UM MODO DE VER
Pipeta em punho, o poeta esgrime
A poção mágica com que há-de matar
O desconhecido, o medo, a dor…
E nessa gota em queda, simples e sublime
Além da hipótese, testa também o amor.
Quis os elementos da tabela a dançar,
O H com o O, o e=mc2
Na relativa solução dum alfabeto composto
Como se o reflexo da água do mar
Fosse um banho por Darwin dado
Na lágrima dum Graal posto.
Alquimia, sonhos minerais
A esperança de um dia
A guerra, a opressão, a fome… JAMAIS.
Não se esqueçam que o texto sobre Alexandre Carvalho Costa também está disponível na revista Estórias da História, projecto de alunos da ESEP.
UM MODO DE VER
Pipeta em punho, o poeta esgrime
A poção mágica com que há-de matar
O desconhecido, o medo, a dor…
E nessa gota em queda, simples e sublime
Além da hipótese, testa também o amor.
Quis os elementos da tabela a dançar,
O H com o O, o e=mc2
Na relativa solução dum alfabeto composto
Como se o reflexo da água do mar
Fosse o banho por Darwin dado
Na lágrima dum Graal posto.
Alquimia, sonhos minerais
A esperança de um dia
A guerra, a opressão, a fome… JAMAIS.
UM MODO DE VER
Entendendo-se por ilustração qualquer imagem desenhada que complementa um texto, a ilustração científica é toda aquela cujo referente faz parte do universo da ciência, desde a natural à humana e tecnológica. A sua maior virtude reside na diferença entre ver e observar, porquanto a observação é também a pedra-de-toque do ilustrador científico, para a compreensão da realidade a retratar, na recolha da informação essencial, tanto a olho nu como munido de sofisticados equipamentos.
Nesta perspectiva, que tenta ir um pouco mais além da lente de objectiva, explorando o ser reproduzir mas dando-lhe simultaneamente um timbre humano, pretende-se saldar o compromisso entre comunicar ciência de uma forma criativa e a objectividade que a matéria impõe.
UM MODO DE VER, que sem dúvida superará o simples acto da visão, é igualmente uma mais valia que transpõe o olhar passivo e se acopla à intenção criadora, consequente directa do observar, desenhar e compreender os seres retratados, definindo os caracteres que fazem a diagnose das espécies e elementos em análise, ou a comparação a partir dos exemplares disponibilizados, com a ajuda da mão que desenha e é livre para recriar uma imagem onde a nitidez se estende desde o infinitamente próximo ao infinitamente distante.
EUREKA, poemas de inspiração em conteúdos ou motivos de ciência, ditos por RUI FERREIRA
Leque de autores que irão ser ditos: (Em destaque:) António Gedeão, Fernando Pessoa, Teresa Balté, Natália Correia, Vitorino Nemésio, e (de menor relevo:) Pedro Homem de Mello, Júlio Dinis, Sandra Silveira, Maria Alice Peixoto, Margarida Pedrógão, Lucília Novo Quezada, Ana Rute M. Agostinho e Ângelo Rodrigues.
A Exposição de ILUSTRAÇÂO CIENTíFICA, com trabalhos de Nilton Nunes, decorrerá de 24 de Fevereiro a 10 de Março, na Sala Polivalente 1, da Biblioteca Municipal. E a sua inauguração será dia 24 de Fevereiro, pelas 18 horas, nesse mesmo local, com Porto de Honra e 25 minutos de poesia, toda ela de temática alusiva à ciência, dita por Rui Ferreira.
Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
1.27.2005
1.25.2005
O HOMEM DO SÉCULO QUE VEM
Uma pata de gato, garra de aço nos retém
Neuro-cirurgiões gritam por mais cobaias
À porta envenenada das gerais paranóias
Eis o homem esfacelado do século que vem
Sangue angústia arame farpado
Pira funerária dos homens de estado
Corpos inocentes que as bombas consomem
Eis o homem esfacelado do século que vem
Semeando a morte pela ganância cega
Poetas famintos a infância sangrada
Tudo o que ele adquire não lhe vale de nada
Eis o homem esquizóide do século que vem
O "Engate"
Ela trazia calças de veludo
preto, bicos dos seios de fora
Ele usava um realçador de formas,
trajava a última moda
A festa estava a aquecer,
todo o mundo a chocalhar
com a música almiscarada
«Parece-me que o conheço»,
diz ela toda corada
«Também me quer parecer»,
diz ele com a voz do mar
Sentam-se os dois a beber
falam em Torre de Molinos
amigos, "parties", calor
Vão os dois apanhar ar,
entram prò carro cromado
dão beijos esfomeados
dá-se início à marmelada
tentam os dois acasalar,
mas é em vão...
ele incham como uma vela,
ela incha como um balão
ficam a boiar no nada
A COR DOS MORANGOS
Ele disse-lhe
«os morangos são amarelos»
Ela ficou
loucamente apaixonada
Casaram tiveram
dois meninos bochechudos
conheceram-se bem
e ficaram fartos
mas foram aguentando o barco
E foi então que ela viu
«Que raio afinal os morangos
são mas é encarnados».
VIVOS-MORTOS
Em prazeres de mortos
que brincam aos vivos
homens de olhos tortos
sorriem cativos
sérios e cantantes
nas suas gaiolas,
de transparentes vidros
de duras argolas
eles vão gastando
o seu tempo a dormir
vão balbuciando
coisas que se esfumam
esperando a morte
que os vá desdizer
mascaram a sorte,
em berros proclamam
que é melhor esquecer
esquecer
esquecer!
São antigos monstros
já titubeantes
diz o nosso sangue
vão de vez morrer
Domingo
Os bois passam.
No doa de Domingo
ecoam vozes de roberto
relatos de futebol,
lentos roncos
do lazer.
Os nossos queridos bois
tiram a canga do trabalho,
põem a canga do prazer
e morrem aos poucos
sem dramas nem gritos
Basta-lhes apodrecer,
basta-lhes sonhar-se
dizer sim de modo
brando
ATROPELADO PELA CIDADE
O homem-sem-pele
segue por entre
os couraçados da vida
de olhos abertos
dolorosamente
vendo desesperos
vendo desesperos:
não passa de um fraco
que sente demais
na carne ferida
aqui o arrepio
as multidão cega
mais à frente o pio
cortante
da fera de lata
hordas de borracha
avançam para mm
e
a multidão corre
persegue-o na rua
a montra que acusa
a bolsa infeliz
o pregão que berra
a casa voraz
de penhores sangrentos
abocanha-lhe a perna!
ele cai pelas escadas
do horror abaixo
salta pela janela
a fábrica verde
corre sobre a relva
das velhas no parque
o som da buzina
o chiar dos pneus
a Voz gigantesca
que ataca em surdina
o baque do corpo
o girar louco das sereias
atacadas de histeria
a morte que gela
inútil sem nome
do pobre diabo
nas Augustas Ruas.
SINCRONIA
Há dias em que me sinto
lasso, e me pende fraco
o braço no leito tão desleixado;
são dias em que me finto
e deixo para trás a sombra
perdida de mim
e vivo vidas estranhas,
entre a vigília e o sono,
longe da terra enlutada...
podem chamar-me madraço,
mas então eu sem fazer nada
escalo a Torre de Babel,
vou-me a templos assombrados,
balanço-me negligente
na pontinha e um cordel
suspenso das muralhas do Castelo...
e, sem no entanto alcançá-lo,
deixo ao menos para trás
as águas frias do fosso
- um fosso meu quotidiano - onde atroam
misérias, pruridos, estranhos
pudores, e a voz sangrenta
dos motores dos cadafalsos
automáticos.
Mas quem quererá saber
das minhas viagens de cabeça?
Os mundos por que espreitei?
E eu aqui mudo e quedo!
Dou logo a seguir um salto,
sopro à pressa o pó ao quarto,
recomeço a lide a pôr
em dia, a criar a sincronia
a sincronia entre a imaginação
e a mão
que me não pode definhar
na letargia.
A VIOLÊNCIA ANDA DE LUVAS
A violência já não é como era dantes.
Já não são abusos de censuras, nem
presos isolados em frias celas obscuras
por causa das palavras proibidas.
A violência hoje usa luvas:
Não proíbe, impossibilita.
Já não faz saltar o sangue
em catadupas das gargantas
mastigadas no garrote --
-- sufoca antes,
escondendo as culpas,
os nossos sonhos nas "bicas",
no tédio das horas mortas.
Para quê os carrascos,
se há tantas sorridentes
sociedades anónimas?
A violência anda de luvas.
Nada de armas estridentes:
antes a doce paz dos cemitérios,
ajardinados bairros suburbanos.
NA RUA A ANTÓNIA
Na rua a Antónia via
tantos tanques, tantos vivas,
mil bandeiras empunhadas!
Havia um golpe de estado.
Na rua a Antónia via
nuvens de pó levantado
pelos jipes, correrias, ajuntamentos.
Brilhavam os olhos das pessoas
a ver o mundo mudar
sem que tivessem de intervir pessoalmente.
Lá vai a Antónia arrastada
nas vagas da multidão,
sempre pasmada, a olhar...
Chegou já noite a casa,
bateu-lhe o pai, a gritar.
A CIGARRA E A FORMIGA
Vinha a formiga cansada
do dia de árdua labuta,
séria, nervosa, apressada;
eis quando na rua escuta
o som do canto de alerta
que uma cigarra executa.
A curiosidade a desperta:
Pára também uns momentos,
movida por sentimentos
de uma natureza incerta.
De tédio, suor, frustração
lhe falava aquele insecto
e de sonhos (certos sonhos)
que movem o coração,
de tão belos, tão sedutores projectos
fáceis de realizar, dizia aquela,
se todos nós quisermos...
Mas a formiga interpela:
«Como podes criticar
a vida que nós levamos?
Passas a vida a cantar!
Nós é que nos esforçamos!
Para versos não temos tempo,
todo o dia trabalhamos.
Que os versos não dão sustento
e, se há pão para cantares,
é graças ao nosso alento.
Mais valia trabalhares!»
Teve a cigarra um sorriso
simples, claro, sem vaidade,
e retorquiu com aviso:
«Tu disseste uma verdade
mas, para fazer verdade inteira,
falta-te a outra metade...
que a vida não é só canseira,
luta cega pelo pão de cada dia;
faz-nos falta, é bom, o pão...
mas não basta, para nos dar alegria.
Com esta actual feição
nem eu nem tu nascemos;
e mutação em mutação
como larvas, ninfas, vivemos,
antes de insectos perfeitos;
e a forma que agora temos
não nos deixa satisfeitos
-- que ainda não somos livres,
e nos oprimem os peitos
leis que não são invencíveis...
os mundos novos que canto
não são coisas impossíveis,
basta união para tanto!
A suar as estopinhas
se passa o dia inteiro,
arrastando grãos, palhinhas
para dentro do formigueiro;
e quem tem tempo prà arte, prò desporto,
prà cultura, são os donos do celeiro!
Lá vais andando absorta,
contando o teu dinheiro...
menos viva do que morta,
sempre p'lo mesmo carreiro...
Se este formigueiro fosse
uma real comunidade,
todo o trabalho era doce:
variávamos de actividade,
cinzelando corpo e mente
segundo a nossa vontade.»
Falam animadamente
as duas p'la tarde fora...
Vai-se juntando mais gente
tem outra vida a rua, agora.
PELA RESSURREIÇÃO DA RUA
Lembro-me ainda muito bem
do primeiro mês de Maio
em liberdade.
As ruas tinham outra vida
nesses dias de revolta,
a gente não passava só
faziam-se rodas na estrada
«Eu sou o João Madeira,
tipógrafo.
Muito prazer em conhecê-lo.»
E sonhava-se em voz alta.
Mas foi sol de pouca dura:
depois das mudanças feitas
nas salas dos ministérios,
voltámos às coisas sérias
-- o trabalho, a família, o mês
de férias.
E as ruas voltaram a ser
passadeiras rolantes.
Mas eu escrevo isto
para que as gentes se não esqueçam
daqueles dias das rodas no largo,
na calçada;
e parem um pouco quando ouvirem
alguém cantar dançar
falar em voz alta
na rua.
HINO À ESFINGE
Ó Esfinge dura do Egipto antigo,
se tu não fosses tão grande e distante
como o mundo,
os chacais já te teriam comido
e enterrado os ossos na areia.
OS ADOCICADOS AMANTES
Os adocicados amantes
dão-se as mãozinhas suadas
e sorriem teatrais
embalados no bailado
da bolinha de sabão
de dois lugares.
Com tanta atenção
esboçam a dança
dos vitelos malhados
sorvendo em êxtases
melados, melados
o muco um do outro.
O amor requentado
dos pares de lapas
colados com força.
NOS EXAMES
Estava nos exames.
Ela, serena, perguntava
coisas que eu achava infames,
coisas que eu baralhava.
A vida não me sorria...
Sabia-me a boca a sal;
e a cada pergunta fria
que ela, formal, me fazia,
mostrava-me irracional.
(Feito durante as orais de Geografia,
na capa do livro desta disciplina.)
A ALCATEIA
Era uma vez um lobinho,
um pequeno lutador
que enfrentava sozinho
o rebanho, a caçadeira, o cão pastor...
A serra livre morrera:
tinha sido rodeada
por rede electrificada,
e chamavam ao lobo agora fera.
Ali já não há lugar
para os seres selvagens:
deixam-se domesticar
ou buscam outras paragens.
Mas em toda a parte é o mesmo,
e o nosso lobinho errante
vagueia p'lo mundo a esmo
sempre do seu lar distante...
No meio de uma jornada
de neve e frio e negrura
soube vencer a amargura
e forçar a solidão;
encontrou por entre o gelo
um lobinho seu irmão,
também sozinho e cansado
e fizeram uma união;
nunca mais se separaram,
seguiram o mesmo caminho.
E foi assim que toparam,
um aqui e outro além,
mais um e outro lobinho.
Foi crescendo a alcateia!
Lúcio Castanho
Uma pata de gato, garra de aço nos retém
Neuro-cirurgiões gritam por mais cobaias
À porta envenenada das gerais paranóias
Eis o homem esfacelado do século que vem
Sangue angústia arame farpado
Pira funerária dos homens de estado
Corpos inocentes que as bombas consomem
Eis o homem esfacelado do século que vem
Semeando a morte pela ganância cega
Poetas famintos a infância sangrada
Tudo o que ele adquire não lhe vale de nada
Eis o homem esquizóide do século que vem
O "Engate"
Ela trazia calças de veludo
preto, bicos dos seios de fora
Ele usava um realçador de formas,
trajava a última moda
A festa estava a aquecer,
todo o mundo a chocalhar
com a música almiscarada
«Parece-me que o conheço»,
diz ela toda corada
«Também me quer parecer»,
diz ele com a voz do mar
Sentam-se os dois a beber
falam em Torre de Molinos
amigos, "parties", calor
Vão os dois apanhar ar,
entram prò carro cromado
dão beijos esfomeados
dá-se início à marmelada
tentam os dois acasalar,
mas é em vão...
ele incham como uma vela,
ela incha como um balão
ficam a boiar no nada
A COR DOS MORANGOS
Ele disse-lhe
«os morangos são amarelos»
Ela ficou
loucamente apaixonada
Casaram tiveram
dois meninos bochechudos
conheceram-se bem
e ficaram fartos
mas foram aguentando o barco
E foi então que ela viu
«Que raio afinal os morangos
são mas é encarnados».
VIVOS-MORTOS
Em prazeres de mortos
que brincam aos vivos
homens de olhos tortos
sorriem cativos
sérios e cantantes
nas suas gaiolas,
de transparentes vidros
de duras argolas
eles vão gastando
o seu tempo a dormir
vão balbuciando
coisas que se esfumam
esperando a morte
que os vá desdizer
mascaram a sorte,
em berros proclamam
que é melhor esquecer
esquecer
esquecer!
São antigos monstros
já titubeantes
diz o nosso sangue
vão de vez morrer
Domingo
Os bois passam.
No doa de Domingo
ecoam vozes de roberto
relatos de futebol,
lentos roncos
do lazer.
Os nossos queridos bois
tiram a canga do trabalho,
põem a canga do prazer
e morrem aos poucos
sem dramas nem gritos
Basta-lhes apodrecer,
basta-lhes sonhar-se
dizer sim de modo
brando
ATROPELADO PELA CIDADE
O homem-sem-pele
segue por entre
os couraçados da vida
de olhos abertos
dolorosamente
vendo desesperos
vendo desesperos:
não passa de um fraco
que sente demais
na carne ferida
aqui o arrepio
as multidão cega
mais à frente o pio
cortante
da fera de lata
hordas de borracha
avançam para mm
e
a multidão corre
persegue-o na rua
a montra que acusa
a bolsa infeliz
o pregão que berra
a casa voraz
de penhores sangrentos
abocanha-lhe a perna!
ele cai pelas escadas
do horror abaixo
salta pela janela
a fábrica verde
corre sobre a relva
das velhas no parque
o som da buzina
o chiar dos pneus
a Voz gigantesca
que ataca em surdina
o baque do corpo
o girar louco das sereias
atacadas de histeria
a morte que gela
inútil sem nome
do pobre diabo
nas Augustas Ruas.
SINCRONIA
Há dias em que me sinto
lasso, e me pende fraco
o braço no leito tão desleixado;
são dias em que me finto
e deixo para trás a sombra
perdida de mim
e vivo vidas estranhas,
entre a vigília e o sono,
longe da terra enlutada...
podem chamar-me madraço,
mas então eu sem fazer nada
escalo a Torre de Babel,
vou-me a templos assombrados,
balanço-me negligente
na pontinha e um cordel
suspenso das muralhas do Castelo...
e, sem no entanto alcançá-lo,
deixo ao menos para trás
as águas frias do fosso
- um fosso meu quotidiano - onde atroam
misérias, pruridos, estranhos
pudores, e a voz sangrenta
dos motores dos cadafalsos
automáticos.
Mas quem quererá saber
das minhas viagens de cabeça?
Os mundos por que espreitei?
E eu aqui mudo e quedo!
Dou logo a seguir um salto,
sopro à pressa o pó ao quarto,
recomeço a lide a pôr
em dia, a criar a sincronia
a sincronia entre a imaginação
e a mão
que me não pode definhar
na letargia.
A VIOLÊNCIA ANDA DE LUVAS
A violência já não é como era dantes.
Já não são abusos de censuras, nem
presos isolados em frias celas obscuras
por causa das palavras proibidas.
A violência hoje usa luvas:
Não proíbe, impossibilita.
Já não faz saltar o sangue
em catadupas das gargantas
mastigadas no garrote --
-- sufoca antes,
escondendo as culpas,
os nossos sonhos nas "bicas",
no tédio das horas mortas.
Para quê os carrascos,
se há tantas sorridentes
sociedades anónimas?
A violência anda de luvas.
Nada de armas estridentes:
antes a doce paz dos cemitérios,
ajardinados bairros suburbanos.
NA RUA A ANTÓNIA
Na rua a Antónia via
tantos tanques, tantos vivas,
mil bandeiras empunhadas!
Havia um golpe de estado.
Na rua a Antónia via
nuvens de pó levantado
pelos jipes, correrias, ajuntamentos.
Brilhavam os olhos das pessoas
a ver o mundo mudar
sem que tivessem de intervir pessoalmente.
Lá vai a Antónia arrastada
nas vagas da multidão,
sempre pasmada, a olhar...
Chegou já noite a casa,
bateu-lhe o pai, a gritar.
A CIGARRA E A FORMIGA
Vinha a formiga cansada
do dia de árdua labuta,
séria, nervosa, apressada;
eis quando na rua escuta
o som do canto de alerta
que uma cigarra executa.
A curiosidade a desperta:
Pára também uns momentos,
movida por sentimentos
de uma natureza incerta.
De tédio, suor, frustração
lhe falava aquele insecto
e de sonhos (certos sonhos)
que movem o coração,
de tão belos, tão sedutores projectos
fáceis de realizar, dizia aquela,
se todos nós quisermos...
Mas a formiga interpela:
«Como podes criticar
a vida que nós levamos?
Passas a vida a cantar!
Nós é que nos esforçamos!
Para versos não temos tempo,
todo o dia trabalhamos.
Que os versos não dão sustento
e, se há pão para cantares,
é graças ao nosso alento.
Mais valia trabalhares!»
Teve a cigarra um sorriso
simples, claro, sem vaidade,
e retorquiu com aviso:
«Tu disseste uma verdade
mas, para fazer verdade inteira,
falta-te a outra metade...
que a vida não é só canseira,
luta cega pelo pão de cada dia;
faz-nos falta, é bom, o pão...
mas não basta, para nos dar alegria.
Com esta actual feição
nem eu nem tu nascemos;
e mutação em mutação
como larvas, ninfas, vivemos,
antes de insectos perfeitos;
e a forma que agora temos
não nos deixa satisfeitos
-- que ainda não somos livres,
e nos oprimem os peitos
leis que não são invencíveis...
os mundos novos que canto
não são coisas impossíveis,
basta união para tanto!
A suar as estopinhas
se passa o dia inteiro,
arrastando grãos, palhinhas
para dentro do formigueiro;
e quem tem tempo prà arte, prò desporto,
prà cultura, são os donos do celeiro!
Lá vais andando absorta,
contando o teu dinheiro...
menos viva do que morta,
sempre p'lo mesmo carreiro...
Se este formigueiro fosse
uma real comunidade,
todo o trabalho era doce:
variávamos de actividade,
cinzelando corpo e mente
segundo a nossa vontade.»
Falam animadamente
as duas p'la tarde fora...
Vai-se juntando mais gente
tem outra vida a rua, agora.
PELA RESSURREIÇÃO DA RUA
Lembro-me ainda muito bem
do primeiro mês de Maio
em liberdade.
As ruas tinham outra vida
nesses dias de revolta,
a gente não passava só
faziam-se rodas na estrada
«Eu sou o João Madeira,
tipógrafo.
Muito prazer em conhecê-lo.»
E sonhava-se em voz alta.
Mas foi sol de pouca dura:
depois das mudanças feitas
nas salas dos ministérios,
voltámos às coisas sérias
-- o trabalho, a família, o mês
de férias.
E as ruas voltaram a ser
passadeiras rolantes.
Mas eu escrevo isto
para que as gentes se não esqueçam
daqueles dias das rodas no largo,
na calçada;
e parem um pouco quando ouvirem
alguém cantar dançar
falar em voz alta
na rua.
HINO À ESFINGE
Ó Esfinge dura do Egipto antigo,
se tu não fosses tão grande e distante
como o mundo,
os chacais já te teriam comido
e enterrado os ossos na areia.
OS ADOCICADOS AMANTES
Os adocicados amantes
dão-se as mãozinhas suadas
e sorriem teatrais
embalados no bailado
da bolinha de sabão
de dois lugares.
Com tanta atenção
esboçam a dança
dos vitelos malhados
sorvendo em êxtases
melados, melados
o muco um do outro.
O amor requentado
dos pares de lapas
colados com força.
NOS EXAMES
Estava nos exames.
Ela, serena, perguntava
coisas que eu achava infames,
coisas que eu baralhava.
A vida não me sorria...
Sabia-me a boca a sal;
e a cada pergunta fria
que ela, formal, me fazia,
mostrava-me irracional.
(Feito durante as orais de Geografia,
na capa do livro desta disciplina.)
A ALCATEIA
Era uma vez um lobinho,
um pequeno lutador
que enfrentava sozinho
o rebanho, a caçadeira, o cão pastor...
A serra livre morrera:
tinha sido rodeada
por rede electrificada,
e chamavam ao lobo agora fera.
Ali já não há lugar
para os seres selvagens:
deixam-se domesticar
ou buscam outras paragens.
Mas em toda a parte é o mesmo,
e o nosso lobinho errante
vagueia p'lo mundo a esmo
sempre do seu lar distante...
No meio de uma jornada
de neve e frio e negrura
soube vencer a amargura
e forçar a solidão;
encontrou por entre o gelo
um lobinho seu irmão,
também sozinho e cansado
e fizeram uma união;
nunca mais se separaram,
seguiram o mesmo caminho.
E foi assim que toparam,
um aqui e outro além,
mais um e outro lobinho.
Foi crescendo a alcateia!
Lúcio Castanho
Nos wolksvagens da desgraça...
...um código que até Da Vinci contestaria!
Consta que o carro do povo dos tempos bíblicos terá sido o burro... Sobretudo se considerarmos que foi nele que a Senhora se deslocou a Belém para ter o menino! Seria?... Não seria?... O facto é que até meados do século passado ainda o era, embora o populacho o tenha substituído por besta maior, mais zurrante, potente, lesta e acomodatícia: o carocha. Ou os "wolksvagens" do progresso. E a tradição manteve-se não obstante o câmbio de alimália, para gáudio dos apologista do eterno retorno, ou aqueles que se empenham em regressar à terra tal e qual vieram ao mundo: ignorantes, brutos e bravos que nem uma vara de bronquicéfalos. Os marialvas da repetição tradicional. Os que zurzem o fado da bandeirola para exorcizar o medo de serem encavados por qualquer sem-abrigo ao cruzar da esquina. Os que se acoitam no espírito corporativista da capa (e espada) para executar a sua perversão. Com idem para os que da inveja pela sua moralidade - famosa, a do burro, como todos sabeis, se desenrolada para prazer de quem passa!... - espremem o pedal, carregado com a virilidade de quem por outro meio a desconhece, a fim de granjear os favores do sexo oposto, ou mesmo do mesmo, posto que quem come no que é seu não merece (es)conjuras.
Portanto, a primeira importante viagem que Jesus Cristo terá feito, ainda no ventre materno, do que não restam as menores dúvidas, foi num carocha 127 daquelas eras, de passo lento mas aturado, sábio inventor da subida em Z para melhorar a marcha se carregado, desovando bonicos na passagem como regalo aos que ficavam, outro sintoma de galhardia pelas tradições do pagar portagem, ou pagamento por franqueio e infiltro, no pleno respeito pelos passados antigos que já quando eram novos estavam velhos e errados e imprestáveis. (Excepção feita, é claro, para o esterco de burro, que sempre podia ser utilizado na fertilização e benfeitoria das terras onde deixava franquia... Aliás, mérito conhecidíssimo até dos plantadores de pinhais e outras monoculturas, tendentes a destruir a biodiversidade imprescindível.)
Segundo parece há quem prefira, dentro das instituições que deviam ser a vanguarda da evolução da espécie, do ambiente e da cultura ou das ideias, manter o status quo a contribuir com a sua dedicação, tempo, vantagem económica e inteligência para se desarreigar das práticas obsoletas, numa apologia ao erro, convictos assim de o tornarem menos erróneo só pelo facto de o fazer perdurar, popularizando-o inclusive, cuidando de alicerçar-se na sargentice, para justificar as suas práticas australopitecas. Tal como o comer à unha e à dentada, modo tradicional de usar o único talher que deus nos deu, tão válido antes como depois das propinas, insistem em reiterar as práticas de caserna medievais transpondo-as para os nossos dias, através daquilo que, no sufrágio da mandriice e do laxismo intelectual, é conhecido por praxes. Em vez de reivindicar o ensino gratuito, a melhoria de estruturas, técnicas como de conteúdos, equipamentos e quadros docentes, demonstrando à sociedade portuguesa quanto ganharia com isso, porquanto num futuro próximo as despesas orçamentais com a segurança social, a justiça, o parque prisional e segurança pública, a requalificação e formação profissional, a saúde e a cidadania, seriam bem menores do que actualmente são, desde que o nível de formação do povo português aumentasse, pondo-o em consonância com os níveis de desenvolvimento humano semelhantes aos dos países nórdicos, por exemplo.
Não se augura nada de bom para um país quando a sua classe estudantil abdica do seu papel reformador e se entrincheira nas surrobecas eclesiásticas para marcar a diferença com o povo que a sustenta. E muito menos quando ela se escora na tradição para manter no activo um passado inoperante, falacioso, estéril, que põe em risco a sustentabilidade nacional, quer na soberania como na identidade cultural, e nos remete para o fundo de todos os rankings de desenvolvimento, nomeadamente o da qualidade de vida.
Creio que é chegada a altura de os meninos deixarem de ir de burro para nascer. Sobretudo de se deixar de entender o conhecimento (diplomado ou não) como um Z para subir na escala social. A tradição, veículo assaz asnático de perenizar tudo, independentemente do seu valor, quer seja bom ou mau, desejável ou sociopata, é o único entrave para a aquisição de novas práticas, pelo que mantê-la quando desnecessária e prejudicial, se torna um crime de lesa democracia: institui patamares de diferença entre iguais, contrariando não só o espírito da Carta dos Direitos do Homem, como impondo pela força uma Lei que apenas não está escrita e aprovada por decreto, graças à sua universal insensatez e desumanidade.
Afiança a sabedoria popular, que é de experiência feita, que "o amor dos burros começa aos coices e acaba em cacos". O carocha do nazismo imperou pelas exigências das sociedades de produção e consumo, mas foi atirado para o ferro-velho com a implementação da sociedade de informação, que por sua vez gerou a do conhecimento e educação. Recolher os cacos desse amor asinino e vesti-los de preto, não é um factor de júbilo para ninguém, e antes um sinal de luto (nacional e europeu). Admoestar e excluir quem não lhe presta culto e vassalagem, um crime pelo qual o tempo, esse mesmo com que se tenta justificar a tradição, a breve trecho nos fará pagar. Caro. E com onerosas dívidas para gerações futuras, herança que perdurará como um código genético dos vencidos da modernidade.
Evoluir, crescer, é sobretudo contrariar e soltarmo-nos das amarras da tradicional miséria (deontológica, emocional, ética, imagética, cognitiva e económica) em que nascemos e estávamos. A mudança requer rupturas, cortes exímios com o passado, principalmente nos formatos em que ele se demonstrou ineficaz, abusivo, inútil e contraproducente à humanização da humanidade. A tradição académica, como todos os rituais guerreiros de iniciação e manutenção do espírito de caserna, monástico, de ordem e ordenança, é um deles: um formato que enfermiça e disforma qualquer formatura. Pôr-lhe fim, apenas o coup de grace, o golpe de misericórdia que a sua agonia suscita e implora de há muito. É lamentável que a beca da tradição, qual capa que outrora servia aos estudantes para lhe ocular a miséria franciscana, ou esconder e tapar o fato puído e remendado, sirva hoje para encapotar a miserabilidade do espírito estudantil, como uma tentativa de eternizar a praxis da sua ignorância. Não é concebível que alguém pretenda aprender e conhecer mais abrigando-se sob o capote da tradição, cuja é desde sempre, a subscrita reafirmação das ignorâncias. De todas elas, incluindo daquelas que se aprestam nas protecções de Drs.
...um código que até Da Vinci contestaria!
Consta que o carro do povo dos tempos bíblicos terá sido o burro... Sobretudo se considerarmos que foi nele que a Senhora se deslocou a Belém para ter o menino! Seria?... Não seria?... O facto é que até meados do século passado ainda o era, embora o populacho o tenha substituído por besta maior, mais zurrante, potente, lesta e acomodatícia: o carocha. Ou os "wolksvagens" do progresso. E a tradição manteve-se não obstante o câmbio de alimália, para gáudio dos apologista do eterno retorno, ou aqueles que se empenham em regressar à terra tal e qual vieram ao mundo: ignorantes, brutos e bravos que nem uma vara de bronquicéfalos. Os marialvas da repetição tradicional. Os que zurzem o fado da bandeirola para exorcizar o medo de serem encavados por qualquer sem-abrigo ao cruzar da esquina. Os que se acoitam no espírito corporativista da capa (e espada) para executar a sua perversão. Com idem para os que da inveja pela sua moralidade - famosa, a do burro, como todos sabeis, se desenrolada para prazer de quem passa!... - espremem o pedal, carregado com a virilidade de quem por outro meio a desconhece, a fim de granjear os favores do sexo oposto, ou mesmo do mesmo, posto que quem come no que é seu não merece (es)conjuras.
Portanto, a primeira importante viagem que Jesus Cristo terá feito, ainda no ventre materno, do que não restam as menores dúvidas, foi num carocha 127 daquelas eras, de passo lento mas aturado, sábio inventor da subida em Z para melhorar a marcha se carregado, desovando bonicos na passagem como regalo aos que ficavam, outro sintoma de galhardia pelas tradições do pagar portagem, ou pagamento por franqueio e infiltro, no pleno respeito pelos passados antigos que já quando eram novos estavam velhos e errados e imprestáveis. (Excepção feita, é claro, para o esterco de burro, que sempre podia ser utilizado na fertilização e benfeitoria das terras onde deixava franquia... Aliás, mérito conhecidíssimo até dos plantadores de pinhais e outras monoculturas, tendentes a destruir a biodiversidade imprescindível.)
Segundo parece há quem prefira, dentro das instituições que deviam ser a vanguarda da evolução da espécie, do ambiente e da cultura ou das ideias, manter o status quo a contribuir com a sua dedicação, tempo, vantagem económica e inteligência para se desarreigar das práticas obsoletas, numa apologia ao erro, convictos assim de o tornarem menos erróneo só pelo facto de o fazer perdurar, popularizando-o inclusive, cuidando de alicerçar-se na sargentice, para justificar as suas práticas australopitecas. Tal como o comer à unha e à dentada, modo tradicional de usar o único talher que deus nos deu, tão válido antes como depois das propinas, insistem em reiterar as práticas de caserna medievais transpondo-as para os nossos dias, através daquilo que, no sufrágio da mandriice e do laxismo intelectual, é conhecido por praxes. Em vez de reivindicar o ensino gratuito, a melhoria de estruturas, técnicas como de conteúdos, equipamentos e quadros docentes, demonstrando à sociedade portuguesa quanto ganharia com isso, porquanto num futuro próximo as despesas orçamentais com a segurança social, a justiça, o parque prisional e segurança pública, a requalificação e formação profissional, a saúde e a cidadania, seriam bem menores do que actualmente são, desde que o nível de formação do povo português aumentasse, pondo-o em consonância com os níveis de desenvolvimento humano semelhantes aos dos países nórdicos, por exemplo.
Não se augura nada de bom para um país quando a sua classe estudantil abdica do seu papel reformador e se entrincheira nas surrobecas eclesiásticas para marcar a diferença com o povo que a sustenta. E muito menos quando ela se escora na tradição para manter no activo um passado inoperante, falacioso, estéril, que põe em risco a sustentabilidade nacional, quer na soberania como na identidade cultural, e nos remete para o fundo de todos os rankings de desenvolvimento, nomeadamente o da qualidade de vida.
Creio que é chegada a altura de os meninos deixarem de ir de burro para nascer. Sobretudo de se deixar de entender o conhecimento (diplomado ou não) como um Z para subir na escala social. A tradição, veículo assaz asnático de perenizar tudo, independentemente do seu valor, quer seja bom ou mau, desejável ou sociopata, é o único entrave para a aquisição de novas práticas, pelo que mantê-la quando desnecessária e prejudicial, se torna um crime de lesa democracia: institui patamares de diferença entre iguais, contrariando não só o espírito da Carta dos Direitos do Homem, como impondo pela força uma Lei que apenas não está escrita e aprovada por decreto, graças à sua universal insensatez e desumanidade.
Afiança a sabedoria popular, que é de experiência feita, que "o amor dos burros começa aos coices e acaba em cacos". O carocha do nazismo imperou pelas exigências das sociedades de produção e consumo, mas foi atirado para o ferro-velho com a implementação da sociedade de informação, que por sua vez gerou a do conhecimento e educação. Recolher os cacos desse amor asinino e vesti-los de preto, não é um factor de júbilo para ninguém, e antes um sinal de luto (nacional e europeu). Admoestar e excluir quem não lhe presta culto e vassalagem, um crime pelo qual o tempo, esse mesmo com que se tenta justificar a tradição, a breve trecho nos fará pagar. Caro. E com onerosas dívidas para gerações futuras, herança que perdurará como um código genético dos vencidos da modernidade.
Evoluir, crescer, é sobretudo contrariar e soltarmo-nos das amarras da tradicional miséria (deontológica, emocional, ética, imagética, cognitiva e económica) em que nascemos e estávamos. A mudança requer rupturas, cortes exímios com o passado, principalmente nos formatos em que ele se demonstrou ineficaz, abusivo, inútil e contraproducente à humanização da humanidade. A tradição académica, como todos os rituais guerreiros de iniciação e manutenção do espírito de caserna, monástico, de ordem e ordenança, é um deles: um formato que enfermiça e disforma qualquer formatura. Pôr-lhe fim, apenas o coup de grace, o golpe de misericórdia que a sua agonia suscita e implora de há muito. É lamentável que a beca da tradição, qual capa que outrora servia aos estudantes para lhe ocular a miséria franciscana, ou esconder e tapar o fato puído e remendado, sirva hoje para encapotar a miserabilidade do espírito estudantil, como uma tentativa de eternizar a praxis da sua ignorância. Não é concebível que alguém pretenda aprender e conhecer mais abrigando-se sob o capote da tradição, cuja é desde sempre, a subscrita reafirmação das ignorâncias. De todas elas, incluindo daquelas que se aprestam nas protecções de Drs.
1.20.2005
EXPOSIÇÃO DE CANTEIROS DE GÁFETE
de 1 a 14 de Fevereiro de 2005
Sem qualquer auxílio além da sua imaginação, boa vontade, ferramentas de trabalho, braços e fôlego, os canteiros de Gáfete, desde as infâncias remotas, tanto suas como da península ibérica, quiçá por vocação e necessidade, ousam transformar a pedra rude, áspera, milenar e rupestre, em formas raras, belas, exóticas, simbólicas, úteis e decorativas, dos nossos e de todos os tempos. Assim, o desafio a que a PROMETEU se propôs, foi tão somente o de dar a conhecer uma arte ancestral, iniciada no paleolítico mas que se manteve sempre a par do crescimento evolutivo do homo sapiens, que afinal se revelou pródigo, usando-a em marcações territoriais como em altares e objectos adstritos aos rituais religiosos, no fabrico de utensílios de uso comum, doméstico, pecuário e agrícola (gamelas, balaustres, pilastras, colunas, martelos, pesos, moedas, capitéis, fontes, pias, tulhas, arcas, celeiros, nichos, pilheiras, obeliscos, túmulos, etc.), como nos da caça, desportivos e bélicos (dardos, discos, pontas de lança e de setas, facas, machados, maças, balas, etc.), ou na heráldica e estatuária divinas e profanas, através da "voz" dos seus intérpretes mais representativos da região, que não só a praticam com esmero e mestria, como igualmente são os seus dilectos devotos desde as célticas eras. Aliás, caso para dizer, que transformaram a pedra na coisa amada por virtude de tanto cinzelar, dando-nos dela a forma desejada para que todos a possamos admirar, numa apropriação da forma do soneto de Camões, já que a alma nos anda formatada pelos mesmos desígnios pátrios!...
António Louro Baptista, socialmente conhecido por "António Camilo", casado, com dois filhos, de 70 anos de idade, além de natural de Gáfete, onde também sempre residiu e aprendeu a profissão com os antigos mestres, é autor de vasta obra e continua a produzir laboriosamente as suas peças, que habitualmente vende e expõe em diversos certames da especialidade.
António Louro Zacarias, a quem os conterrâneos por afinidade à avó apelidam de António Teresa, viúvo, com dois filhos, de 76 anos de idade, exerce a profissão desde os 14, e embora tenha emigrado para a Suécia durante duas décadas, onde trabalhou numa fábrica de produção e montagem auto, bem como 18 meses na feitura de lancis e pavimentação, continua a trabalhar a pedra com criatividade e determinada desenvoltura.
Arlindo Carrilho Abreu, ex-encarregado de uma das maiores empresas do sector na região, de 60 anos e reformado por motivos de saúde, foi emigrante na Suiça em 1974/75, casado e com um filho, com obras espalhadas pelo Japão e Estados Unidos da América, exerceu a profissão de canteiro desde os treze anos, arte que terá aprendido com os antigos profissionais da região.
João Coelho Aires Garcia, fogueiro fabril em pré-reforma, natural de Gáfete mas residente em Portalegre, de 57 anos, divorciado e com duas filhas, iniciou-se como canteiro aos 12, profissão que exerceu até aos 26, e que terá aprendido sob os auspícios de seu pai, também profissional de renome, a quem se devem alguns exemplares expostos nesta cidade, inclusive o escudo heráldico do Banco Pinto Sotto Mayor, na sua ex-sede à da Rua 19 de Junho.
Joaquim do Crato, nome pelo qual é familiarmente conhecido Joaquim Baptista Garcia, viúvo, com quatro filhos, 3ª Classe de escolaridade, começou na profissão de canteiro aos 18 e, embora a tenha igualmente exercido na região da Beira Alta, nomeadamente em Freixedas, de 1970 a 1978, sempre residiu em Gáfete onde nasceu há 78 anos.
Outro Canteiro de Gáfete, cuja obra já foi por diversas vezes exposta e onde se evidenciou a sua exímia expressividade globalista, de motivos religiosos, naturais e artísticos, singularmente cinzelados.
Viriato Mafaldo, a quem se deve a autoria do símbolo ou brasão no posto da antiga Guarda Fiscal de Portalegre, ao Bonfim, tem 79 anos e trabalha na arte de canteiro desde os 11. Casado, com dois filhos, sempre residiu em Gáfete onde foi empresário do sector, pelo que chegou a ter várias pessoas a trabalhar por sua conta, disseminando a cantaria por diversas regiões portuguesas.
Para trabalhar as diferentes pedras, das variedades presentes nesta exposição (v.g. o granito amarelo de Gáfete, o azul de Alpalhão, o negro de Arronches, mármore, impala e calcário), não mais foram precisas que as tradicionais ferramentas de sempre, como a maceta, o ponteiro, o escopro, os palhetes, as brocas, a picola ou bojarda, e os esquadros, num verdadeiro hino à ancestralidade, gizando futuras formas em matérias tão antigas como a própria Terra. Talvez muitos dos seus segredos tenham assim sido desvendados... mas, do que não restam dúvidas, é que outros tantos foram forjados em seu lugar, nesse rendilhar constante e agreste de um suporte que só com o poder de enorme persistência, mestria e engenho se pode enfim domar, extorquindo-lhe a ganga bruta até delinear a beleza diamantina prevista (e desejada).
A inauguração, que decorrerá dia 1, terça-feira, pelas 18 horas, constará de um momento musical com António Eustáquio (guitarra portuguesa) e Miguel Monteiro (guitarra clássica), e beberete.
de 1 a 14 de Fevereiro de 2005
Sem qualquer auxílio além da sua imaginação, boa vontade, ferramentas de trabalho, braços e fôlego, os canteiros de Gáfete, desde as infâncias remotas, tanto suas como da península ibérica, quiçá por vocação e necessidade, ousam transformar a pedra rude, áspera, milenar e rupestre, em formas raras, belas, exóticas, simbólicas, úteis e decorativas, dos nossos e de todos os tempos. Assim, o desafio a que a PROMETEU se propôs, foi tão somente o de dar a conhecer uma arte ancestral, iniciada no paleolítico mas que se manteve sempre a par do crescimento evolutivo do homo sapiens, que afinal se revelou pródigo, usando-a em marcações territoriais como em altares e objectos adstritos aos rituais religiosos, no fabrico de utensílios de uso comum, doméstico, pecuário e agrícola (gamelas, balaustres, pilastras, colunas, martelos, pesos, moedas, capitéis, fontes, pias, tulhas, arcas, celeiros, nichos, pilheiras, obeliscos, túmulos, etc.), como nos da caça, desportivos e bélicos (dardos, discos, pontas de lança e de setas, facas, machados, maças, balas, etc.), ou na heráldica e estatuária divinas e profanas, através da "voz" dos seus intérpretes mais representativos da região, que não só a praticam com esmero e mestria, como igualmente são os seus dilectos devotos desde as célticas eras. Aliás, caso para dizer, que transformaram a pedra na coisa amada por virtude de tanto cinzelar, dando-nos dela a forma desejada para que todos a possamos admirar, numa apropriação da forma do soneto de Camões, já que a alma nos anda formatada pelos mesmos desígnios pátrios!...
António Louro Baptista, socialmente conhecido por "António Camilo", casado, com dois filhos, de 70 anos de idade, além de natural de Gáfete, onde também sempre residiu e aprendeu a profissão com os antigos mestres, é autor de vasta obra e continua a produzir laboriosamente as suas peças, que habitualmente vende e expõe em diversos certames da especialidade.
António Louro Zacarias, a quem os conterrâneos por afinidade à avó apelidam de António Teresa, viúvo, com dois filhos, de 76 anos de idade, exerce a profissão desde os 14, e embora tenha emigrado para a Suécia durante duas décadas, onde trabalhou numa fábrica de produção e montagem auto, bem como 18 meses na feitura de lancis e pavimentação, continua a trabalhar a pedra com criatividade e determinada desenvoltura.
Arlindo Carrilho Abreu, ex-encarregado de uma das maiores empresas do sector na região, de 60 anos e reformado por motivos de saúde, foi emigrante na Suiça em 1974/75, casado e com um filho, com obras espalhadas pelo Japão e Estados Unidos da América, exerceu a profissão de canteiro desde os treze anos, arte que terá aprendido com os antigos profissionais da região.
João Coelho Aires Garcia, fogueiro fabril em pré-reforma, natural de Gáfete mas residente em Portalegre, de 57 anos, divorciado e com duas filhas, iniciou-se como canteiro aos 12, profissão que exerceu até aos 26, e que terá aprendido sob os auspícios de seu pai, também profissional de renome, a quem se devem alguns exemplares expostos nesta cidade, inclusive o escudo heráldico do Banco Pinto Sotto Mayor, na sua ex-sede à da Rua 19 de Junho.
Joaquim do Crato, nome pelo qual é familiarmente conhecido Joaquim Baptista Garcia, viúvo, com quatro filhos, 3ª Classe de escolaridade, começou na profissão de canteiro aos 18 e, embora a tenha igualmente exercido na região da Beira Alta, nomeadamente em Freixedas, de 1970 a 1978, sempre residiu em Gáfete onde nasceu há 78 anos.
Outro Canteiro de Gáfete, cuja obra já foi por diversas vezes exposta e onde se evidenciou a sua exímia expressividade globalista, de motivos religiosos, naturais e artísticos, singularmente cinzelados.
Viriato Mafaldo, a quem se deve a autoria do símbolo ou brasão no posto da antiga Guarda Fiscal de Portalegre, ao Bonfim, tem 79 anos e trabalha na arte de canteiro desde os 11. Casado, com dois filhos, sempre residiu em Gáfete onde foi empresário do sector, pelo que chegou a ter várias pessoas a trabalhar por sua conta, disseminando a cantaria por diversas regiões portuguesas.
Para trabalhar as diferentes pedras, das variedades presentes nesta exposição (v.g. o granito amarelo de Gáfete, o azul de Alpalhão, o negro de Arronches, mármore, impala e calcário), não mais foram precisas que as tradicionais ferramentas de sempre, como a maceta, o ponteiro, o escopro, os palhetes, as brocas, a picola ou bojarda, e os esquadros, num verdadeiro hino à ancestralidade, gizando futuras formas em matérias tão antigas como a própria Terra. Talvez muitos dos seus segredos tenham assim sido desvendados... mas, do que não restam dúvidas, é que outros tantos foram forjados em seu lugar, nesse rendilhar constante e agreste de um suporte que só com o poder de enorme persistência, mestria e engenho se pode enfim domar, extorquindo-lhe a ganga bruta até delinear a beleza diamantina prevista (e desejada).
A inauguração, que decorrerá dia 1, terça-feira, pelas 18 horas, constará de um momento musical com António Eustáquio (guitarra portuguesa) e Miguel Monteiro (guitarra clássica), e beberete.
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
EXAME EXTRAORDINÁRIO DE AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR/2005 (AD HOC )
Decorre de 1 a 15 de Fevereiro de 2005, o prazo de inscrição para o exame extraordinário de avaliação de capacidade para acesso ao ensino superior, conhecido como exame ad hoc.
O exame tem como objectivo possibilitar o ingresso no ensino superior aos estudantes que, não estando habilitados com um curso secundário ou equivalente (12º ano) e sendo maiores de 25 anos, mostrem possuir conhecimentos, capacidade e maturidade indispensáveis à frequência de um curso superior.
Este exame é a oportunidade para quem a não teve, de prosseguir estudos ou adquirir um curso de grau superior.
Todas as informações podem ser obtidas no Gabinete de Acesso ao Ensino Superior no Centro de Área Educativa do Alto Alentejo, sito na Avª. de Santo António, nº 18, Edifício Plátano IV, em Portalegre ou através dos telefones nº 245307320/33.
EXAME EXTRAORDINÁRIO DE AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR/2005 (AD HOC )
Decorre de 1 a 15 de Fevereiro de 2005, o prazo de inscrição para o exame extraordinário de avaliação de capacidade para acesso ao ensino superior, conhecido como exame ad hoc.
O exame tem como objectivo possibilitar o ingresso no ensino superior aos estudantes que, não estando habilitados com um curso secundário ou equivalente (12º ano) e sendo maiores de 25 anos, mostrem possuir conhecimentos, capacidade e maturidade indispensáveis à frequência de um curso superior.
Este exame é a oportunidade para quem a não teve, de prosseguir estudos ou adquirir um curso de grau superior.
Todas as informações podem ser obtidas no Gabinete de Acesso ao Ensino Superior no Centro de Área Educativa do Alto Alentejo, sito na Avª. de Santo António, nº 18, Edifício Plátano IV, em Portalegre ou através dos telefones nº 245307320/33.
1.04.2005
NA COMPANHIA DO MAR
À beira da areia, entre o oceano e o som
O vidro de matosinhos emoldura azuis
Atenta e discretamente azuis escutam o to
Os olhos, a blusa de gola alta, o sorriso inteiro
Livre, amplo, arrebitado de aberto.com
O kispo branco, as mãos pequenas sereias
Da noite a fazer-se pura em ondulados de mulher
E a ditar-nos que o futuro é o que for preciso
Para ter um mundo assim: do tamanho dum sorriso
Que se quer – assim, perdido em mim de crer
Em nenhum outro nem qualquer!
Foram-se as francesinhas há pouco
Esbatidas no caldo verde louco
Com água dos mortos e tosta,
Mas eis que o sinal do rosto
É padrão a marcar o gosto
De descobrir ternura a dar à costa...
Praia Passeio do Atlântico
07.11.04 – 01:12 horas
AO ESCOAR DA NUVEM
Em Serrralves é fácil deixar escorrer o verde
Expandir-se em amarelos torrados
Pelas bruscas inversões na paleta da espera
Pão de trigo das mulheres de pastel perdidas
No Rego das alinhadas possessões trágicas
Queijo de nevoeiros nos jardins interrogadores.
Tu dizias a nave entre o verde e o azul
Caído num outono magoado por estações confundidas.
Eu era apenas o imaginado de serviço
No pousar da folha sobre o terraço
A corroer o ritmo aos minutos da brisa soalheira,
A apontar o dedo ao esquecimento da partida
Colorindo desmaiadas vozes na clepsidra
Dum toque que decepava realidades...
Mesas de taberna com cadeiras de lona
À realizador sentadas sobre a arquitectura da tarde.
Foi um filme... Somente uma história de dor
A rodar para os gerêses de jamais!
AO AZUL DO AZUL DO OLHA(MA)R
(Paisagem com rosto, ou alucinação sobre a água
fervente num pôr do sol de Foz domingueira...)
Olha as gaivotas ali linhas de voo
O seu corte pontiagudo no diamantino céu
E cristal também plácido espelho
Das águas chispando (a)deuses.
Podes pedir-lhe a calma da tarde
Que não te recusarão o destino,
Porquanto é o corpo quem parte
Mas ficando nelas o olhar menino
Deste silêncio, líquido definido
Mascando ênfase no sonho corrompido
Pelo coração em sobressalto desatino
Com a vida e seus traidores reveses,
Que nos concede sempre o que às vezes
Apenas acidente supomos no puro linho...
Não apetece ainda o escurecer.
Há caminhamantes na marginal!
Mas o soslaio do sol fisga a Pousada
E põe na grama verde a linha escalada
De romper as frestas aos molhes tristes
Nos olhos que aos olhos do Douro vistes!
Pousada da Juventude, Porto
07.11.04 – 16:30 horas
ENIGMA DA GIOCONDA
Não tens nada para me dar
Que preste; nem felicidade sequer...
És a morte, o desejo a apagar
A peste, num sorriso de mulher!
MATEMÁTICAS DE MENTIRA E MISTÉRIO
Pela penumbra das pálpebras
Descaídas em desvãos de sono,
A bela cigana das ilhas, sem dono
Escorre na languidez das puras álgebras.
São restos de um grotesco diploma
O de percorrer a noite de bar em bar,
À procura do Zé-Ninguém ideal...
A pronúncia descai-lhe da boca insonsa
Num pútrido oco impróprio e venal
Com que se adorna o gesto no (f)acto de falar.
Porém, atentas as demais escutam
Postas nos recatos silenciosos dos vagares
Simples, inúteis, com a futilidade dos ares
De quem se esmera nas insignificâncias que calam!
À beira da areia, entre o oceano e o som
O vidro de matosinhos emoldura azuis
Atenta e discretamente azuis escutam o to
Os olhos, a blusa de gola alta, o sorriso inteiro
Livre, amplo, arrebitado de aberto.com
O kispo branco, as mãos pequenas sereias
Da noite a fazer-se pura em ondulados de mulher
E a ditar-nos que o futuro é o que for preciso
Para ter um mundo assim: do tamanho dum sorriso
Que se quer – assim, perdido em mim de crer
Em nenhum outro nem qualquer!
Foram-se as francesinhas há pouco
Esbatidas no caldo verde louco
Com água dos mortos e tosta,
Mas eis que o sinal do rosto
É padrão a marcar o gosto
De descobrir ternura a dar à costa...
Praia Passeio do Atlântico
07.11.04 – 01:12 horas
AO ESCOAR DA NUVEM
Em Serrralves é fácil deixar escorrer o verde
Expandir-se em amarelos torrados
Pelas bruscas inversões na paleta da espera
Pão de trigo das mulheres de pastel perdidas
No Rego das alinhadas possessões trágicas
Queijo de nevoeiros nos jardins interrogadores.
Tu dizias a nave entre o verde e o azul
Caído num outono magoado por estações confundidas.
Eu era apenas o imaginado de serviço
No pousar da folha sobre o terraço
A corroer o ritmo aos minutos da brisa soalheira,
A apontar o dedo ao esquecimento da partida
Colorindo desmaiadas vozes na clepsidra
Dum toque que decepava realidades...
Mesas de taberna com cadeiras de lona
À realizador sentadas sobre a arquitectura da tarde.
Foi um filme... Somente uma história de dor
A rodar para os gerêses de jamais!
AO AZUL DO AZUL DO OLHA(MA)R
(Paisagem com rosto, ou alucinação sobre a água
fervente num pôr do sol de Foz domingueira...)
Olha as gaivotas ali linhas de voo
O seu corte pontiagudo no diamantino céu
E cristal também plácido espelho
Das águas chispando (a)deuses.
Podes pedir-lhe a calma da tarde
Que não te recusarão o destino,
Porquanto é o corpo quem parte
Mas ficando nelas o olhar menino
Deste silêncio, líquido definido
Mascando ênfase no sonho corrompido
Pelo coração em sobressalto desatino
Com a vida e seus traidores reveses,
Que nos concede sempre o que às vezes
Apenas acidente supomos no puro linho...
Não apetece ainda o escurecer.
Há caminhamantes na marginal!
Mas o soslaio do sol fisga a Pousada
E põe na grama verde a linha escalada
De romper as frestas aos molhes tristes
Nos olhos que aos olhos do Douro vistes!
Pousada da Juventude, Porto
07.11.04 – 16:30 horas
ENIGMA DA GIOCONDA
Não tens nada para me dar
Que preste; nem felicidade sequer...
És a morte, o desejo a apagar
A peste, num sorriso de mulher!
MATEMÁTICAS DE MENTIRA E MISTÉRIO
Pela penumbra das pálpebras
Descaídas em desvãos de sono,
A bela cigana das ilhas, sem dono
Escorre na languidez das puras álgebras.
São restos de um grotesco diploma
O de percorrer a noite de bar em bar,
À procura do Zé-Ninguém ideal...
A pronúncia descai-lhe da boca insonsa
Num pútrido oco impróprio e venal
Com que se adorna o gesto no (f)acto de falar.
Porém, atentas as demais escutam
Postas nos recatos silenciosos dos vagares
Simples, inúteis, com a futilidade dos ares
De quem se esmera nas insignificâncias que calam!
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La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Onde a liquidez da água livre
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