7.16.2011

(Conto tradicional japonês, cuja transcrição para a linguagem ocidental foi feita por Lafcádio Hearn :)

O PEQUENO SEMPREVERDE

O pequeno Sempreverde, o lenhador, era um rapaz de vinte anos, bem-parecido e de muito bom coração. Para sua mãe, então, parecia ser o melhor dos filhos. Todos os dias, de madrugada, ia apanhar lenha às montanhas próximas, que depois vendia no mercado da cidade e, com o dinheiro que lhe davam por ela, comprava géneros alimentícios e roupas para sua mãe.
Um dia, fora Sempreverde à lenha com seu machado, quando, repentinamente, por ele passou um tufão com tal fúria, que o atirou para fora do caminho. Lutando com o vento como se este fosse uma pessoa viva, atirou-lhe uma machadada conforme pôde. Logo sentiu a impressão, bastante estranha, de ter atingido alguém, principalmente depois de ter visto algumas manchas de sangue caminho adiante. Guiado por esse rasto, foi dar a um grande buraco na terra, tão grande que não se lhe via o fundo. Deixou cair nele uma pedra, porém, só passados longos segundos pode ouvir, o fraquíssimo ruído desta aquando do embate.
– Pode viver neste lugar algum demónio – sussurrou de si para consigo.
Meditando, voltou para trás e dirigiu-se à cidade. Na praça pública havia grande algazarra de conversas e exclamações em redor de alguém que estava afixando na parede um edital com estas horríveis notícias: «Hoje, enquanto a Princesa andava passeando no jardim real, foi raptada por uma súbita rajada vento, e desde então ninguém mais soube dela. O Rei e a Rainha estão tristíssimos. Por ordem do governo faz-se pública a notícia deste infausto acontecimento a todos os cidadãos e cidadãs, esperando que alguém traga novas que ajudem a reaver a nossa querida Princesa. Ficam a apresentarem-se no Palácio Real todos quantos tenha tido qualquer aventura com o vento.»
Sempreverde foi à presença do Rei dando-lhe conta do que lhe sucedera a caminho do bosque. Em recompensa das suas informações, o Rei deu-lhe 100 onças de ouro. E feliz e contente, o jovem lenhador levou o dinheiro a sua mãe.
– Onde foste arranjar isso? – perguntou-lhe ela, surpreendida.
Sempreverde contou-lhe toda a história do que se passara. A mãe profundamente comovida com as notícias acerca da Princesa e, com pena do Rei e da Rainha, disse:
– Querido filho, procedeste honradamente em benefício da pobre Princesa. Mas será possível ao nosso Rei, que tanto tem feito por nós, recuperar a sua filha?
– Não me convenço disso – foi a resposta do rapaz.
– Vai, faz o possível para trazer a Princesa – disse ela –, e dar-me-ás uma grande felicidade.
Sempreverde pensou um pouco no caso. Nada lhe teria dado maior prazer que restituir a Princesa a seus pais, mas a empresa parecia-lhe cheia de perigos. E, sem ele, que havia de ser de sua mãe?
– Não tenhas receio, meu filho – disse-lhe esta. – Buda nos protegerá.
Antes que Sempreverde voltasse ao palácio do Rei, este publicou um pregão à procura de um homem destemido que quisesse penetrar na grande cova e salvar a Princesa de qualquer perigo que ela pudesse correr. Ninguém se adiantou com propostas de auxílio, apesar de haver, nessa ocasião, duras competições entre os rapazes por causa da mão da Princesa, e de um deles, chamado Wusan, que tinha de si próprio uma lisonjeira opinião, haver sempre dito que ia casar com ela. Sempreverde foi ter com o Rei, oferecendo-se para fazer o que o outro não fizera.
Muito comovido, o Rei disse-lhe:
– Meu rapaz, possivelmente caminhas para a morte.
– Eu, com tudo quanto é meu, sou propriedade do Rei e da Nação – foi a resposta do rapaz.
Uma grande multidão acompanhou Sempreverde até ao bosque. Instalaram o cabrestante por cima do buraco, com uma corda em volta da roldana. Da extremidade da corda pendia um grande cesto com campainhas. Quando Sempreverde chegasse ao fundo da cova, tinha que dar três sacudidelas na corda e outras três quando estivesses pronto a subir.
O rapaz, armado com seu machado, meteu-se no cesto que foi então vagarosamente descido no escuro buraco, com grandes exclamações de todos. Por baixo de Sempreverde, tudo era absoluta negridão. Sobre ele, o céu, visto pelo orifício do poço, parecia uma pedra preciosa, branca e brilhante. Quando Sempreverde sentiu outra vez terra firma, a redonda pedra preciosa tinha-se torna vermelha de fogo, do sol que caía no ocidente. Deu três sacudidelas às campainhas e, deitando um rápido olhar à sua volta, viu que estava num sítio húmido, de cujo chão vinha o mais desagradável dos cheiros. Quando os olhos se lhe habituaram à escuridão, viu, à distância, qualquer coisa como uma bandeja de prata: era um longo caminho circular através da terra que se abria diante dele.
– Pode ser que eu esteja noutro planeta – pensou o moço lenhador, que tomou a luz redonda por um sol.
Logo prosseguiu sem receio e, quanto mais caminhava, maior a luz parecia tornar-se. Quando chegou ao fim do caminho, Sempreverde ficou sem ver coisa alguma, porque havia uma luz brilhante, proveniente duma grande pedra preciosa, redonda como a Lua e fixa num alto rochedo. Não longe dela, um belo palácio com um telhado pontiagudo de oiro polido lhe surgiu diante da vista.
Sempreverde entrou nesse estranho palácio. Atravessou formosos jardins e grandes salas deslumbrantes decoradas. As paredes eram cravejadas de pedras preciosas. Tudo lá dentro tinha um aspecto estranho e irreal. Não se via de onde provinha a luz e parecia não viver ali ninguém.
Sempreverde estava agora ficando seriamente atrapalhado, quando, de súbito, chegou aos seus ouvidos um abafado suspiro de angústia. Quase sem respirar nem fazer ruído, percorreu um corredor que o conduziu a uma cozinha. E que viu ele na sua frente? A boa Princesa, de rosto pálido e enfermo, diante do forno, cozinhando num tacho de bronze de elegante desenho. Quando o viu entrar, uma expressão de alegre surpresa lhe apareceu no rosto. Depois de lhe ter feito as suas reverências, Sempreverde quis dizer-lhe quem era, mas a Princesa, por gestos, ordenou-lhe com ar de autoridade que ficasse calado, e levou-o para outro aposento, a alguma distância dali.
– Conta agora o que pensas fazer – disse a Princesa, com a fisionomia transfigurada pela esperança.
Sempreverde disse-lhe como se chamava, e contou-lhe o que se passara depois de ela ter sido roubada. A Princesa ficou bastante comovida ao saber dos cuidados de seu pai e de sua mãe.
– Se me restituíres a eles – disse, a minha dívida para contigo será enorme.
Sempreverde prometeu-lhe que, apesar do perigo, havia de levá-la dali.
– Estamos no palácio de um estranho demónio – disse ela tristemente –, tão cruel e violento, que todos os seus criados fugiram. Puderam fugir porque têm asas; eu, porém, não as tenho. O demónio vigia-me dia e noite, e obriga-me a fazer todo o seu árduo trabalho. Agora, foi ferido por um lenhador e ficou muito maldisposto. Quando está encolerizado, eu fujo dele a sete pés.
Nesse momento ouviram um forte ruído, e a Princesa soltou um grito de susto.
– Onde está essa maluca? – Era a voz colérica do demónio. – Ainda está fazer-me a comida, e eu aqui todo este tempo à espera! Ora, eu a ensinarei a trabalhar mais e melhor!
– Oh, afasta-o de mim – pediu a Princesa, enlaçando com os braços o jovem lenhador.
O demónio irrompeu no aposento, soprando raivosamente como um furacão. Na sua cara verde e amarela, os olhos eram brilhantes e luzidios como metal.
Tinha dentes desumanos como um javardo e garras longas e aguçadas como espadas. Foi direito à Princesa, tentando apanhá-la, mas as unhas prenderam-se-lhe na seda do vestido. Sempreverde levantou ao ar o machado e, descarregando-o com toda a força, deu-lhe tal golpe, que a lâmina o atravessou de alto a baixo, e o demónio rolou, hirto, no chão.
A Princesa perdera os sentidos. Voltou a si com a ajuda de Sempreverde, mas sentindo-se ainda tão abalada, que não era capaz de suster-se nas pernas.
– Permiti que vos dê o braço, formosa Princesa – disse ele, com profundo respeito.
Saíram do palácio e voltaram até ao fundo da caverna. Desta vez, a distância pareceu muito mais curta a Sempreverde. A sua satisfação por ter vencido o demónio e salvar do perigo a Princesa tornava-o alegre e feliz.
Quando chegaram ao buraco, a Princesa saltou para o cesto e convidou Sempreverde a meter-se também lá com ela.
– Mas a corda não é suficientemente forte para poder com ambos – observou ele –, e Vossa Alteza tem o privilégio de subir em primeiro lugar, pela sua mais alta categoria.
Mostrava-se tão sem medo ao perigo e tão amável, que a Princesa se comoveu profundamente, dizendo-lhe quanto era grande a sua dívida para com ele, e que, decerto, se casariam quando tivessem acabado aquelas atribulações.
– Ah! – disse o rapaz, duvidando dos seus ouvidos. – Vós quereis casar comigo, que sou apenas um rachador de lenha?
– Ainda que não sejas de alto nascimento – foi a resposta da Princesa –, o certo, é que tens o coração de um grande homem. Toma este vestido de seda que tornou possível a tua vitória sobre o demónio. Será a prova do nosso ajuste, para o recordarmos até nos tornarmos a ver.
Sempreverde deu três campainhadas, e o cesto foi içado.
A Princesa, agitando os braços, tocou com as mãos nos lábios e atirou-lhe um beijo. E ele teve quase a certeza de que, ao mesmo tempo, lhe chegaram suavemente aos ouvidos estas palavras:
– Tu és o meu amor.

***
Umas vezes esperançados e outras receosos, o Rei e a Rainha puxavam a corda ao mínimo sinal de movimento. Pareceram-lhe longuíssimos os minutos. Ao ouvirem as campainhas, prosseguiram, entusiasmados. Todos quantos viviam na cidade ali tinham vindo com as suas melhores habilidades para divertir a Princesa. Por fim, ela apareceu. O Rei e a Rainha estavam completamente dominados pelo contentamento. Rindo e falando, tomaram a filha nos braços.
– A Princesa está salva! – Diziam de todos os lados, soltando exclamações. – Viva Sempreverde!
O Rei ordenou que o feliz sucesso fosse assinalado com um dia de folga e divertimento geral. A única pessoa infeliz, nesse momento, era Wusan. Posto que fosse filho de um homem poderoso, tinha poucas probabilidades de vir a ser amado pela Princesa. Só queria saber de si próprio, sem jamais pensar no bem dos outros. Era mesquinho e cheio de manhas desagradáveis.
– Sempreverde tomará o meu lugar, se o não afasto do meu caminho – pensou Wusan.
Foi ao buraco, desfez o nó da corda em volta da roldana quando Sempreverde ia subindo no cesto, e atirou para dentro da furna uma peça de fogo de artifício, o qual ribombou, saindo de lá um tal barulho e uma luz tão brilhante, que toda gente se convenceu de ser o demónio que voltava para se vingar; e assim, fugiram todos com medo, sem pensarem mais em Sempreverde.
Toda a noite Sempreverde esteve tristíssimo: a queda não fora muito grave e não ficara nada magoado. Mas perdera as esperanças de tornar a ver o dia. Por cima da sua cabeça, a abertura da caverna parecia um rubi vermelho-escuro e, pela madrugada, uma safira azul. Naquela triste situação, não lhe valia de nada abanar as campainhas e gritar.
– Deve haver outra saída – considerou, de repente, de si para consigo.
E voltou ao estranho palácio. Que era aquilo? De algures, muito próximo, chegou até ele um grito de aflição.
– Acode-me Sempreverde! Acode-me!
A voz era fraquíssima. O lenhador chegou ao pé de uma grande porta chapeada de bronze, fechada por um enorme ferrolho. De novo lhe chegou a voz aos ouvidos. Rapidamente, desaferrolhou a porta. Diante dele estava uma estreita prisão subterrânea, de onde pendia um grande dragão amarrado, pelos pés, à parede.
– Liberta-me, Sempreverde, e serás recompensado pelo teu trabalho – lhe garantiu o bicho.
Com grande cuidado, Sempreverde desprendeu-lhe os feridos pés e logo viu à sua frente um formoso mancebo que lhe contou a história das suas aventuras.
– O meu pai é o Rei do Mar. Como a Princesa que por tua intervenção, está agora a salvo, também eu fui feito prisioneiro pelo demónio que mataste. Ontem, quando te aproximavas desta porta, ao ouvir as tuas passadas, dei um grito. Mas os teus pensamentos eram todos para a encantadora Princesa. Fiquei outra vez sem esperança, até que o ruído dos teus passos voltou. Meu senhor Sempreverde, lembrar-me-ei sempre de ti, que me libertaste da prisão. Ser-me-ás tão querido como meu pai e minha mãe, porque a existência que eles me deram primeiro, voltas tu, agora, a dar-ma. Andava brincando alegremente pelo mar – prosseguiu –, e eis senão quando, veio sobre mim o demónio, bradando: «Alcança-me um pouco daquela bebida que faz viver eternamente. O teu pai tem, num sítio qualquer do palácio, uma garrafa cheia dela!» Como não lhe quis revelar o segredo do lugar onde ela estava guardada, o demónio, furioso, prendeu-me com as suas mãos de garras enormes e fez-me sofrer este humilhante castigo que presenciaste.
– Sinto-me muito feliz por ter vindo acudir-vos – disse Sempreverde – mas parece-me que há poucas esperanças de sair daqui, porque não encontro meio algum.
– Deixa-me ver, primeiramente, onde há água – disse o Princípe do Mar. – Isso simplificará mais as coisas.
Nas traseiras do palácio viram um grande jardim com um tanque de água. Ao tocar nela, o Príncipe voltou à sua primeira forma de dragão, e, de súbito, transformou-se numa nuvem de diferentes cores.
– Trepa para as minhas costas – disse ele a Sempreverde – e deixa estar os olhos fechados até que possamos chegar ao nosso destino.
Sempreverde assim fez, sentindo como que um furacão soprar-lhe rudemente aos ouvidos. Primeiramente, teve a sensação de subir, depois de descer. Quando tornou a abrir os olhos, viu que estava numa grande extensão de areal. Diante dele achava-se o mar azul.
– Onde estamos? – Perguntou, surpreendido.
– Nos meus domínios – foi a resposta do Príncipe. – E levo-te à presença de meu Pai, terá extraordinário prazer em saber o que fizeste por mim.
A princípio, Sempreverde não queria ir, receando que sua mãe pudesse estar em aflições, à sua espera. Mas o Príncipe cumpriria a sua palavra. Viu então abrirem-se amplamente as vagas e aparecerem, entre as duas paredes de água, degraus de polido mármore branco. Os dois amigos desceram-nos. Ao fundo da escada, havia uma grande porta e, na empena, em letras de ouro, estas palavras:
PAÇOS DO REI DO MAR
As paredes do palácio eram brilhantes como joias. Dois grandes peixes azuis estavam de sentinela à porta. Quando viram aproximar-se gente, avançaram para ver quem era, voltando logo para trás, como costumam andar os peixes na água, para trás e para diante. Dentro do palácio dançavam rapazes e raparigas, iguais às sentinelas, mas com a única diferença que estes tinham cauda como os peixes e outros animais marinhos. Alguns deles saíram a dar a notícia do regresso do Príncipe.
O velho Rei do Mar, com a sua longa cauda entrançada em anéis, desceu do seu alto trono com delicadas palavras para Sempreverde.
– É natural que o vosso principal desejo seja ver a vossa mãe – disse ele –, e portanto não quero reter-vos muito tempo no meu paço. Deixai-me somente dar-vos qualquer coisa como recompensa.
E, a uma ordem do Rei, avançou um grupo de ostras com cofres cheios de pérolas e pedras preciosas de grande valia, mais belas que todas quantas jamais tinham visto as maiores princesas da terra.
– Não as aceiteis – disse, em voz baixa, o Príncipe, ao seu amigo. – Pede antes a Maçã de Ouro que está ao lado Rei. Vale mais que todas as joias ou que a maior riqueza, pois te dará tudo quanto desejares.
Com profundo respeito, Sempreverde recusou todas as oferas do Rei do Mar.
– Se não há aqui nada do vosso agrado – disse o Rei – então, que posso eu oferecer-vos?
– Ó grande Rei – respondeu Sempreverde –, far-me-eis muito feliz, se me désseis a Maçã de Ouro.
– Aqui a tendes – disse bondosamente o rei do Mar. – Não há nada com que eu não ficasse satisfeito de vos dar.
O jovem Príncipe conduziu até à borda do mar o seu amigo.
– Vamos separar-nos, querido Sempreverde – disse meigamente. – Entristece-me muito isto, pois nunca mais nos veremos, mas saberei novas do que te acontecer. Esta maçã satisfará todos os teus anseios. Basta dizer «Querida Maçã, dá-me isto, dá-me aquilo», e todos os teus pedidos serão realizados.
E, com estas palavras, o jovem Príncipe mergulhou outra vez no mar.
– Querida Maçã de Ouro – foi o primeiro pedido de Sempreverde –, dá-me um carrinho que me leve até casa de minha mãe.
E, num instante, apareceu no areal uma carruagem com asas. O jovem lenhador subiu para ela e foi navegando, como um pássaro, entre as nuvens do céu.
A Princesa estava inconsolável com a perda de Sempreverde e dizia para consigo que havia de lhe ser fiel, esperando pelo seu regresso.
– Ou casarei com Sempreverde, ou com ninguém – disse, com firmeza na voz, ao pai e à mãe, quando eles tentaram decidi-la a escolher outro homem. Ela e a mãe do rachador de lenha passavam agora muito tempo juntas, consolando-se uma à outra da perda do mesmo ser amado. Grande foi, por conseguinte, a sua surpresa ao ver, um dia, descer do céu uma carruagem com asas. E, quando viram sair de lá Sempreverde, não lhes parecia possível que estivessem verdadeiramente acordadas. O rapaz abraçou a sua mãe, que o cobriu de beijos e afagos.
– Que excelente filho! – disse a Princesa consigo. – Com certeza que há de fazer-me muito feliz, se eu casar com ele.
Sempreverde foi à presença do Rei e da Rainha, de todos os principais dignitários e de todo o povo, e contou-lhes as suas aventuras e o estranho modo por que o cesto se despenhara. Era crença geral que tinha sido obra de alguma pessoa ruim.
O falso namorado da Princesa estava agora cheio de vergonha. Sempreverde, querendo saber ao certo quem lhe tinha feito a partida, perguntou à Maçã:
– Minha querida Maçã de Ouro, quem foi o autor daquela maroteira?
Wusan adiantou-se e, ajoelhando perante o Rei, confessou:
– Fui eu que desfiz o nó e atirei para dentro do buraco uma peça de fogo-de-artifício para vos fazer abandonar Sempreverde.
Ao ouvir aquilo, o Rei ordenou que Wusan fosse decapitado. Mas Sempreverde disse que tinha um grande desejo de punir ele próprio Wusan, e o rei autorizou-o a fazê-lo.
– Minha querida Maçã de Ouro – pediu Sempreverde –, faz com que o infortunado Wusan dê mostras de vergonha pelo que fez.
Imediatamente Wusan, profundamente comovido, rogou a Sempreverde que o deixasse ir embora em liberdade, ao que o bondoso Sempreverde gostosamente acedeu, sem mais nenhum argumento.
A Princesa e Sempreverde casaram nesse mesmo dia. Toda a cidade e o Palácio do Rei foram belamente enfeitados e, à noite, iluminados com balões de cores. Sempreverde pode dar à família da Princesa presentes como nenhum filho de Rei podia permitir-se. Agora, que era o dono da Maçã de Ouro, ninguém tinha fortuna nem joias iguais às dele. A própria Princesa parecia completamente pobre comparada com Sempreverde. Toda a nação tomou parte no auspicioso acontecimento: dia e noite, houve todas as espécies de folguedos, e toda a gente estava contente, até Wusan, que parecia o mais satisfeito de todos. A mãe de Sempreverde foi acolhida pelo Rei e pela Rainha, mas o mais feliz de todos era o próprio Sempreverde: o mais adorado ornamento dos seus aposentos particulares era o vestido de seda que a Princesa lhe dera em memória do grande feito dele e do seu fiel amor.

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