PORTUGUÊS SUAVE
Perto da alvorada um barco parte.
Solitário. Altivo. Mastro desvirgindo
Desflora plúmbeos anjos fugindo
Dum luso quadro de engenho e arte.
Leva no bojo um nome escrito –
Que mal se vê, que mal se soletra –
E por vela enrolado manuscrito
Que vírgil mão em seus dedos aperta.
Foi homem e rei ao seu leme
Que mais que homem foi também nação;
E em cada vez que o cordame geme
Lhe estremece a voz, o fado e o coração
No peito uma madrugada sustenida
Que ao vaivém das ondas o ritmo bate
Levando-lhe também a própria vida...
OUTRO REINO PARA INÊS
É preciso amar as sombras que me falam de ti
Ou as nuvens quando estas ganham formas
Que em tudo se assemelham às tuas ausências;
É preciso. E ser lesto no referir dos olhos
Amoras silvestres de ouvir os gestos
Falar às fontes de teus lábios gomosos lineares
Ou descer pela seda ondeada castanho-escuro escorreita
De teus cabelos partidos ao meio dos sonhos iguais.
É preciso esconder as mãos nas ânsias de ser,
Meter os dedos nos refegos e costuras de existir
E saber que continuar é uma metafísica adiada,
Uma ontologia auspiciosamente pejorativa preterida
Como se de uma vergonhosa mania íntima se tratasse,
Sem recear as curvas derrapantes ou as agulhas marginais,
As culpas assumidas e as projecções perversas,
Os fundamentalismos intolerantes ou as crostas
Sempre demasiadamente rígidas das dores alheias.
Porque é preciso a cada hora minuto segundo reconverter
A ausência saudade em espaço quando imagem acabada
Suficiência compensatória do quanto é irremediável viver
Não sei onde, não sei porquê, mas saber é bastante
É bom ouvir o telefone de “ podes ser tu a tocar “
Retinir insistentemente insistes em esconder o nome
No alô impessoal, profano, thriller mal contado
À beira dos dedos com unhas roídas até à pele de veludo
Acariciante dos gomos sensuais e meigos em leque dispersos
Pelos gestos indomáveis da fala sublinhando iluminuras.
Sei isso e muito mais que tu também não esqueces
Nunca jamais seremos outros em nós ainda que importe
A conjuntura, o carro novo, a mobília a prestações.
E quando é preciso as coisas acontecerem, acontecem
Ninguém pode mudar a lei porque a lei é a Lei
Não uma decisão da assembleia que calhou votar assim
Tão-só assim, precisamente não doutra lei mas daquela.
É não estares aqui ou eu aí o único órgão que me pesa
Nunca os pés, as pálpebras, a língua também entaramelada.
A sonolência é outra coisa não parecida com languidez,
Mas pode ser um despertar para o reino do sonho
Navegar entre as tuas coxas naufragar e naufragar
Não importa esquecendo, esquecendo, esquecendo sempre,
Até ao fim do gesto morno de estender os ombros e gritar.
Gostava de pensar que me esperas os olhos postos na porta
A respiração suspensa a cada sombra que se aproxima
Um formigueiro na espinha e as espáduas que fremem
Embalam expectante fantasia no perfil convergente à ombreira
« Eu vou voltar!... » - A certeza cresce ainda cresce
Não repete, não pára, não fica aí como se fosse estádio
Mas paragem à tona fluente terna dos absolutos possíveis.
PÃO E VINHO
Fazer um poema não é como fazer um filho.
Não é partir uma vidraça. Nem é olhar uma cria
Enquanto brinca nas ruas do crescer
Nas escolas do crescer
Nas rampas do crescer
Nas pistas do crescer
Nas balizas do crescer
Nas passerelles do crescer
Nas discotecas do crescer
Nas tabernas do crescer
Nas avenidas do crescer
Nas câmaras do crescer
Nas camas do crescer
Nas bolsas do crescer
Nas reformas do crescer.
Não é. Mas comer uma azeitona de Elvas também não;
E todavia, ambas as coisas dão imenso gosto e prazer.
Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
4.03.2004
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