Uma Aula de Borla!
"Lei de Kitman: A estultícia pura tende para expulsar
do quadro de projecção da TV a estultícia vulgar."
M. Kitman
Numa das tardes de leitura em esplanada, de incontestável prestação de culto às bjekas e donzelas mais inebriantes do burgo edificado em honra de Baco, se essa urbanidade não fosse anterior ao Império Romano, como de facto foi, dei por mim a escutar, sem querer, discretamente e sem intenção, embora que "obrigatoriamente voluntário" em consequência da proximidade e volume em que se desenrolava, a conversa da mesa ao lado, onde um grupo de estudantes se lamentava da bipolarizada tendência da comunicação social, incluindo tanto a imprensa como os multimédia, de expansão nacional em navegar incondicionalmente entre o tédio e o sensacionalismo, entre a notícia instrumentalizada e o fait-divers porno vedetista estilizado.
Ora, advogava um deles, o facto dessa "notícia" se manifestar alternadamente entre o exagero caricatural, determinante sublinhar da parte pelo todo, e o seu contrário, o lamechismo verbal personalista generalizador do que o que importa é quem fez e aconteceu e não o quê, ou muito menos o como e o porquê, rotineiro para boi dormir, tipo xanax prozacquiano de anestesiar a indignação (social), seria indubitavelmente a falta de profissionalismo, de respeito pelo código deontológico e natureza mercenária dos redactores/directores em defender os interesses da administração, ou proprietários do órgão de comunicação social, o que é bem pior ainda quando se alinham na bitola do produto 3=1, como sucede com aqueles pasquins onde o administrador, o director e os redactores são todos eles a mesma pessoa, ou fiéis mãos direitas dele, que assim tentam disfarçar a falta de assunto congénita à sua índole de cordeiros do poder, quais arautos da propaganda para benefícios em publicidade. Outro argumentava que enfermam de um discurso (registo) esotérico, subscritor de irrealidades, inoperâncias várias, percepções motivadas, indefinição de objectivos e rigor palasimpsestuoso, com o fitado propósito de reactualizar o passado, manter a tradição e disseminar o exemplo missionário. Mas mais adiante, quis-me parecer, haveriam de chegar a consenso: o que faltava nessa imprensa, rádios e TVs, não eram notícias mas sim critérios criteriosos no fazê-las como no escolhê-las, que espelhassem o país real e de forma arrebatada, suscitassem interesse e alimentassem a sede de conhecimento e necessidade de uma melhoria constante, nos devolvessem as suas gentes, os seus conflitos e quimeras, as suas apostas e criações, os seus lugares e circunstâncias ambientais, paisagísticas, de ordenamento e qualificação, actividades económicas e de lazer, culturais e de marketing territorial, perspectivas, métodos, instrumentos e estratégias de desenvolvimento ou combate contra as adversidades, que as reflectisse e não só às corporações e elites que as representam, enfim, um tipo de Nós Por Cá, escorreito, rigoroso, de atendimento à cidadania, Direitos Humanos e harmonia do urbanismo com o ecossistema, e sem floreados maneiristas – se possível. Um órgão de comunicação social nacional mas simultaneamente local e regional, de e com notícia feita sob os pressupostos constitucionais da nossa pluralidade.
Argumentavam, aliás, que ao ouvir essas rádios do nacional porreirismo, ao folhear esses diários e semanários de cuspinho e vaselina que o poder utiliza para penetrar melhor no quotidiano e qualidade de vida das pessoas normais e sacrificados contribuintes, ao ver essas bucólicas partituras e ilustrações do Menina e Moça sem bernardins interpretadas pelos virtuosos calistos elóis do nosso contentamento (por fundos) europeístas, se sentiam simultaneamente entretidos, narcotizados, quanto fatigados e fartos, com nojo e enlutados, pois as versões noticiosos, quer do nosso país como do estrangeiro, espécie de sopa para dieta prestes a expirar o prazo de validade feita com base nas agências noticiosas de compra e venda por "linha de rede com malha pouco legal", apenas referiam com algum entusiasmo e desenvoltura os políticos, jogadores da bola e dirigentes da "família" siciliana dos desportos, das autarquias, da religião, dos institutos obreiros e das vampes bem entrapadas para desentrapar as vistas, invariavelmente sempre os mesmos e pelas mesmíssimas razões, dando irremediavelmente as mesmas respostas às mesmas prècuras, quer por estarem na mó de cima ou na mó de baixo, prestes a ascender ao estrelato como a cair-lhe em desgraça, exagerando os protagonismos em desprimor dos eventos, numa notória versão superiormente ilustrada da lista telefónica, que seria o maior romance da História se para tantos personagens houvesse algum enredo, esquecendo a realidade social, económica e cultural dos povos dos países em questão.
E davam exemplos: quando se pronunciam sobre as universidades apenas referem as propinas, o leque de cursos, as tunas, os modos de candidatura, os dirigentes, a natureza do financiamento, e nunca as instalações, a logística e vida social, a qualidade dos formadores, a natureza dos conteúdos e o enquadramento social deles, as perspectivas futuras, além de olvidarem igualmente a configuração da vida científica que nelas se ocasiona, os trabalhos de investigação em que estão envolvidas, as teses que já emanaram e o retorno auferido pela sua actividade cultural e tecnológica, o modo de intercepção com o meio social/cidade que o seu campus integra, a aceitabilidade e envolvimento das populações autóctones com as actividades por elas desenvolvidas; quando falam de arte, apenas citam os nomes das obras, os seus autores e formação dos mesmos, os produtores ou editores, os prémios abichados e os currículos ou filiações político-paridárias, créditos religiosos, idade e região de origem, etiqueta de género e corrente de estilo, esquecendo-se mais uma vez de ilustrar o discurso com as ditas "peças de arte" e depoimentos críticos abalizados sobre elas, trabalhar sobre um texto, um poema, um quadro, um fotograma, um filme, uma escultura, de forma não só a mostrá-la mas também a maneira como a vê ou vêem aquelas que a contactaram, como a sente e sentiram os demais, dando quase a entender que a nossa criação artística, a poesia, a pintura, a arte em geral, não serve para nada, além de ganhar uns dinheiros pela sua comercialização, entreter velhinhos e armar aos patos para concurso a fundos e subsídios ministeriais; ou se se referem à indústria e comércio, não vão além de divulgar as apreciações dos seus dirigentes e moleculares feitos estatísticos, as porcentagens com reflexo no marketing e imagem dos beneméritos proprietários e territórios onde se instalaram, a quantidade de empregos que geraram, o volume de negócios "legais" que efectuaram, as greves e arruaças que "sofreram", mas jamais a avaliação de suas sustentabilidades (de emprego, social, gestão, financiamento, resultado económico ou lucro/valor acrescentado), deitando às urtigas as que não causam qualquer motivo de falatório, por risco de falência ou gestão danosa, e simplesmente funcionam bem, detonam uma linha de produtos, investem numa técnica eficaz técnica ou peculiar aventura de actividade no ramo industrial e comercial; e quando se debruçam sobre os serviços, transportes, energias, agricultura e pescas, o panorama é exactamente o mesmo, repetindo aquilo que poderiam dizer acerca de qualquer outra actividade sendo igualmente plausível, por averbamento dos chavões e inconfundíveis lugares comuns a que costumam socorrer-se para fazerem andar a sua cadeirinha de rodas ou veículo de comunicação, como gostam de dizer sobre o suporte que os suporta e atura. E mais uma vez omitindo o quotidiano e bastidores das actividades e progressos dessas empresas, dessas associações, dessas cooperativas, dessas fábricas, desses estaleiros, desses meios de produção, seu planeamento, programas, vitalidade, empenho e dedicação à reconstansubstancialidade económica de um país a braços com a crise desde 1383-85.
Um deles, mais indignado e pessimista, citando um jornalista nortenho, acentuava: "E não será Portugal mais que uma centena de fulanos e quatro/cinco partidos? Do país real só conhecemos as maleitas políticas, os defeitos e deformações. E não conseguimos despegar a vida desta telenovela. O Estado, o governo, o parlamento, os tribunais, os partidos, cobrem por completo o nosso horizonte perceptivo e motivacional. Não vemos mais nada, não lemos mais nada, não ouvimos mais nada, não conhecemos mais nada nem ninguém, a não ser aquela notícia narcotizada e alienante que a indústria do vulgar nos propícia. Nós próprios deixámos de existir ou, quando damos nas vistas, é só e sempre por coisa ruim. Incluindo as nomeadas premiações por narcisos oscarinos."
Em verdade vos digo, porém e particularmente, que dei por mim, eu que sou o mestre da contestação, do contra e do não, a consentir uma anuência explícita e clara, de consonância com as inquietações e reflexões daqueles (des)conhecidos de momento, e provavelmente até a invejar-lhe a preciosa acutilância do diagnóstico. E confesso, não fora a minha natural timidez de provinciano atreito leitor do Borda d'Água e d'O Semeador, teria interferido e entrado na conversa, para sublinhar o meu acordo, assim como a vontade plangente de apontar-lhes uma alternativa capaz de burilar as suas legítimas insatisfações profissionais. E devia tê-lo feito, pelo que sinceramente lamento o facto de o não ter ousado...
Porquê? Porque o que era deveras primacial – e me leva a fazê-lo agora aqui –, era alertá-los para a evidência de que existe na vida muito mais do que aquilo que de bandeja dela nos é dado: que se a imprensa, rádio e TVs nacionais os deixa subtraídos à realidade, então devem (e podem) recorrer aos veículos de expressão local e electrónica que a www põe gratuitamente à nossa disposição, os denominados blogues, porquanto é aí que pulsa o esgrimir de pessoas autênticas, responsáveis, emancipadas e conscientes, porque independentes da contrapartida publicitária, em prol do progresso, da sociedade para todos, do desenvolvimento, do conhecimento, da Liberdade, do bem-estar, da partilha, da harmonia social, seus anseios e preocupações, aspirações, criações e fantasias, seus poemas e manifestos, ensaios e apologias. Que não se fiquem somente pelos jornais e multimédia do fado português de cunha e arranjinho político, ou se limitem aos pratos feitos do pronto a engolir da frugalidade comunicativa dos enlatados diversos ou dos chouriços enchidos por composição de supermercado, infinitos folhetins da realidade à talhada servida, para entorpecer em vez de informar. Porquanto é messes blogues que podem dizer de vossa voz a dignidade que acalentam, a transparência com que exigem e a que se expõem, a honestidade e autenticidade que reivindicam, as pessoas que de verdade vos acompanham desde que nasceram, as regiões que habitam e as pessoas que as preenchem convosco, pugnam pelo seu desenvolvimento e lugar no mundo, as iniciativas que as animam, o seu quorum social, cultural, associativo, etnográfico, desportivo, paisagístico, ambiental, natural, zoológico, florestal, aquífero, climatérico, edificado, económico e valorativo que as caracteriza e torna únicas em todo o globo.
Repito: lamentavelmente, cobardemente, não me levantei e o disse, deixando-os partir sem me incomodar a aliviar a sua trágica condição existencial e problemática profissional ou cognitiva, reiterando como se mantêm num curso que quer capacitá-los a manter vivo um defunto que já fede, e que dificilmente terá lugar nos dias de hoje, porquanto o jornalismo tal como é propalado nos termos do 3=1 e do 5WH com corcunda de Quasimodo, já deu o que tinha a dar, está nas vascas da agonia e insustentabilidade, e anda a tirar macacos do nariz para moldar bonecos de entretenimento – se o quer conseguir, e mesmo esses já ninguém nota. Fiz mal. Fui péssimo exemplo, até para mim próprio, que nunca costumo envergonhar-me de nada daquilo que, nem tenho porquê envergonhar-me. E admito que foi daí que a consciência se me turvou, comprometeu e ganhei este jeito exasperado de cronicar. Portanto, e para me redimir, como em reconhecida memória daqueles sentenciosos e valorosos críticos, desinfestados e descomprometidos, porém imberbes nas lides da tarimba, aqui o faço agora, o que, não sendo a mesma coisa, mais adiantando que quem quer ver longe há-de mirar de perto ou, no vice-versa igualmente verdadeiro, só se vê bem o que temos por perto quando o observarmos com distanciamento. Porque é na bloguice apagada dos lugares recônditos que a vida germina com redobrada pujança e gana, que se pode e é dado a conhecer o país real, distrito a distrito, concelho a concelho, freguesia a freguesia, lugar a lugar, como espelho sem inversões nem hipotéticas virtualidades, nas suas escolas, associações, herdades e cooperativas, tascas e cafés, grupos culturais, de teatro, folclóricos, musicais, colectividades desportivas e recreativas, de bairro ou de rua, no esplendor da sua actividade e dinamismo, projecção e participação voluntariosa, reafirmando irreverentemente que Lisboa, Porto e Coimbra são marketing mas o resto é Portugal. Pois é no conjunto desses veículos de comunicação, Fórmulas 1 da modernidade, que o povo português vai cimentando a sua História, iludindo o anonimato e atrofismo, a interioridade e subdesenvolvimento, metódica e humildemente, mas certos de quanto estão a dar conta da verdadeira portugalidade, reforçando a nossa identidade, inconfundível como indestrutível se manifesta por irrevogável, sem a bestialidade das mentirinhas intencionais corporativistas e do discurso do burro-coça-o-burro usual e costumeiro pelos veterano do gagaísmo local, batalhões de resistentes da cosa nostra fomentadora do terrorismo urbano em demanda do anúncio prometido, e demais agremiações estruturantes do Estado Novo salazarista pós-Salazar, disseminado por marcelos e sousas esforçados mais do que permitia a sensatez humana, a honestidade intelectual e a abertura de espírito.
Ou seja, para vós, a quem infantilmente deixei partir numa tarde de Primavera, sem manifestar a minha concordância e admiração, aqui registo agora o meu grande OBRIGADO pela lição que me deram, pelo voyeurismo mental que me autorizaram e pela crónica que me sugeriram. Gracias tantas!
"Lei de Kitman: A estultícia pura tende para expulsar
do quadro de projecção da TV a estultícia vulgar."
M. Kitman
Numa das tardes de leitura em esplanada, de incontestável prestação de culto às bjekas e donzelas mais inebriantes do burgo edificado em honra de Baco, se essa urbanidade não fosse anterior ao Império Romano, como de facto foi, dei por mim a escutar, sem querer, discretamente e sem intenção, embora que "obrigatoriamente voluntário" em consequência da proximidade e volume em que se desenrolava, a conversa da mesa ao lado, onde um grupo de estudantes se lamentava da bipolarizada tendência da comunicação social, incluindo tanto a imprensa como os multimédia, de expansão nacional em navegar incondicionalmente entre o tédio e o sensacionalismo, entre a notícia instrumentalizada e o fait-divers porno vedetista estilizado.
Ora, advogava um deles, o facto dessa "notícia" se manifestar alternadamente entre o exagero caricatural, determinante sublinhar da parte pelo todo, e o seu contrário, o lamechismo verbal personalista generalizador do que o que importa é quem fez e aconteceu e não o quê, ou muito menos o como e o porquê, rotineiro para boi dormir, tipo xanax prozacquiano de anestesiar a indignação (social), seria indubitavelmente a falta de profissionalismo, de respeito pelo código deontológico e natureza mercenária dos redactores/directores em defender os interesses da administração, ou proprietários do órgão de comunicação social, o que é bem pior ainda quando se alinham na bitola do produto 3=1, como sucede com aqueles pasquins onde o administrador, o director e os redactores são todos eles a mesma pessoa, ou fiéis mãos direitas dele, que assim tentam disfarçar a falta de assunto congénita à sua índole de cordeiros do poder, quais arautos da propaganda para benefícios em publicidade. Outro argumentava que enfermam de um discurso (registo) esotérico, subscritor de irrealidades, inoperâncias várias, percepções motivadas, indefinição de objectivos e rigor palasimpsestuoso, com o fitado propósito de reactualizar o passado, manter a tradição e disseminar o exemplo missionário. Mas mais adiante, quis-me parecer, haveriam de chegar a consenso: o que faltava nessa imprensa, rádios e TVs, não eram notícias mas sim critérios criteriosos no fazê-las como no escolhê-las, que espelhassem o país real e de forma arrebatada, suscitassem interesse e alimentassem a sede de conhecimento e necessidade de uma melhoria constante, nos devolvessem as suas gentes, os seus conflitos e quimeras, as suas apostas e criações, os seus lugares e circunstâncias ambientais, paisagísticas, de ordenamento e qualificação, actividades económicas e de lazer, culturais e de marketing territorial, perspectivas, métodos, instrumentos e estratégias de desenvolvimento ou combate contra as adversidades, que as reflectisse e não só às corporações e elites que as representam, enfim, um tipo de Nós Por Cá, escorreito, rigoroso, de atendimento à cidadania, Direitos Humanos e harmonia do urbanismo com o ecossistema, e sem floreados maneiristas – se possível. Um órgão de comunicação social nacional mas simultaneamente local e regional, de e com notícia feita sob os pressupostos constitucionais da nossa pluralidade.
Argumentavam, aliás, que ao ouvir essas rádios do nacional porreirismo, ao folhear esses diários e semanários de cuspinho e vaselina que o poder utiliza para penetrar melhor no quotidiano e qualidade de vida das pessoas normais e sacrificados contribuintes, ao ver essas bucólicas partituras e ilustrações do Menina e Moça sem bernardins interpretadas pelos virtuosos calistos elóis do nosso contentamento (por fundos) europeístas, se sentiam simultaneamente entretidos, narcotizados, quanto fatigados e fartos, com nojo e enlutados, pois as versões noticiosos, quer do nosso país como do estrangeiro, espécie de sopa para dieta prestes a expirar o prazo de validade feita com base nas agências noticiosas de compra e venda por "linha de rede com malha pouco legal", apenas referiam com algum entusiasmo e desenvoltura os políticos, jogadores da bola e dirigentes da "família" siciliana dos desportos, das autarquias, da religião, dos institutos obreiros e das vampes bem entrapadas para desentrapar as vistas, invariavelmente sempre os mesmos e pelas mesmíssimas razões, dando irremediavelmente as mesmas respostas às mesmas prècuras, quer por estarem na mó de cima ou na mó de baixo, prestes a ascender ao estrelato como a cair-lhe em desgraça, exagerando os protagonismos em desprimor dos eventos, numa notória versão superiormente ilustrada da lista telefónica, que seria o maior romance da História se para tantos personagens houvesse algum enredo, esquecendo a realidade social, económica e cultural dos povos dos países em questão.
E davam exemplos: quando se pronunciam sobre as universidades apenas referem as propinas, o leque de cursos, as tunas, os modos de candidatura, os dirigentes, a natureza do financiamento, e nunca as instalações, a logística e vida social, a qualidade dos formadores, a natureza dos conteúdos e o enquadramento social deles, as perspectivas futuras, além de olvidarem igualmente a configuração da vida científica que nelas se ocasiona, os trabalhos de investigação em que estão envolvidas, as teses que já emanaram e o retorno auferido pela sua actividade cultural e tecnológica, o modo de intercepção com o meio social/cidade que o seu campus integra, a aceitabilidade e envolvimento das populações autóctones com as actividades por elas desenvolvidas; quando falam de arte, apenas citam os nomes das obras, os seus autores e formação dos mesmos, os produtores ou editores, os prémios abichados e os currículos ou filiações político-paridárias, créditos religiosos, idade e região de origem, etiqueta de género e corrente de estilo, esquecendo-se mais uma vez de ilustrar o discurso com as ditas "peças de arte" e depoimentos críticos abalizados sobre elas, trabalhar sobre um texto, um poema, um quadro, um fotograma, um filme, uma escultura, de forma não só a mostrá-la mas também a maneira como a vê ou vêem aquelas que a contactaram, como a sente e sentiram os demais, dando quase a entender que a nossa criação artística, a poesia, a pintura, a arte em geral, não serve para nada, além de ganhar uns dinheiros pela sua comercialização, entreter velhinhos e armar aos patos para concurso a fundos e subsídios ministeriais; ou se se referem à indústria e comércio, não vão além de divulgar as apreciações dos seus dirigentes e moleculares feitos estatísticos, as porcentagens com reflexo no marketing e imagem dos beneméritos proprietários e territórios onde se instalaram, a quantidade de empregos que geraram, o volume de negócios "legais" que efectuaram, as greves e arruaças que "sofreram", mas jamais a avaliação de suas sustentabilidades (de emprego, social, gestão, financiamento, resultado económico ou lucro/valor acrescentado), deitando às urtigas as que não causam qualquer motivo de falatório, por risco de falência ou gestão danosa, e simplesmente funcionam bem, detonam uma linha de produtos, investem numa técnica eficaz técnica ou peculiar aventura de actividade no ramo industrial e comercial; e quando se debruçam sobre os serviços, transportes, energias, agricultura e pescas, o panorama é exactamente o mesmo, repetindo aquilo que poderiam dizer acerca de qualquer outra actividade sendo igualmente plausível, por averbamento dos chavões e inconfundíveis lugares comuns a que costumam socorrer-se para fazerem andar a sua cadeirinha de rodas ou veículo de comunicação, como gostam de dizer sobre o suporte que os suporta e atura. E mais uma vez omitindo o quotidiano e bastidores das actividades e progressos dessas empresas, dessas associações, dessas cooperativas, dessas fábricas, desses estaleiros, desses meios de produção, seu planeamento, programas, vitalidade, empenho e dedicação à reconstansubstancialidade económica de um país a braços com a crise desde 1383-85.
Um deles, mais indignado e pessimista, citando um jornalista nortenho, acentuava: "E não será Portugal mais que uma centena de fulanos e quatro/cinco partidos? Do país real só conhecemos as maleitas políticas, os defeitos e deformações. E não conseguimos despegar a vida desta telenovela. O Estado, o governo, o parlamento, os tribunais, os partidos, cobrem por completo o nosso horizonte perceptivo e motivacional. Não vemos mais nada, não lemos mais nada, não ouvimos mais nada, não conhecemos mais nada nem ninguém, a não ser aquela notícia narcotizada e alienante que a indústria do vulgar nos propícia. Nós próprios deixámos de existir ou, quando damos nas vistas, é só e sempre por coisa ruim. Incluindo as nomeadas premiações por narcisos oscarinos."
Em verdade vos digo, porém e particularmente, que dei por mim, eu que sou o mestre da contestação, do contra e do não, a consentir uma anuência explícita e clara, de consonância com as inquietações e reflexões daqueles (des)conhecidos de momento, e provavelmente até a invejar-lhe a preciosa acutilância do diagnóstico. E confesso, não fora a minha natural timidez de provinciano atreito leitor do Borda d'Água e d'O Semeador, teria interferido e entrado na conversa, para sublinhar o meu acordo, assim como a vontade plangente de apontar-lhes uma alternativa capaz de burilar as suas legítimas insatisfações profissionais. E devia tê-lo feito, pelo que sinceramente lamento o facto de o não ter ousado...
Porquê? Porque o que era deveras primacial – e me leva a fazê-lo agora aqui –, era alertá-los para a evidência de que existe na vida muito mais do que aquilo que de bandeja dela nos é dado: que se a imprensa, rádio e TVs nacionais os deixa subtraídos à realidade, então devem (e podem) recorrer aos veículos de expressão local e electrónica que a www põe gratuitamente à nossa disposição, os denominados blogues, porquanto é aí que pulsa o esgrimir de pessoas autênticas, responsáveis, emancipadas e conscientes, porque independentes da contrapartida publicitária, em prol do progresso, da sociedade para todos, do desenvolvimento, do conhecimento, da Liberdade, do bem-estar, da partilha, da harmonia social, seus anseios e preocupações, aspirações, criações e fantasias, seus poemas e manifestos, ensaios e apologias. Que não se fiquem somente pelos jornais e multimédia do fado português de cunha e arranjinho político, ou se limitem aos pratos feitos do pronto a engolir da frugalidade comunicativa dos enlatados diversos ou dos chouriços enchidos por composição de supermercado, infinitos folhetins da realidade à talhada servida, para entorpecer em vez de informar. Porquanto é messes blogues que podem dizer de vossa voz a dignidade que acalentam, a transparência com que exigem e a que se expõem, a honestidade e autenticidade que reivindicam, as pessoas que de verdade vos acompanham desde que nasceram, as regiões que habitam e as pessoas que as preenchem convosco, pugnam pelo seu desenvolvimento e lugar no mundo, as iniciativas que as animam, o seu quorum social, cultural, associativo, etnográfico, desportivo, paisagístico, ambiental, natural, zoológico, florestal, aquífero, climatérico, edificado, económico e valorativo que as caracteriza e torna únicas em todo o globo.
Repito: lamentavelmente, cobardemente, não me levantei e o disse, deixando-os partir sem me incomodar a aliviar a sua trágica condição existencial e problemática profissional ou cognitiva, reiterando como se mantêm num curso que quer capacitá-los a manter vivo um defunto que já fede, e que dificilmente terá lugar nos dias de hoje, porquanto o jornalismo tal como é propalado nos termos do 3=1 e do 5WH com corcunda de Quasimodo, já deu o que tinha a dar, está nas vascas da agonia e insustentabilidade, e anda a tirar macacos do nariz para moldar bonecos de entretenimento – se o quer conseguir, e mesmo esses já ninguém nota. Fiz mal. Fui péssimo exemplo, até para mim próprio, que nunca costumo envergonhar-me de nada daquilo que, nem tenho porquê envergonhar-me. E admito que foi daí que a consciência se me turvou, comprometeu e ganhei este jeito exasperado de cronicar. Portanto, e para me redimir, como em reconhecida memória daqueles sentenciosos e valorosos críticos, desinfestados e descomprometidos, porém imberbes nas lides da tarimba, aqui o faço agora, o que, não sendo a mesma coisa, mais adiantando que quem quer ver longe há-de mirar de perto ou, no vice-versa igualmente verdadeiro, só se vê bem o que temos por perto quando o observarmos com distanciamento. Porque é na bloguice apagada dos lugares recônditos que a vida germina com redobrada pujança e gana, que se pode e é dado a conhecer o país real, distrito a distrito, concelho a concelho, freguesia a freguesia, lugar a lugar, como espelho sem inversões nem hipotéticas virtualidades, nas suas escolas, associações, herdades e cooperativas, tascas e cafés, grupos culturais, de teatro, folclóricos, musicais, colectividades desportivas e recreativas, de bairro ou de rua, no esplendor da sua actividade e dinamismo, projecção e participação voluntariosa, reafirmando irreverentemente que Lisboa, Porto e Coimbra são marketing mas o resto é Portugal. Pois é no conjunto desses veículos de comunicação, Fórmulas 1 da modernidade, que o povo português vai cimentando a sua História, iludindo o anonimato e atrofismo, a interioridade e subdesenvolvimento, metódica e humildemente, mas certos de quanto estão a dar conta da verdadeira portugalidade, reforçando a nossa identidade, inconfundível como indestrutível se manifesta por irrevogável, sem a bestialidade das mentirinhas intencionais corporativistas e do discurso do burro-coça-o-burro usual e costumeiro pelos veterano do gagaísmo local, batalhões de resistentes da cosa nostra fomentadora do terrorismo urbano em demanda do anúncio prometido, e demais agremiações estruturantes do Estado Novo salazarista pós-Salazar, disseminado por marcelos e sousas esforçados mais do que permitia a sensatez humana, a honestidade intelectual e a abertura de espírito.
Ou seja, para vós, a quem infantilmente deixei partir numa tarde de Primavera, sem manifestar a minha concordância e admiração, aqui registo agora o meu grande OBRIGADO pela lição que me deram, pelo voyeurismo mental que me autorizaram e pela crónica que me sugeriram. Gracias tantas!
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