4.24.2017

COM AS FOLHAS SOLTAS DO SENTIDO




COM AS FOLHAS SOLTAS DO SENTIDO

A dúvida me desfolha, tortura
E dilacera, que chego a delirar
Às doídas fronteiras da loucura, 
E aí te guardo pra lá do guardar. 

Não só teu rosto, mas também a voz
Perduram em mim, marcam o dia, 
Desatam e desenleiam estes nós
Com que alma à mágoa se prendia… 
Doía não te ver, com o doer atroz
Que fomenta essa melancolia, 
Que isola e ata, me deixa a sós,
E bloqueia o crer, que já descria
Sentir o quanto à vida se alia 
A si mesma e segreda existir,
Ou diz calada que sem ti é nada
Como igualmente eu nada sou, 
Ínfimo ponto sem ser nem porvir
Gota que seca no pó da estrada
Tão longe da água que a gerou
Que é lágrima de sangue morto, 
Coalho no soalho podre e torto
Do chão irregular, chão contorcido
Moída incerteza sobre teu querer,
Expetativa, papel atribuído 
Ao sentir que de mim sabes ter,
Que não sabê-lo me tira o sentido
Se dilacerado meu ser na espera
Corrói o ânimo já tão corroído
Que até o respirar me dilacera…


Tão amargurado, na incerteza
Que é a dor onde fora gerado, 
Que se fora flor de rara beleza
Havia de ter pétalas de cuidado
E dúvida, que me traz desfolhado.

Joaquim Maria Castanho

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La vida es un tango y el que no baila es un tonto

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