Inda Benão a Coisa Altera-se
"Só o medíocre está sempre satisfeito."
Somerset Maugham
Por aqui estamos, mais ou menos, todos de acordo: Portugal é uma contínua surpresa – está sempre a mudar a fim de ficar irremediavelmente na mesma. Nunca pára quieto, sobretudo se se depara com alguns prenúncios de mudança, venha ela de onde vier, seja de que quadrante político for, porquanto nisso de esquerdas e direitas, lhe sucede ser como o soldado a quem o capitão mandou rodar os dois braços e mãos ao mesmo tempo, durante dois ou três minutos, ao fim dos quais lhe perguntou «qual é tua mão esquerda e qual é a direita?», obtendo por resposta o singelo e científico «não sei, meu capitão; que vocemessê mandou-mas baralhar!»
Surpresa grada, pois então, que dos banhos à alvenaria a coisa pode aparentar lisura, mas depois vai-se a ver o recheio, e é a mesma tacanhez do costume: duas ou três berlaitadas sem compromisso nem aprumo, à "ora toma que já almoçaste!", a necrologia a bater o ritmo no seguir adiante, ouvindo testemunhos tecendo loas, algumas peripécias constitucionais e a educação ao de cima outra vez, que aquilo que não presta pode tornar-se "recurso recorrente" e pleonasmo democrático para governâncias onde a oposição prima por ser mais do mesmo com outros enfeites. O menino (PC) quer mudar a Constituição e a menina Isabel pondera acabar com os chumbos, numa linha de semelhança onde ecoa o "nada disto é a sério, mas só para entreter e termos todos que falar nas espraiadas tertúlias com tremoços e cuequinha ensopada".
Eu sei que num país onde a revolução e progresso estão no centro tudo é possível... Principalmente que aquele estrato social onde mais ocorreu o chumbo e a raposa, uns porque tinham dinheiro demais e achavam as habilitações literárias e académicas como brejeirice de quem queria ascender socialmente, outros porque careciam de meios ou eram nados e criados num meio em que o trabalho nada tinha a ver com a produção e sustentabilidade económica, seja agora aquele que mais afincadamente se opõe a queda da fundamental base do actual – mas obsoleto – sistema de ensino português, e exactamente esses que se opuseram às modalidades de avaliação que anteriormente sobre a classe docente recaíam. Digamos que é muito difícil de compreender um país cujos cidadãos militantes dos partidos progressistas têm posições e discursos que nem lembram aos dos conservadores mais radicais, profundos e fundamentais, e vêem o desenvolvimento humano, tecnológico e científico como veículo de andar para trás e um entrave directo à concretização das suas políticas.
Não sou fã da menina Isabel e muito menos do PC. Porém também não é por isso que vou deixar de considerar as suas propostas como medidas viáveis e preocupadas com a sustentabilidade sócio-económica portuguesa, uma vez que elas correspondem sobremaneira àquilo que lhe interessa seguir num futuro imediato: o ideal europeu. É inegável que nos países nórdicos em que a avaliação é uma ferramenta de aperfeiçoamento e não de clivagem estão muito mais desenvolvidos e têm planos de estabilidade e crescimento muito mais sustentáveis do que nós. Como é inegável que rever a Constituição num país em que ela não tem o mínimo valor e só serve para pedra de arremesso político-partidário entre os órgãos de soberania, não serve absolutamente para nada, a não ser para aquilo que serve pintar a frontaria de um prédio com o interior em ruínas que ameaça cair desde longa data: ilude em vez de proteger. Adocica mas não esclarece, não aprofunda nem estimula a participação e a cidadania. Enviesa mas não democratiza a sociedade portuguesa, antes a amputa e a desarticula por retalho e mais a suspende perante a efectiva determinação do Tratado da União Europeia. É um tanto-faz que não muda nada e muito menos altera as condições de sustentabilidade social portuguesa, ao contrário do palpite de Isabel Alçada que parece ser a inversão imediata da Lei de Pudder, que dita que tudo quanto começa bem, acaba mal e nos sugere que o contrário também acontecer e com iguais probabilidades, enunciando esta lei sobre a perspectiva cigana de que tudo o que começa mal, acaba bem.
Ou seja, inda benão as coisas alteram-se, incluindo os sentidos e significados dos conceitos, motivos e pretextos, atribuindo qualidades inegáveis àquilo que sempre vimos como abominável, porquanto de tudo quanto foi feito até hoje pelo Ministério da Educação desde longa data, essa mudança seria a única medida positiva com reflexos directos no desenvolvimento, progresso social e sustentabilidade cultural lusófonas, tornando-nos continuamente melhores e mais democratas. Mas mais uma vez, porque isso é benéfico, quase todos são manifestamente contra, esquecendo-se que o que realmente conta em termos formativos e para a sociedade (do conhecimento e informação) não são os canudos, tirados com muitas explicações por fora, mas sim os conteúdos, e esses “conquistam-se” a pulso, no consequentemente exercício diário e das aulas de apoio, se necessárias, e não com chumbos onerosos, inúteis, desmotivadores e desestruturantes. E essa diferença não fará a diferença?
"Só o medíocre está sempre satisfeito."
Somerset Maugham
Por aqui estamos, mais ou menos, todos de acordo: Portugal é uma contínua surpresa – está sempre a mudar a fim de ficar irremediavelmente na mesma. Nunca pára quieto, sobretudo se se depara com alguns prenúncios de mudança, venha ela de onde vier, seja de que quadrante político for, porquanto nisso de esquerdas e direitas, lhe sucede ser como o soldado a quem o capitão mandou rodar os dois braços e mãos ao mesmo tempo, durante dois ou três minutos, ao fim dos quais lhe perguntou «qual é tua mão esquerda e qual é a direita?», obtendo por resposta o singelo e científico «não sei, meu capitão; que vocemessê mandou-mas baralhar!»
Surpresa grada, pois então, que dos banhos à alvenaria a coisa pode aparentar lisura, mas depois vai-se a ver o recheio, e é a mesma tacanhez do costume: duas ou três berlaitadas sem compromisso nem aprumo, à "ora toma que já almoçaste!", a necrologia a bater o ritmo no seguir adiante, ouvindo testemunhos tecendo loas, algumas peripécias constitucionais e a educação ao de cima outra vez, que aquilo que não presta pode tornar-se "recurso recorrente" e pleonasmo democrático para governâncias onde a oposição prima por ser mais do mesmo com outros enfeites. O menino (PC) quer mudar a Constituição e a menina Isabel pondera acabar com os chumbos, numa linha de semelhança onde ecoa o "nada disto é a sério, mas só para entreter e termos todos que falar nas espraiadas tertúlias com tremoços e cuequinha ensopada".
Eu sei que num país onde a revolução e progresso estão no centro tudo é possível... Principalmente que aquele estrato social onde mais ocorreu o chumbo e a raposa, uns porque tinham dinheiro demais e achavam as habilitações literárias e académicas como brejeirice de quem queria ascender socialmente, outros porque careciam de meios ou eram nados e criados num meio em que o trabalho nada tinha a ver com a produção e sustentabilidade económica, seja agora aquele que mais afincadamente se opõe a queda da fundamental base do actual – mas obsoleto – sistema de ensino português, e exactamente esses que se opuseram às modalidades de avaliação que anteriormente sobre a classe docente recaíam. Digamos que é muito difícil de compreender um país cujos cidadãos militantes dos partidos progressistas têm posições e discursos que nem lembram aos dos conservadores mais radicais, profundos e fundamentais, e vêem o desenvolvimento humano, tecnológico e científico como veículo de andar para trás e um entrave directo à concretização das suas políticas.
Não sou fã da menina Isabel e muito menos do PC. Porém também não é por isso que vou deixar de considerar as suas propostas como medidas viáveis e preocupadas com a sustentabilidade sócio-económica portuguesa, uma vez que elas correspondem sobremaneira àquilo que lhe interessa seguir num futuro imediato: o ideal europeu. É inegável que nos países nórdicos em que a avaliação é uma ferramenta de aperfeiçoamento e não de clivagem estão muito mais desenvolvidos e têm planos de estabilidade e crescimento muito mais sustentáveis do que nós. Como é inegável que rever a Constituição num país em que ela não tem o mínimo valor e só serve para pedra de arremesso político-partidário entre os órgãos de soberania, não serve absolutamente para nada, a não ser para aquilo que serve pintar a frontaria de um prédio com o interior em ruínas que ameaça cair desde longa data: ilude em vez de proteger. Adocica mas não esclarece, não aprofunda nem estimula a participação e a cidadania. Enviesa mas não democratiza a sociedade portuguesa, antes a amputa e a desarticula por retalho e mais a suspende perante a efectiva determinação do Tratado da União Europeia. É um tanto-faz que não muda nada e muito menos altera as condições de sustentabilidade social portuguesa, ao contrário do palpite de Isabel Alçada que parece ser a inversão imediata da Lei de Pudder, que dita que tudo quanto começa bem, acaba mal e nos sugere que o contrário também acontecer e com iguais probabilidades, enunciando esta lei sobre a perspectiva cigana de que tudo o que começa mal, acaba bem.
Ou seja, inda benão as coisas alteram-se, incluindo os sentidos e significados dos conceitos, motivos e pretextos, atribuindo qualidades inegáveis àquilo que sempre vimos como abominável, porquanto de tudo quanto foi feito até hoje pelo Ministério da Educação desde longa data, essa mudança seria a única medida positiva com reflexos directos no desenvolvimento, progresso social e sustentabilidade cultural lusófonas, tornando-nos continuamente melhores e mais democratas. Mas mais uma vez, porque isso é benéfico, quase todos são manifestamente contra, esquecendo-se que o que realmente conta em termos formativos e para a sociedade (do conhecimento e informação) não são os canudos, tirados com muitas explicações por fora, mas sim os conteúdos, e esses “conquistam-se” a pulso, no consequentemente exercício diário e das aulas de apoio, se necessárias, e não com chumbos onerosos, inúteis, desmotivadores e desestruturantes. E essa diferença não fará a diferença?
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