O PULO DO PONTEIRO
Vivi sem planos um ano inteiro!
Prà’manhã não tenho nada planeado
– Que até o sol, se for de janeiro
Olha pra dezembro como mês passado.
Minha vida é um supor descuidado
Ponto de fuga adiada, primeiro
Logo assumida, detalhe, seleção;
Como que um tic-tac desse ponteiro
Digital que pula sempre afinado,
Mas tanto lhe faz seja dia a dia, mês
A mês, ano a ano ou estação a estação:
Ao fazê-lo, esquece de onde veio
Para, assim, viver o que tem em cheio,
Esquecendo-o, mal pule outra vez!
Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade
O AGORA TEM POUCA DURA
Esse agora tem muito pouca dura
Não é de confiar nem longas esperas
Mesmo sendo previsto ou abençoado;
Sua pureza ‘tá na grande mistura
Impura qu’o futuro tem do passado.
O presente, esse muro de lamentações
Com que a gente asperge o passado
E salpica expetativas no futuro,
Tem por óbice alisar os verões
Emparedar quaisquer primaveras
E fala sempre muito e por dobrado
Das quimeras (as tais aves que são feras)
Acaso se não sinta pleno e seguro.
O presente é um cruel condenado
Que esquece quem foi mal vê o futuro;
Faz dele caminho em qualquer lado…
– Com manhã clara apaga ontem escuro!
Joaquim Maria Castanho
MADRUGAR
Descendente destas sombras esguias
Voz cavada pelas linhas sem credo
Aligeiro os meses, horas e dias
Adormeço tarde e ergo-me cedo.
E nesse acinzentado destino
Como quem atravessa a neblina,
Envieso a alma, esgar menino
Prà leitora da palavra que ilumina.
Joaquim Maria Castanho
O PENSADOR
Aqui sentado
O tempo escorre,
Como um cuidado
Que nunca morre.
Porém, se medito,
Apenas acredito
Ser quase prece
Desse grito
Que não esmorece
Pelo granito
Que me percorre.
Joaquim Maria Castanho
C/ escultura de João Aires Garcia
BOAS FESTAS! FELIZ NATAL!
ANO NOVO DE EXCEÇÃO!
E que a PAZ UNIVERSAL
Traga harmonia à tradição.
Eis quanto vos desejo
Minhas amigas, amigos meus:
PROSPERIDADE e FESTEJO,
Seja qual for vosso Deus.
NAMASTÉ _/|\_
MEDIDA CERTA
De onde vem, não sei
E, pra onde vai, também não;
Mas vê-a a filha do rei
Como a do maior pobretão...
De onde vem, não sei.
Pra onde vai, desconheço.
Mas tem meneios de lei
Pois só o amor que dei
Mereço.
Joaquim Maria Castanho