O ANSEIO DE VER
Conjugo todos os verbos como rios
Que vão desaguar naquele estuário
Onde a maresia fecunda os navios
A lua é uma sombra que te imita
Um esgar que se esvanece e fita
Horizonte do real prò imaginário
Lá, atrás, nos dias longos, solitário
Se guardei o sentir incendiado
Após o primeiro dia em que te vi
Segredo tangente, resvés à fala
Como um constatar que nos abala
Nos joga prò turbilhão do indizível
Negando o que já sentíramos até aí,
Até então, mesmo até a essa hora
Até ao derradeiríssimo momento
Origem da tristeza e do contento
Detonador d'explosões universais
Que fazem com que o que antes fora
Sim, a partir daí, não o seja jamais
E passe a ser outra coisa qualquer
Perdendo o que poderia ter sido
Pra ser só pleno acatar do que vier…
Sofreguidão sem ter nada a esperar
Além dessa união que os verbos têm
Quando encontraram também alguém
Com arrebatado desejo dos conjugar.
De os aceitar tal e qual querem ser
Quando são esse seu único meio
De serem já o espelho do meu ver
Se és quem vejo… – e por ver anseio!
Joaquim Maria Castanho
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