7.16.2004

Do dizer à alegria...
              
                    Para a Filipa
 
Haverá um lugar onde nada
E tudo aquilo que nos acontece
Seja enfim interpretável à luz
Transparente no espelho reflexo da água:
Que mistério é esse de olhar o rio?
Na cave os sentimentos sob as rosas
Os espinhos vencidos nas palavras de jus...
 
Na orla do silêncio de quem vê os barcos
Baloiçam nas correntes lisas, calados
Rumando à Foz escolhem murmúrios
Líquidos de ouros aguados a dizer sobre nós!
E embora a tarde esclareça e o sol
Brilhe lazarento a lavar-te os pés,
Subindo do vestido negro até ao corpo de quem és,
Sobre a relva verde e nua do roseiral
Há ainda a tímida dilaceração da voz
Registado no magneto de todas as micros-
Circunstâncias de sermos afinal tu e eu
Debaixo do mesmo tecto, do mesmo céu!...
 
Não, a ternura não modifica a gente
Apenas empurra quem já quer ser
E sendo evolui fazendo-se diferente
Para somar vitórias e seguir em frente.
 
Pois foi aí, aí entre a pergunta e a resposta
Virados para o rio, na sua encosta
Entre a Ternura e a Poesia
Que soube que é do dizer da alma que nasce
Que se nasce e renasce como quem cresce na alegria,
Porquanto possa haver um lugar assim acontece
Nascer-se dele se o acaso nos eternece!
 
Porto, 16 de Julho de 2004

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