostes políticas e jornalísticas. Perante a incerteza no que irá dar o 4 de outubro, inventam-se cenários e reiteram-se intenções, alinham-se baterias e pontarias, preenchem-se as linhas em branco dos programas eleitorais como quem aposta no totobola, e reza-se às padroeiras e padroeiros com bênçãos de pó-de-ser e demais sortilégios disponíveis, incluindo as sondagens habituais. Umas quantas forças a concurso, para obterem vantagens competitivas, apostam com múltiplas, esbanjando os créditos em duplas e triplas, a que dão o pomposo nome de coligações. Depois, nos programas de conjunto tocam à Ten Years After, com o homem da viola à frente a tocar o que lhe dá na gana, num banzé de acordes ou soundbites, e os restantes da instrumental confraria a desunharem-se para acompanhá-lo, ainda que desafinados e molestados pelos costumeiros feedbacks  e boomerangs, determinando que vão fazer isto & aquilo, assado & frito, mas sobretudo no limpinho sem espinhas como se a oposição estivesse de férias ou tivesse abdicado de ser oposição para ser uma vencida colaboracionista e empenhada. E, invariavelmente, fazem-no naquele registo mágico típico de quem acha que toda a gente não tem mais nada pra fazer do que tentar adivinhar o que querem, porque o querem, como o querem e de quem dispõem para fazer... Sumidades! 

Quando se é novo e inexperiente acreditamos que somos capazes de todos os possíveis só com o estalar dos dedos ou o embonecado bater das pestanas. Mas, na generalidade, crescemos, e verificamos que não é bem assim. Que tem de se estar ao corrente das problemáticas, familiarizados com os assuntos, estudá-los a fundo, experimentar as soluções plausíveis, validar as funcionais e fazer contínuas atualizações nelas. E fazemo-lo regra geral, sem stress de maior, nem pruridos vergonhosos. Porém, a exceção privilegiada dos que ingressaram na carreira política, consideraram que isso seria uma perda de tempo, quer por exigências de sedução do eleitorado, quer por mandriice natural, quer por considerar que a política é um atalho para o sucesso e fortuna, preferindo manter-se infantis, quais gracinhas imprestáveis, larocas e bem-falantes, imprescindíveis para enfeitar os frisos da magna nacionalidade, embora não acarretem qualquer benefício aos seus conterrâneos e territórios. 

E vai daí, ei-los que embrulham as habituais e fantasiosas promessas em celofane de compromisso/estimativa, que é o marketing da embalagem a invadir a composição "química" dos conteúdos, e toca de nos impingir a garantia de que vão baixar o défice, aumentar o crescimento, restruturar/renegociar a dívida, quiçá atirá-la ao mar que é uma economia que promete mundos sem fundo, criar uns tantos mil empregos (que depois vão cair nas malhas dos seguros/subsídios de desemprego mal terminem essas ações de combate ao ócio), apostar na cultura e no património, melhorar a qualidade de vida, disponibilizar saúde, educação, bem-estar, justiça, habitação, segurança social, sustentabilidade, transportes, segurança, ordem e perspetivas de futuro até para os hipervelhos. Esquecem-se é de dizer como vão fazer isso, com que dinheiros e especialistas, com quem contam para os desempenhos e tutelas, que certificados de boas práticas já têm em currículo, e quem lhos passou... Enfim, retemperam as ideias de igualdade e de justiça social com o seu direito imaculado de gente superior e superiormente bem-intencionada em quem devemos acreditar cegamente e delegar as nossas esperanças e expetativas, prò melhor e prò pior, pois "ao menino e ao borracho, mete Deus a mão por baixo", atribuindo-nos o estatuto de trouxas e ingénuos, como se as nossas vidas valessem menos do que as dessa iluminada elite. Contudo esquecem-se de uma coisa... De quê? De reler a epígrafe deste artigo, que transcreve o pensamento europeu através da sua embaixadora para o desenvolvimento, e que nos alerta para o detalhe de que "não há igualdade ou justiça possíveis enquanto todas as vidas não valerem exatamente o mesmo". E nós já sabemos há muito tempo que não queremos para nós o que nem os gregos quiseram para eles. Nem mais!  

Joaquim Castanho

8.18.2015

ENQUANTO SE COME NÃO SE ASSOBIA




ENQUANTO SE COME NÃO SE ASSOBIA


Descobrir até que ponto os portugueses estão disponíveis para alinhar com as artimanhas e manhosas patranhas partidárias, e as suas coligações, fusões, agregações, plataformas e demais desenformadas formas, é a tarefa primordial para qualquer político que se preze, seja minimamente honesto, frontal, consciente, responsável e emancipado. Arrisca-se depois, é claro, a que não tenha onde votar, e muito menos qualquer "bandeirinha" para espanejar e ao abrigo da qual concorrer, seja prò que for, nomeadamente a deputado ou autarca – mas isso são outros quinhentos. 

A primeira, e a mais notória, é que todos e todas são a favor da conservação da natureza, da qualidade de vida e do ambiente. Mas logo de seguida vemos que esbanjam papel a torto e a direito, conspurcam paredes, caixas de correio, paragens de autocarros, os chãos das ruas e pavilhões, com panfletos, postais, autocolantes, cartazes, jornais de campanha, programas e gracinhas de marketingtesas destronadas, estando-se absolutamente nas tintas para as arvoresinhas abatidas para tanto ou para a limpeza dos locais; fazem caravanas intimativas do eleitorado deixando grosso rasto de monóxido de carbono nas passagens e repassagens pelos lugares onde se verificam ajuntamentos, com buzinões por dá cá aquele comício ou sessão de intoxicação mental e propaganda, celebração de resultados ou deslocações em massa, acompanhando as suas vedetas principais nas visitas de campanha aos mais pacatos e sossegados algures da nossa portugalidade. Incendeiam as hostes que, eufóricas e heroicas, depois vão incendiar as matas e florestas, para se manifestarem contra os governos e governâncias, contra adversários e em manifestações de protesto (indefinidas e por conta própria). 

A segunda é a inequívoca anuência à igualdade, principalmente à igualdade de oportunidades e igualdade de género. Acerca da igualdade de oportunidades que professam, mas em que depois falham redondamente no cumprimento, mesmo se ainda não foram eleitos para nada, pondo a feitura material de propaganda e do marketing, sem concurso público, a cargo das empresas dos amigos e patrocinadores dos partidos/movimentos, e a distribuição ou colagens na mão da mão de obra juvenil ao preço da uva mijona, explorando os mais desgraçados; se eleitos, chamam só os partidários da sua facção para os jobs, independentemente das qualificações e sem concurso público, prejudicando os mais competentes e habilitados descaradamente. Em relação à igualdade de género cumprem a lei que obriga a uma determinada percentagem de mulheres nas listas, mas em posições de muito difícil eleição, e ainda assim sob critérios sexistas e feministas, para consolação de grupos e nichos sociais ou associativistas bem demarcados, mas depois disso no material de propaganda e nos programas mantêm o discurso antropocêntrico em que a cidadania fica restringida ao cidadão, omitindo a parte feminina da mesma. E, curiosamente, em partido/movimento nenhum a concurso eleitoral se vê no seu programa a iniciativa de intentar uma revisão constitucional para alterar a redação do Artigo 4 º que dita a cidadania portuguesa, considerando "que são cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam considerados pela lei ou por convenção internacional", que o mesmo é declarar que as cidadãs portuguesas consideradas pela lei ou por convenção internacional não fazem parte da cidadania portuguesa, o que diminui para menos de metade o número de pessoas com tal estatuto, uma vez que em Portugal o número das mulheres é superior ao dos homens. 

A terceira, é a de basear os seus programas em pressupostos inconcretizáveis, ou promessas/princípios (inadiáveis segundo alguns) para as/os quais não têm conhecimento de causa nesses assuntos, ou não têm know-how nem pessoal qualificado disponível nos seus quadros para os abordar e/ou resolver, e muito menos dinheiro suficiente para os contratar. Recentemente foi aprovado um projeto de diploma que proíbe as práticas de publicidade enganosa a atos e serviços de saúde, mas para a publicidade de práticas políticas impossíveis, como foram as promessas em que o Syriza baseou a sua campanha e que os levou ao poder, tendo agora que fazer tudo ao contrário do que prometeram, não foi feito nada, pelo que continuam impunes no nosso país. Esquisito... Prejudicar alguém na saúde é crime, mas prejudicar todos e todas na vida dá condecoração presidencial, nomeadamente para implicados no caso BES... Hum!  

Todavia a prédica já vai longa, e o pessoal tem mais que fazer. Portanto, pedir a pessoas honestas e cumpridoras dos seus deveres, que votem, ou deleguem responsabilidades em alguém que comprovadamente o não é, devia ser proibido por lei em qualquer sociedade livre, justa e solidária, como é a nossa República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular, mesmo que essa dignidade seja amputada nela pela sua lei fundamental às pessoas humanas do género feminino, ou cidadãs. Devia ser proibido e punido severamente. E estranho deveras porque ainda o não foram... Estamos à espera de quê? Do quatro de outubro? Francamente! 

Joaquim Castanho            

8.16.2015

FALSOS NENÚFARES PARA FALSAS LIBELINHAS




FALSOS NENÚFARES PARA FALSAS LIBELINHAS

Neste enredo e labuta
De brandos costumes comuns, 
Mesmo sem marmelos nenhuns
Todos se lascam na fruta. 

Joaquim Castanho

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português