ORAÇÃO DA
PROFESSORA PRIMÁRIA
Senhor,
Tu que ensinaste
Perdoa que eu
ensine,
Que use o nome de
mestra,
Nome que tu usaste
na Terra.
Mestre,
Torna perene o meu
fervor
E passageiro o
desencanto.
Arranca de mim este
impuro desejo de justiça
Que ainda me
perturba,
A mesquinha
insinuação de protesto
Que sobe de mim
quando me ferem.
Não me doa a
incompreensão,
Nem me entristeça o
esquecimento
Daqueles que
ensinei.
Dá-me que seja mãe,
mais do que as mães,
Para poder amar, e
como elas, defender
O que não é carne
da minha carne…
Dá-me que seja
simples e profunda,
Livra-me de ser
complicada e banal
Em minha lição
quotidiana.
Dá-me que retire os
olhos
Do meu peito com
feridas,
Ao entrar cada
manhã na minha escola.
Torna mais leve no
castigo a minha mão
E torna-a mais
suave na carícia.
Que com dor eu
repreenda
Para ter a certeza
De que corrigi
amando.
GABRIELA MISTRAL
(1889-1957), professora e poetisa chilena, galardoada com o Prémio Nobel da
Literatura em 1945