Uma Questão de Ética Não é Uma Falsa Questão
Quem ateia fogo à noite, de manhã come-lhe as cinzas. Pese embora haver basta gente que o desconheça, esta é mais uma daquelas realidades que não se incomodam nem debilitam pela ignorância dos que a sofrem, e sobre os quais recai, independentemente de a contemplarem e reconhecerem, ou não. Tal como as leis, ninguém se pode esquivar a cumpri-las argumentando o seu desconhecimento. Para uns pode ser o poder da ressaca, para outros a evidente valia da resiliência. Agora, do que dificilmente nos alhearemos, é que se fizermos alguma coisa de acalorado e exigente esforço num dia, ao outro sentimo-lhe os efeitos, mais ou menos nefastos, é claro, conforme o grau de intensidade e a nossa capacidade de encaixe, ou resistência, o determinarem. E nas relações interpessoais, isso está igualmente estabelecido e atuante.
Por outras palavras, os impulsos e repentes de exagerada visibilidade pagam-se. E não raras vezes, com um preço elevadíssimo e juros de mora.
Suponhamos que alguém que nos é estimado e nos estima, respeita e acarinha, ajuda e apoia, se confia e partilha, sabe de fonte fidedigna que a traímos contando a terceiros o que só a nós confiou, ou nos ama mas nós preterimos na hora de dar e recolher prazer, fazendo-o com outrem. Devemos depois esperar e exigir que essa pessoa continue a ser para nós o que antes era?
É sobrenatural quem o for, e desumano quem criou semelhante expectativa. A dignidade e a integridade, física ou moral, não são lixo que se possa varrer para debaixo do tapete descurando a hipótese de que alguém o levante ou puxe. E então, o sarilho dá-se. A coisa estoura. O vulcão entra em erupção. O incêndio deflagra. A tragédia eclode. E quem são os verdadeiros culpados? Nós que traímos, ou aqueles que confiaram?
Se um governante que nos tutela os destinos, que nós elegemos e em quem confiámos, vai para o estrangeiro contar pormenores da nossa actividade sócio-económica sem que ter consultado acerca dessa iniciativa, então não pode esperar depois que os governados estejam disponíveis para a concretização desses detalhes, sobretudo se eles mexerem directamente com o seu nível de vida e poder de compra.
José Sócrates, não obstante, cometeu exatamente essa afronta, tanto aos que nele votaram, como aos que se lhe opuseram. Tripudiou em cima de todos, sem excepção nem vergonha, tendo descaradamente de seguida exigido, por uma questão de interesse nacional, colaboração na execução prática – via PEC IV – dessas medidas de austeridade, que alardeia serem fundamentais para superar "a crise". Pois bem, estas coisas têm o seu preço. Vai esperar por eleições no final do mandato, ou gostaria de matar a curiosidade mais cedo? Ora, o que é certo, é que Passos Coelho seria capaz de fazer o mesmo se estivesse nas mesmas circunstâncias... Porque não é com chiliques e arroubos de líder tocado pela graça histriónica, na mira do poder, pela via das SCUT carreiristas, que ficamos convencidos que entre duas iguais uma é melhor que a outra. George Orwell já nos contou essa fábula no século passado, e todos a compreendemos, pese embora muitos vivessem na quinta sem nunca terem ido à escola.
Então!, ainda estão à espera de ver para crer? Entre os homens de bem, uma questão de ética foi sempre, e continuará a ser, uma verdadeira questão.
Quem ateia fogo à noite, de manhã come-lhe as cinzas. Pese embora haver basta gente que o desconheça, esta é mais uma daquelas realidades que não se incomodam nem debilitam pela ignorância dos que a sofrem, e sobre os quais recai, independentemente de a contemplarem e reconhecerem, ou não. Tal como as leis, ninguém se pode esquivar a cumpri-las argumentando o seu desconhecimento. Para uns pode ser o poder da ressaca, para outros a evidente valia da resiliência. Agora, do que dificilmente nos alhearemos, é que se fizermos alguma coisa de acalorado e exigente esforço num dia, ao outro sentimo-lhe os efeitos, mais ou menos nefastos, é claro, conforme o grau de intensidade e a nossa capacidade de encaixe, ou resistência, o determinarem. E nas relações interpessoais, isso está igualmente estabelecido e atuante.
Por outras palavras, os impulsos e repentes de exagerada visibilidade pagam-se. E não raras vezes, com um preço elevadíssimo e juros de mora.
Suponhamos que alguém que nos é estimado e nos estima, respeita e acarinha, ajuda e apoia, se confia e partilha, sabe de fonte fidedigna que a traímos contando a terceiros o que só a nós confiou, ou nos ama mas nós preterimos na hora de dar e recolher prazer, fazendo-o com outrem. Devemos depois esperar e exigir que essa pessoa continue a ser para nós o que antes era?
É sobrenatural quem o for, e desumano quem criou semelhante expectativa. A dignidade e a integridade, física ou moral, não são lixo que se possa varrer para debaixo do tapete descurando a hipótese de que alguém o levante ou puxe. E então, o sarilho dá-se. A coisa estoura. O vulcão entra em erupção. O incêndio deflagra. A tragédia eclode. E quem são os verdadeiros culpados? Nós que traímos, ou aqueles que confiaram?
Se um governante que nos tutela os destinos, que nós elegemos e em quem confiámos, vai para o estrangeiro contar pormenores da nossa actividade sócio-económica sem que ter consultado acerca dessa iniciativa, então não pode esperar depois que os governados estejam disponíveis para a concretização desses detalhes, sobretudo se eles mexerem directamente com o seu nível de vida e poder de compra.
José Sócrates, não obstante, cometeu exatamente essa afronta, tanto aos que nele votaram, como aos que se lhe opuseram. Tripudiou em cima de todos, sem excepção nem vergonha, tendo descaradamente de seguida exigido, por uma questão de interesse nacional, colaboração na execução prática – via PEC IV – dessas medidas de austeridade, que alardeia serem fundamentais para superar "a crise". Pois bem, estas coisas têm o seu preço. Vai esperar por eleições no final do mandato, ou gostaria de matar a curiosidade mais cedo? Ora, o que é certo, é que Passos Coelho seria capaz de fazer o mesmo se estivesse nas mesmas circunstâncias... Porque não é com chiliques e arroubos de líder tocado pela graça histriónica, na mira do poder, pela via das SCUT carreiristas, que ficamos convencidos que entre duas iguais uma é melhor que a outra. George Orwell já nos contou essa fábula no século passado, e todos a compreendemos, pese embora muitos vivessem na quinta sem nunca terem ido à escola.
Então!, ainda estão à espera de ver para crer? Entre os homens de bem, uma questão de ética foi sempre, e continuará a ser, uma verdadeira questão.
([Segunda]Fotografia de Sukha, autoria de Carlos Garrido)
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