1.24.2009

Sobre os Milagres das Obscuras Mentalidades

É um manifesto sinal de fraqueza e insegurança, desafiar seja quem for que se encontre em posição contrária a outrem, tanto na política – Manuela Ferreira Leite desafia José Sócrates para debater na televisão isto ou aquilo –, como em termos judiciais e da jurisprudência – Gonçalo Amaral desafia Leonor Cipriano –, tentando assim fazer passar a mensagem da verdade estar do lado de quem desafia, por força de razão, coisa extraordinariamente absurda, já que raramente a razão tem qualquer relação directa com os graus de força, por hipotética que esta se avizinhe, quando é, afinal, antes sintomático da desconfiança tida pelo próprio de a não ter, e exactamente por isso precisar de uma oportunidade derradeira comprovativa de ela lhe assistir, embora que não no todo mas em grande parte, principalmente porque ela, a razão e a verdade se interpenetram ou fundem numa só, e esta, como a procura dela, nunca por nunca ser se poderá confundir com um jogo de retórica, recato de valor sofismável, porquanto a verdade, independentemente do que esse termo signifique ou área do conhecimento em que se inscreva, jamais será plástica e moldável conforme as motivações humanas, quiçá igualmente relativas, mas está ali, é, exactamente ali e sendo ela própria e não outra versão qualquer dela, traduzível por confrontos ou dialécticas, e são sempre necessárias muito mais que as capacidades individuais para que a tornem visível, logo, partilhável aos "confrades" igualmente sequiosos dela. Haver alguém que se supõe capaz de demonstrar por confronto, por agilidade verbal, bagagem vocabular, agilidade de raciocínio e destreza lógica, que a possui do seu lado, não é demonstrativo absolutamente de nada, nem de maturidade, nem de inteligência, antes dos seus contrários, tornando relevantes e evidentes o criancismo primário, como a carregada dose de realismo mágico que sustenta, insipientes à luz da modernidade e do conhecimento humanitário, do indivíduo que acredita em milagres para resolver a dúvida e confusão, a intencionalidade turva e opacidade, em que a sua mentalidade navega.
Aliás, é o comportamento típico, de quem apaga a luz da sala na esperança que os restantes, que estão dentro dela, também vejam algo que apenas ele vislumbrou, ou admite ter visto e realizado. É, enfim, na generalidade, exigir ao semelhante que seja tão obtuso quanto acreditamos ser!

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