HOJE ENTREI EM ÓRBITA
Vou, ao arrepio do tempo
(Cultivador de maturidade),
Enquanto as folhas e vento
Semeiam outonos na cidade,
E pintam a amarelo-torrado
Esses outros rodapés plo chão
Que esperam no Natal gelado
De caramelo cremado a nevão,
Percorrendo passo após passo
Erguido acerca do que faço
(Botaréus e socalcos de ilusão,
A espécie de véu e melaço
Que é a goma dos simples dias
Em que reverdecem as poesias,
Senão todas, mas principalmente
As que nascidas por encontrar-te
Descendo a rua com tua amiga/
/Colega, são essência da arte
Presença e parte suficiente,
Além de precisa), grão e espiga
Desse cereal, único âmbar
Sentidos e sentimentos, unidos
Num só, sem o juízo, sem julgar
Que os tornaria empedernidos,
Contrafeitos ou presumidos,
Antes do ser na alma os acatar…
Vou, dizia, passo após passo
Sem pensar em que pensar, e então
De repente ali, na minha frente,
És traço, e és ponto, e és traço
De um morse que só o coração
Ouve – e fico a girar no espaço.
Joaquim Maria Castanho
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