Portugal é um país que reconhecidamente possui uma enorme riqueza em ecossistemas únicos, com uma biodiversidade invejável, que no seu todo constituem um património natural que representa, se bem explorado, uma mais-valia e um potencial de desenvolvimento para o país.
Temos 2 milhões de hectares de Rede Natura, que abrangem cerca de 22% do nosso território e dentro desta, cerca de 700 mil hectares de áreas protegidas.
Acontece, que apesar de todos reconhecermos este património vastíssimo, de todos concordarmos que é necessário investir na sua preservação e de que este representa um potencial de oportunidades, nomeadamente, pela forma como este se interliga fortemente com a aposta no turismo, o que é facto, é que este património tem vindo a degradar-se paulatinamente.
Poderíamos ser levados a pensar, que esta degradação se deve a uma sobrexploração no seu aproveitamento, mas a verdade é que na maioria dos casos, este património está a degradar-se pelo abandono a que está votado.
Esta é a realidade espelhada no sentimento de mais de um milhão de cidadãos que habita as áreas protegidas e que ainda hoje quase só sente as vicissitudes de residir em zonas protegidas e não vislumbra o retorno que este património poderia significar no seu desenvolvimento sócio económico, em virtude, exactamente, da falta de estratégia e do desinvestimento público.
No ano de 2006, um quinto da área ardida, ocorreu em áreas protegidas, mas independentemente de ninguém colocar em causa a responsabilidade do Estado sobre todo território classificado como paisagem protegida, a tendência tem sido a de obrigar os particulares a cumprir com as suas obrigações, escusando-se o próprio Estado de dar o exemplo em matéria de assunção de responsabilidades.
Se avaliarmos, por exemplo, o território ardido em 2006, constatamos que existiu uma maior percentagem de área ardida nas matas do Estado do que nas matas pertencentes a particulares, ou seja, em 2006, arderam 0,8% das matas pertencentes aos privados, enquanto, nas matas do Estado, arderam três vezes mais.
Este exemplo serve apenas para demonstrar, de que se é verdade que em muitos casos existe uma desresponsabilização dos particulares nesta matéria, tem existido muito mais desresponsabilização do próprio Estado que deveria ser o primeiro a dar o exemplo.
Mas hoje, o estado de saúde das nossas áreas classificadas é bem o espelho da situação em que se encontra a entidade que por elas devia zelar.
O Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade, que conta com mais de 32 anos de história, vive hoje, porventura, os seus dias mais difíceis.
A actual situação de um presidente em gestão, desde Novembro, altura em que terminou o seu mandato e manifestou a sua indisponibilidade para continuar em funções e o protelar da situação, quatro meses depois, sem que exista a nomeação de um sucessor para presidir aos destinos deste Instituto, dá bem a ideia do que se vive nesta entidade.
Para “Os Verdes”, tal situação, só é explicada pelo facto dos eventuais convidados pelo Ministério do Ambiente, conhecerem bem a miséria que se vive no ICNB e de não quererem queimar-se no abandono a que está este Instituto votado.
A provar isso mesmo, está um dos últimos despachos do ainda presidente, que determina, a redução das verbas destinadas às rubricas de ajudas de custo, de combustíveis e de reparação de viaturas, em 45%.
Tal situação, para além de colocar em causa a participação do ICNB na prevenção, vigilância e primeira intervenção nos fogos florestais, tem levado à não participação em inúmeras Comissões e tem levado à situação de se estarem a dar pareces sem que existam por parte dos técnicos visitas aos locais.
Embora esta seja uma questão transversal a todos os Governos, que não têm sido capazes de inverter esta tendência de um estrangulamento financeiro crescente do ICNB, importa aqui que se recorde a redução das dotações orçamentais que têm sido ditadas por este Governo.
De 2005 para 2008, em apenas três anos, o Governo do Partido Socialista, reduziu, de 40 para 28 milhões de euros, o orçamento destinado a este instituto, qualquer coisa como um corte de 30% das verbas.
Recorda-se, a título de exemplo, que o Orçamento de Estado de 2008, que dá 28 milhões de euros para o ICNB, é o mesmo Orçamento de Estado, que dá 43 milhões de euros para a nova fábrica da Pescanova em Mira.
Mas para além das carências financeiras, o ICNB tem carências, reconhecidas por todos, em recursos humanos. Com um quadro que aponta para mais de 1000 funcionários, apenas, segundo se conhece, tem 650 vagas preenchidas.
O Sr. Ministro do Ambiente dizia à 2 anos e meio, num discurso para assinalar os 30 anos deste Instituto, que tinham sido aumentadas de forma exponencial as competências e atribuições do ICN, e que estavam identificadas carências óbvias, nomeadamente, ao nível dos recursos humanos e técnicos.
Ora acontece, que após dois anos e meio, o que o Ministério do Ambiente fez, foi reduzir o número de vigilantes da natureza, concentrar recursos humanos em Lisboa e pretende, actualmente, remeter para a mobilidade, mais um conjunto de trabalhadores rurais do ICNB.
Ou seja, se as carências já eram muitas no terreno, são hoje muito piores.
Por fim, e porque é sempre bom recordar o que diz o Programa do Governo, referir que nele consta o seguinte compromisso: promover “a reorganização do ICN, devolvendo-lhe dignidade e superando, progressivamente, a situação de grave estrangulamento financeiro em que se encontra”.
A pergunta que fica é:
Se em 2005, 40 milhões de euros de orçamento para o ICNB, significavam um estrangulamento financeiro, o que é que significará hoje, esse mesmo orçamento, reduzido em 30%, em apenas três anos?
Declaração Política do Deputado José Miguel Gonçalves
sobre Conservação da Natureza
26 de Março de 2008
Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
3.28.2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Onde a liquidez da água livre
Arquivo do blogue
- ► 2019 (152)
- ► 2017 (160)
Links
- A Aliança
- A Cidade e as serras
- A Dobra do Grito
- A Espuma dos Dias
- A Sul
- A Vida Não É Um Sonho
- AMI
- Abrupto
- Ad-Extra
- Aldeia T
- Alentejanos de Todo o Mundo Uni-vos
- Alexandria à Gomes de cá
- Algarve Renovável
- Alguém Me Ouve
- Almocreve das Petas
- AmBio
- Amazónia
- Amigos do Botânico
- An Ordinary Girl
- Ante-Cinema
- Ao Sabor do Toque
- Astronomia 2009
- Aves de Portugal
- Azinheira Gate
- BEDE
- BIBLIOTECÁRIO DE BABEL
- Barros Bar
- Bea
- Bede
- Biblio
- BiblioWiki
- Bibliofeira
- Bibliofeira
- Biblioteca António Botto
- Biblioteca Digital
- Biblioteca Nacional
- Biblioteca Nacional Digital
- Biblioteca Nómada
- Biblioteca do IC
- Bibliotecas Portuguesas
- Bibliotecas Públicas Espanholas
- Bibliotecas-
- Bibliotecário de Babel
- Bibliotecários Sem Fronteiras
- Biodiversidade
- Biosfera
- Blog dos Profs
- Blogs em Bibliotecas
- Blogue de Letras
- Boneca de Porcelana
- Burricadas
- CEAI
- CFMC
- CIBERESCRITAS
- Cachimbo de Magritte
- Caderno de Paris
- Campo de Ideias
- Canil do daniel
- Cantinho das Aromáticas
- Canto do Leitor
- Capas
- Casa da Leitura
- Centenário da República
- Centro Nacional de Cultura
- Centro de Estudos Socialistas
- Cercal da Eira
- Ciberdúvidas
- Circos
- Citador
- Ciência Viva
- Clima 2008
- Clube de Jornalistas
- Coisas Simples e Pequenas
- Coisas da Cristina
- Coisitas do Vitorino
- Comer Peixe
- Cometas e estrelas
- Comissão Europeia Portuguesa
- Companha
- Conjugador de Verbos
- Crescer Com Saúde
- Crítica Literária
- Crónicas do Planalto
- Câmara Clara
- DAR
- Da Literatura
- Da Poesia
- Deixa Arder
- Depois do Desenvolvimento
- Devaneios
- Diagonal do Olhar
- Dias com Árvores
- Dicionário de termos Literários
- Diário da República
- Doce Mistério
- Dona Gata
- Dreams
- Ecologia Urbana
- Ecosfera
- Edit On Web
- Educação Ambiental na Net
- Ellenismos
- Ensayo Pessoa
- Escola Pública
- Escolhas de Sofia
- Escribalistas
- Espiritismo
- Estação Liberdade
- Estudio Raposa
- Eurocid
- Evolução da Espécie
- Extratexto
- Farol de Ideias
- Fauna do Cerrado
- Ferrus
- Ficção
- Floresta do Interior
- Folhas de Poesia
- Fongsoi
- Fonte de Letras
- Fotos da Natureza
- Fotos do Nick Brandt
- Fratal 67
- Frenesi
- Fundo Português do Carbono
- GOSGO
- Google News
- Governo
- Gulbenkian
- HSI
- Habitat Ecológico
- História universal
- IDP Democracia Portuguesa
- Ideotário
- Impressões Literárias
- Incrivelmente Perto
- Infografando
- Instituto Camões
- Jacques Brel
- Jornal das Freguesias
- José Saramago
- Justiça e Cidadania
- Justiça e Democracia
- Kampus de Ideias
- LER
- Leite de Pato
- Leitora Crítica
- Leoa Verde
- Linha de Pesca
- Literatura e-
- Livre Expressão
- Livros e Críticas
- Lumiarte
- Lusa
- Lusitânica
- Luso Borboletas
- Madeja de Palabras
- Malaposta
- Maldita Honey
- Manuela
- Maria Clara
- Missixty
- Movimento Perpétuo
- Movimento Rio Tinto
- Mundo Ecológico
- Mundo de Pessoa
- Mundo dos Golfinhos
- Mutações
- NICK BRANDT
- Nada Niente
- National Geographic
- Natura
- Nick Brandt
- Nobel Prize
- Notas e Apostillas
- Notícias de Castelo de Vide
- Nova Economia
- Nova Floresta
- O Bocas
- O Boomerang
- O Coiso
- O Currupião
- O Escribalista
- O Fingidor
- O Indigente
- O Janesista
- O Parcial
- O Silêncio dos Livros
- OIT
- OREE
- Objectiva Campo Maior
- Oficina de Poesia
- Olho Neles
- Omj
- Ondas 3
- Opinião Socialista
- Os Ribeirinhos
- Os Verdes
- Othersky
- POUS
- POUS Portalegre
- Palavra Criativa
- Pandora e Adrian
- Parlamento
- Parlamento Global
- Partido Pelos Animais
- Pedro Marques
- Per-Tempus
- Photo-a-Trois
- Photos e Scriptos
- Pimenta Negra
- Planeta Azul
- Planeta Azul
- Plano Nacional de Leitura
- Podolatria
- Poemas Diários
- Poesia Ilimitada
- Poesia Saiu à Rua
- Poesia de Gabriela Mistral
- Poesias e Prosas
- Ponto
- Ponto Cinza
- Por Mão Própria
- Por Um Mundo Melhor
- Porbase
- Porosidade Etérea
- Portal da Literatura
- Portal da Língua
- Portalegre On Line
- Português Exacto
- Presidência da República
- Projecto Gutenberg
- Projector do Sótão
- Putas Resolutas
- Pés de Gata
- Qualidade do Ar
- Queridas Bibliotecas
- Quintas Com Livros
- RELEITURAS
- Raquel
- Raízes
- Receitas da Lígia
- Reconstruir a Esperança
- Rede Cultural
- Releituras
- República Laica
- Reservas Naturais
- Retalhos de Leitura
- Revista Diplomática
- Revista Portuguesa
- Rio das Maçãs
- Robot Intergaláctico
- Rouge de Garance
- Rua Nove
- SEVE
- SOS Praia Azul
- SOS Vida
- Sais de Prata
- Sara
- Sara P
- Saumon
- Schmoo-Schmoo
- Schopenhauer
- Selvagens
- Seve
- Sinusite Crónica
- Sob Pressão Não Consigo
- Sociedade Civil
- Sombra Verde
- SonoPoesia
- Stand-Up
- Tempo das Cerejas
- Terra de Encanto
- Todas as Letras
- Tu Indecisa
- UALG
- UNESCO
- Umbigo
- Ursula
- Usina de Letras
- Utopia
- Verduras Factuais
- Verão Verde
- Viagens no Meu Sofá
- Viajarte
- Vida Involuntária
- Vida das Coisas
- Viver Literatura
- Walkyria
- Wild Wonders
- Wildlife
- Y2Y
- Zeariel
- e-cultura
- kARINA
- À Margem
- Árvores do Norte
Acerca de mim
- Joaquim Maria Castanho
- Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português
Sem comentários:
Enviar um comentário